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Distante dos estereótipos

Livro aborda potencial da educação a distância no ensino superior

Para o autor do livro, a EaD pode ter como aspectos positivos a capacidade de difundir inovações, propor uma nova cultura e revelar talentos (Foto: Antoninho Perri) O professor Reginaldo de Moraes, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, acaba de lançar o livro Educação a Distância e Ensino Superior: introdução didática a um tema polêmico, pela Editora Senac. Em suas 120 páginas, a publicação oferece elementos para a compreensão das polêmicas sobre a educação a distância ao apresentar experiências antigas e recentes em vários países, apresentando formas diferentes de organização do ensino. Com foco no ensino superior, a abordagem adotada pelo autor se distancia de visões estereotipadas que endeusam ou satanizam as novas práticas de ensino. Para ele, não se pode ignorar a possibilidade de problemas, mas é preciso olhar também para a potencialidade.

De acordo com Moraes, a re­petição de erros, muitas vezes am­plificada entre as pessoas que se posicionam contra, deve-se à falta de relatos sobre experiências bem-sucedidas na área de ensino a distância. Muitas instituições acabam se espelhando em iniciativas que desenvolveram material de baixa qualidade. É a mesma falta de relatos que também suscita discursos equivocados sobre as práticas alternativas e provoca a resistência por parte das universidades públicas. É esta lacuna de informações que Moraes pretende preencher ao apresentar iniciativas como da Universidade Nacional de Ensino a Distância (Uned) da Espanha e da Universidade Aberta (UAb), de Portugal. O autor do livro explica que, ao contrário do que muitos pregam, a EaD pode ter como aspectos positivos a capacidade de difundir inovações, propor uma nova cultura e revelar e desenvolver talentos. “Os bons resultados não eram difundidos. Por isso senti a necessidade de mostrar que existem tanto experiências boas quanto ruins”.

Conforme o livro, experiências de instituições exclusivamente dedicadas à EaD (dual mode) mostram que a nova forma de ensino não apenas amplia oportunidades para indivíduos e grupos sociais prejudicados pelo ritmo de vida e trabalho, mas potencializa a educação como fator de desenvolvimento.

O preconceito de algumas instituições, na opinião do autor, também dá margem para que instituições sem credibilidade implantem cursos de EaD com infra-estrutura e material didático de baixa qualidade com base em interesses comerciais. A falta de iniciativas na rede pública deixa campo aberto para o que ele chama de “expansão selvagem” do setor privado, o que acaba ampliando o número de experiências ruins. Na sua opinião, conteúdos de ensino-aprendizagem poderiam ser produzidos por organizações do setor público, que poderiam intervir por meio da formação de professores, tutores e especialistas de mídia; produção de material instrucional básico, estratégico e de longa duração, como CDs, livro-texto, softwares, guias de estudo e vídeos; programas de estímulo e regulação; certificação e uma rede de informações.

O professor Reginaldo de Moraes: "É preciso ver a EaD com mais realismo".  (Foto: Antoninho Perri) Entre tantos julgamentos equivocados, Moraes diz que é preciso ver a EaD com mais realismo para reconhecer seu papel na geração do desenvolvimento social e da própria educação, presencial ou não. Ele acredita que, pela própria definição, a EaD já se põe no terreno do novo e da transgressão e por isso adquire uma espécie de direito natural ao erro, mas, por outro lado, tem permissão para ousar na inovação de recursos, como métodos, materiais e procedimentos. Alguns desses recursos, segundo o autor, migram em seguida para o ensino presencial, sugerindo formas de organização. “Esse é um aspecto para o qual devem estar atentas as instituições tradicionais, para criar novos modos de organizar o ensino e a aprendizagem em consonância com os desafios da ‘massificação’ e da preservação da qualidade”, acrescenta.

Interação

As boas práticas da Uned e da UAb, analisadas no livro, mostram que o sucesso depende de como as instituições se estruturam. Em entrevistas realizadas com representantes dessas universidades, o autor observou que as dificuldades de interação se mostram diminuídas pelo uso mais intensivo de novas tecnologias, atualmente barateadas. A atualização e a regionalização da oferta de cursos podem ser obtidas por meio da constituição de redes de parcerias e equipes flexíveis, na opinião de Moraes. Para ele, a regulação, a produção de material didático, a infra-estrutura e a formação de profissionais são pontos nodais para o sucesso do sistema.

Para Moraes, vários fatores relacionados a mudanças sociais levam à necessidade de novas formas de ensino. Entre essas mudanças, ele aponta o aumento da expectativa de vida, que leva o indivíduo a buscar meios de atualização profissional. “Associado a mudanças econômicas, tecnológicas e organizacionais, esse fator torna cada vez mais importante a educação ao longo da vida, a formação permanente ou a educação contínua”, considera o autor. A nova expectativa altera a forma com que o indivíduo se relaciona com a sociedade, o trabalho e a escola e, diante disso, a educação tem que se transformar e buscar meios para atender pessoas de diferentes faixas etárias, inclusive adequando-se ao tempo dos alunos. É neste sentido que a educação a distância busca trabalhar há muitos anos, quando nem existia internet, para dar provisão a quem não tem tempo para frequentar aulas presenciais.

Moraes lembra que a educação a distância antecede o avanço tecnológico, atendendo seus alunos por correspondência ou rádio, desde 1960, com a criação da Open University, na Inglaterra. Longe de pensar numa comunicação em tempo real, a instituição produzia programas de TV, em parceria com a BBC. Algumas produções foram compradas e traduzidas pela TV Cultura e atualmente são utilizadas pela TV Univesp da Secretaria do Ensino Superior do Estado de São Paulo. A Uned da Espanha, fundada em 1973, período também anterior à internet, hoje conta com 200 mil estudantes, 10% do ensino superior da Espanha. A instituição está entre as sete primeiras em produção científica no país.

No livro, o autor lista alguns argumentos favoráveis à construção de centros específicos para assuntos de EAD em instituições tradicionais. Essas unidades, segundo Moraes, podem fomentar a criação de regras e difundir fórmulas para organizar e gerenciar cursos e recursos em EaD, criando um canal de comunicação com a administração da universidade. Dentre os benefícios, os centros podem estimular docentes a ingressar em atividades de EaD, apoiando a estruturação de cursos e bolsas específicas para alunos que participem da montagem e da monitoria. Além disso, caberia aos centros gerir recursos e oferecer apoio técnico e base material, como a atualização de computadores, fornecendo recursos para videoconferência, material bibliográfico, redes de comunicação (rádio e tevê), além de promover a interação entre os diferentes projetos na área.

 

SERVIÇO

Obra: Educação a Distância e Ensino Superior: introdução didática a um tema polêmico

Autor
: Reginaldo de Moraes

Páginas
: 120

Editora
: Senac

 

 

 
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