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Distante dos estereótipos
Livro aborda potencial
da educação a distância no ensino superior
O professor Reginaldo de Moraes, do Instituto de Filosofia
e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, acaba de lançar o
livro Educação a Distância e Ensino Superior: introdução
didática a um tema polêmico, pela Editora Senac. Em suas
120 páginas, a publicação oferece elementos para a compreensão
das polêmicas sobre a educação a distância ao apresentar
experiências antigas e recentes em vários países, apresentando
formas diferentes de organização do ensino. Com foco no
ensino superior, a abordagem adotada pelo autor se distancia
de visões estereotipadas que endeusam ou satanizam as novas
práticas de ensino. Para ele, não se pode ignorar a possibilidade
de problemas, mas é preciso olhar também para a potencialidade.
De acordo com Moraes, a repetição
de erros, muitas vezes amplificada entre as pessoas que se
posicionam contra, deve-se à falta de relatos sobre experiências
bem-sucedidas na área de ensino a distância. Muitas instituições
acabam se espelhando em iniciativas que desenvolveram material
de baixa qualidade. É a mesma falta de relatos que também
suscita discursos equivocados sobre as práticas alternativas
e provoca a resistência por parte das universidades públicas.
É esta lacuna de informações que Moraes pretende preencher
ao apresentar iniciativas como da Universidade Nacional de
Ensino a Distância (Uned) da Espanha e da Universidade Aberta
(UAb), de Portugal. O autor do livro explica que, ao contrário
do que muitos pregam, a EaD pode ter como aspectos positivos
a capacidade de difundir inovações, propor uma nova cultura
e revelar e desenvolver talentos. “Os bons resultados não
eram difundidos. Por isso senti a necessidade de mostrar que
existem tanto experiências boas quanto ruins”.
Conforme o livro, experiências
de instituições exclusivamente dedicadas à EaD (dual mode)
mostram que a nova forma de ensino não apenas amplia oportunidades
para indivíduos e grupos sociais prejudicados pelo ritmo de
vida e trabalho, mas potencializa a educação como fator de
desenvolvimento.
O preconceito de algumas instituições,
na opinião do autor, também dá margem para que instituições
sem credibilidade implantem cursos de EaD com infra-estrutura
e material didático de baixa qualidade com base em interesses
comerciais. A falta de iniciativas na rede pública deixa campo
aberto para o que ele chama de “expansão selvagem” do setor
privado, o que acaba ampliando o número de experiências ruins.
Na sua opinião, conteúdos de ensino-aprendizagem poderiam
ser produzidos por organizações do setor público, que poderiam
intervir por meio da formação de professores, tutores e especialistas
de mídia; produção de material instrucional básico, estratégico
e de longa duração, como CDs, livro-texto, softwares, guias
de estudo e vídeos; programas de estímulo e regulação; certificação
e uma rede de informações.
Entre
tantos julgamentos equivocados, Moraes diz que é preciso
ver a EaD com mais realismo para reconhecer seu papel na geração
do desenvolvimento social e da própria educação, presencial
ou não. Ele acredita que, pela própria definição, a EaD
já se põe no terreno do novo e da transgressão e por isso
adquire uma espécie de direito natural ao erro, mas, por
outro lado, tem permissão para ousar na inovação de recursos,
como métodos, materiais e procedimentos. Alguns desses recursos,
segundo o autor, migram em seguida para o ensino presencial,
sugerindo formas de organização. “Esse é um aspecto para
o qual devem estar atentas as instituições tradicionais,
para criar novos modos de organizar o ensino e a aprendizagem
em consonância com os desafios da ‘massificação’ e
da preservação da qualidade”, acrescenta.
Interação
As boas práticas da Uned e
da UAb, analisadas no livro, mostram que o sucesso depende
de como as instituições se estruturam. Em entrevistas realizadas
com representantes dessas universidades, o autor observou
que as dificuldades de interação se mostram diminuídas pelo
uso mais intensivo de novas tecnologias, atualmente barateadas.
A atualização e a regionalização da oferta de cursos podem
ser obtidas por meio da constituição de redes de parcerias
e equipes flexíveis, na opinião de Moraes. Para ele, a regulação,
a produção de material didático, a infra-estrutura e a formação
de profissionais são pontos nodais para o sucesso do sistema.
Para Moraes, vários fatores
relacionados a mudanças sociais levam à necessidade de novas
formas de ensino. Entre essas mudanças, ele aponta o aumento
da expectativa de vida, que leva o indivíduo a buscar meios
de atualização profissional. “Associado a mudanças econômicas,
tecnológicas e organizacionais, esse fator torna cada vez
mais importante a educação ao longo da vida, a formação permanente
ou a educação contínua”, considera o autor. A nova expectativa
altera a forma com que o indivíduo se relaciona com a sociedade,
o trabalho e a escola e, diante disso, a educação tem que
se transformar e buscar meios para atender pessoas de diferentes
faixas etárias, inclusive adequando-se ao tempo dos alunos.
É neste sentido que a educação a distância busca trabalhar
há muitos anos, quando nem existia internet, para dar provisão
a quem não tem tempo para frequentar aulas presenciais.
Moraes lembra que a educação
a distância antecede o avanço tecnológico, atendendo seus
alunos por correspondência ou rádio, desde 1960, com a criação
da Open University, na Inglaterra. Longe de pensar numa comunicação
em tempo real, a instituição produzia programas de TV, em
parceria com a BBC. Algumas produções foram compradas e traduzidas
pela TV Cultura e atualmente são utilizadas pela TV Univesp
da Secretaria do Ensino Superior do Estado de São Paulo. A
Uned da Espanha, fundada em 1973, período também anterior
à internet, hoje conta com 200 mil estudantes, 10% do ensino
superior da Espanha. A instituição está entre as sete primeiras
em produção científica no país.
No livro, o autor lista alguns
argumentos favoráveis à construção de centros específicos
para assuntos de EAD em instituições tradicionais. Essas unidades,
segundo Moraes, podem fomentar a criação de regras e difundir
fórmulas para organizar e gerenciar cursos e recursos em EaD,
criando um canal de comunicação com a administração da universidade.
Dentre os benefícios, os centros podem estimular docentes
a ingressar em atividades de EaD, apoiando a estruturação
de cursos e bolsas específicas para alunos que participem
da montagem e da monitoria. Além disso, caberia aos centros
gerir recursos e oferecer apoio técnico e base material, como
a atualização de computadores, fornecendo recursos para videoconferência,
material bibliográfico, redes de comunicação (rádio e tevê),
além de promover a interação entre os diferentes projetos
na área.
SERVIÇO
Obra: Educação a Distância e Ensino
Superior: introdução didática a um tema polêmico
Autor: Reginaldo de Moraes
Páginas: 120
Editora: Senac
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