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Outros laboratórios

Peça encenada por alunos de graduação do IA é premiada em festival no Marrocos

ÁLVARO KASSAB

Cenas de Hay Amor: Douglas Rodrigues Novaes, Carolina Martins Delduque e Maíra Barbosa (Fotos: Luísa Pessoa)A peça Hay Amor, criação coletiva de final de curso de alunos de graduação do Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes (IA), acaba de ser premiada no 14º Festival Internacional de Teatro Universitário de Agadir, no Marrocos. Dirigido pela professora Verônica Fabrini, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Artes, o espetáculo é ancorado fortemente na pesquisa, característica que não apenas tornou-se uma espécie de marca registrada dos trabalhos da unidade, como também vem projetando alunos – e suas experimentações – oriundos do IA na cena teatral brasileira.
 
No caso de Hay Amor, que arrebatou os grandes prêmios do festival e do júri, a pesquisa teve início nos laboratórios vocais feitos pelos atores, investigando canções românticas brasileiras. Mas como traduzir esse jeito brasileiro de falar e agir no amor para uma cultura tão diferente?A tarefa não era das mais fáceis. O Marrocos, lembra Verônica Fabrini, é um país cujos costumes e as relações interpessoais são regidas por códigos muito diferentes dos nossos, apesar de o amor, mote da peça, ser um tema universal.

Maíra Barbosa CoutinhoAdemais, a língua apresentava-se como uma barreira intransponível. A saída foi dar o recado em francês (segundo idioma do país), espanhol e árabe (língua oficial). “A gente comprou a ideia”, afirma Verônica, referindo-se ao fato de a trupe encenar, em idioma nativo, momentos cruciais e o “coração da peça”. “Esse cuidado valeu a pena. Para a plateia – algo em torno de 400 pessoas –, falar do amor como uma relação interpessoal não deixou de ser uma coisa revolucionária – e, para nós, era um clichê! Falar de um jeito nosso, mas numa língua deles, foi fundamental. A empatia foi imediata. Foi uma experiência fundamental. Hay Amor não é mais o mesmo espetáculo, depois dessa viagem”.

Para se fazer entender, prossegue Verônica, a trupe dispensou um cuidado especial aos laboratórios direcionados à fala, atentando para a duração de cada vogal, para a maneira de se articular e à ênfase de cada palavra, prestando atenção em como isso ocorria na fala do brasileiro, no francês e no espanhol, mas principalmente no árabe, no qual a musicalidade da língua é fundamental na construção do sentido.

Clarissa Nogueira Moser“Sabíamos que a cultura marroquina é muito diferente, mas desconhecíamos sua dimensão. Depois da peça, todas essas diferenças acabaram sendo construtivas, pois foram pontos de comunicação entre o grupo, a platéia e os estudantes de artes de outros países. Discutimos não só o processo artístico mas também o amor”, corrobora Gustavo Valezi, um dos atores do grupo Os Geraldos, responsável pela montagem juntamente com a La bruja, invencionices!, companhia que Verônica divide com o músico e compositor Silas de Oliveira, diretor musical de Hay Amor.

O grupo no teatro onde foi apresentada a peça: plateia de 400 pessoasVerônica revela que o grupo permaneceu atento, nos seis meses de preparação do espetáculo, aos códigos sociais que estão em jogo nas relações de flerte e namoro. Pensando em como isso, que é tão particular de uma determinada cultura, seria recebido pelo público marroquino, observa: “É óbvio que a relação homem-mulher é universal. Entretanto, a ritualização desse comportamento está condicionada ao lugar, à cultura. O mais gratificante foi constatar que os marroquinos tiveram, por meio dos códigos ocidentais – e brasileiros – sensações, sentimentos, dúvidas e excitações bastante parecidos com os nossos”. A diretora da peça atribui essa identificação à abertura e à energia propiciadas pela linguagem teatral. “Ela tem o condão de mostrar o que está vibrando, seja na identificação ou no estranhamento. E, no amor, os códigos também são assim”.

A professora Verônica Fabrini, diretora da peça: ligação entre produção artística e pesquisa acadêmica (Foto: Antoninho Perri)A diretora defende a tese de que quanto mais “local” você for, mais universal vai ser a mensagem. Entre as pesquisas para a concepção do espetáculo, Verônica destaca as entrevistas de rua no centro de Campinas, às vésperas do Dia dos Namorados, as conversas em asilos, na porta das escolas, e o trabalho desenvolvido por Silas de Oliveira, estudante de mestrado do IA. Tanto na reprodução – nada esquemática – dos diálogos colhidos, como na esfera musical, a trupe recorreu a soluções híbridas, sem desprezar elementos como o nonsense e o lugar-comum, típicos de qualquer relação amorosa. A trilha sonora do espetáculo, por exemplo, reunia bossa nova e uma canção marroquina interpretada por uma cantora que é ícone local da dor-de-cotovelo.

Pesquisas
O elenco no palco: Clarissa Nogueira Moser, Douglas Rodrigues Novaes, Júlia Cavalcanti Santos, Maíra Barbosa Coutinho, Carolina Martins Delduque, Gisele Alves Nunes e Gustavo Valezi Veloso (Foto: Divulgação)Na opinião da docente, a premiação recebida pelo elenco de Hay Amor é conseqüência do alto nível do curso de graduação, enriquecido pelas pesquisas desenvolvidas da iniciação científica à pós-graduação, da qual é coordenadora. Segundo Verônica, esse movimento intensificou-se nos últimos cinco anos. “As coisas mudaram muito. Os professores sabem que o conhecimento, especialmente em arte, é extremamente dinâmico. Nesse sentido, graduação e pós-graduação estão constantemente se contagiando, sempre se enriquecendo pelo aprofundamento das pesquisas desenvolvidas dentro e fora da sala de aula”. Hay Amor, por exemplo, é parte de um projeto de pesquisa apoiado pela Fapesp e coordenado pela professora Sara Lopes, cujo eixo central é a dinâmica da relação do ator com o texto falado em cena.        

Esse cenário, prossegue Verônica, fortalece o desenvolvimento de um ambiente de investigação que se estende além dos muros da Universidade, como por exemplo a cena teatral de qualidade – e de vanguarda – da Vila Santa Izabel, reduto de produções e festivais que apostam na diversidade e na experimentação. Tal movimento, iniciado com “Tem Cena na Vila” em 2001 e consolidado com o “Feverefestival”, vem promovendo intensa troca entre artistas e pesquisadores, tanto nacional como internacionalmente. O movimento teatral da Vila em Barão Geraldo foi tema da dissertação de mestrado do jornalista Valmir Santos, apresentada este mês, na Escola de Comunicação e Artes da USP.

“Trata-se de um movimento muito articulado. A pós-graduação em artes vem colaborando com o amadurecimento dos grupos, oferecendo espaço de troca e contágio entre produção artística e pesquisa acadêmica. Tanto dentro da Unicamp como em grupos que passaram por ela, existe uma ligação muito forte entre a pesquisa e produção artística”, afirma a professora, destacando que, na área, “nossa produção não resulta prioritariamente em artigos ou livros. Nossa principal publicação é o espetáculo. E se os prêmios vão se acumulando, deve ser por isso”.

Não à toa, Verônica recebeu um convite para se apresentar na Tunísia, em agosto (com Hay Amor) e está de malas prontas para Moscou. Ela embarca dia 24 de maio, junto com a Boa Companhia – formada por alunos da pós e professores do Departamento de Artes Cênicas –, para apresentar a premiada peça PRIMUS, da qual assina a direção, em um festival voltado à produção teatral de pós-graduação. PRIMUS, que completa dez anos este ano, foi tema de mestrado e doutorado de quatro alunos. Já no mês de julho, a professora Alice K., também do Departamento de Artes Cênicas, leva o espetáculo Pérola, com sua direção, ao Festival de Teatro de Évora, Portugal. Acompanhando esse fluxo entre criação, pesquisa e formação profissional, os 16 professores do Departamento de Artes Cênicas realizam, no próximo dia 21, a  I Jornada Interna de Pesquisa em Artes Cênicas.

 
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