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Reitoráveis debatem o ensino, a pesquisa
e as relações da Unicamp com a sociedade

Nesta e nas próximas quatro páginas, Fernando Costa e Gláucia Pastore expõem os principais pontos de seus programas sobre a política acadêmica da Universidade, a partir de perguntas formuladas pelo Jornal da Unicamp. Na pauta de debates, o ensino, a pesquisa, os desafios e as relações com a sociedade. A próxima edição do jornal, que circula no dia 9 de março, vai contemplar o programa administrativo dos candidatos.

 

 

DESAFIOS

Jornal da Unicamp – Em sua opinião, quais os principais desafios a serem enfrentados pela Unicamp, enquanto universidade pública, nos próximos anos? Como será possível superá-los?

 

Fernando Costa – Num mundo de mudança rápida de cenários, e num país com apenas três quartos de século de experiência efetivamente universitária, as ilhas de excelência – como é o caso da Unicamp – têm o papel fundamental não apenas de gerir exemplarmente a si mesmas mas também de servir de modelo e paradigma para a universidade pública como um todo. As universidades públicas estaduais paulistas representam hoje fator fundamental para o desenvolvimento do Brasil por meio da educação e da formação de pessoas, da pesquisa científica de elevada qualidade e da extensão de serviços à sociedade. O desafio institucional é, pois, o de manter e incrementar significativamente o padrão de qualidade da Unicamp para que em todas suas áreas de atuação ela tenha qualidade comparável à das melhores universidades do mundo. Nossa proposta tem como base fundamental a primazia dos valores acadêmicos em todas as esferas da vida universitária, a defesa da autonomia universitária como garantia do ensino público, gratuito e de qualidade, a responsabilidade social da universidade e a institucionalidade.

Nosso programa alinha ações que consolidam, ampliam e inovam em relação ao ensino de graduação e pós-graduação, à pesquisa, extensão e à gestão universitária. Nesse contexto, merece atenção o apoio importante ao papel fundamental da Universidade de educar e formar pessoas, o que também é hoje preocupação prioritária em todas as mais importantes universidades do mundo. O ensino de graduação será objeto de atenção prioritária, por meio de um conjunto de ações que incluem a reavaliação cuidadosa da estrutura curricular, ênfase nas características multidisciplinares e de formação abrangente do aluno e o estímulo à participação do docente na graduação por meio do incentivo à inovação e à atividade de excelência. E tanto no âmbito da graduação quanto da pós-graduação e da pesquisa, o aumento do intercâmbio nacional e internacional será objeto de ações institucionais concretas.

No que se refere à produção do conhecimento, propõe-se garantir o apoio institucional a grupos de pesquisa bem como a projetos individuais. Entre várias outras ações, destaca-se ainda a criação de uma política de atração dos mais qualificados docentes e pesquisadores, indispensável para o incremento da pesquisa de elevada qualidade em todas as áreas do saber.

No que diz respeito às relações com a sociedade, a preocupação com o aspecto formativo da atuação universitária se revela nas diversas propostas para in­crementar as ações de extensão co­munitária, os serviços de saúde e as relações produtivas da u­niversidade com empresas e órgãos governamentais.

Gláucia Pastore – A Unicamp já assume um papel de vanguarda no ensino, em muitas áreas de pesquisa e na prestação de serviços socialmente relevantes, no âmbito nacional e, em certos aspectos, mesmo no âmbito internacional. Isto é fruto do labor acumulado dos docentes, funcionários e alunos, desde sua fundação, sob distintas gestões. É fruto, por outro lado, da autonomia acadêmica, de que a Unicamp sempre gozou, e da autonomia administrativa, consagrada no artigo 207 da Constituição de 1988, e avançada, no que concerne às universidades estaduais paulistas, no Decreto Lei 29598 de fevereiro de 1989, conquistado pela luta das universidades.

Por assim entender, nosso programa declara como sendo nossos compromissos “elevar cada vez mais o nome da Unicamp, reiterando também sua importância e participação nos rumos da educação superior e da pesquisa nacional”, bem como “exercer e fortalecer a autonomia das universidades, buscando, junto ao Cruesp estabelecer gestões e ações que envolvam a comunidade e suas representações para o pleno exercício da autonomia”.

Ao mesmo tempo em que esta Universidade nos enche de orgulho, não ignoramos as frustrações e descontentamentos latentes entre docentes, funcionários e estudantes. Há tempo convivemos com a insuficiente substituição de docentes e funcionários, com a precarização das condições de contratação. Há tempo os funcionários clamam por um quadro de carreira mais justo e estimulador, tal como lhes parecia ser o quadro de carreira docente. Entretanto, a recente decretação do percentual máximo de docentes titulares correspondente a 35% do total, sobrepondo-se aos critérios de avaliação construídos pelas unidades, foi mais um rompimento das regras em que se assentava a carreira docente, da mesma forma que as duas reformas da previdência. Foi uma medida que introduziu cisões entre unidades mais ou menos afetadas, gerou desconfianças entre os docentes titulares e os que o não são, e passou a inocular, entre os que podem vir a ser titulares, um estilo de competição que retoma os tempos das cátedras.

Ora, o trabalho de levar a Unicamp à plena realização de sua missão de ensino, pesquisa e extensão é um esforço conjunto de todos, e deve ser fundamentado no entusiasmo dos docentes, funcionários e alunos.

Tendo em vista este duplo aspecto, entendemos que o principal desafio a ser enfrentado é o de combinar a preservação das conquistas com a análise dos impasses, das contradições, visando o enfrentamento destas angústias da comunidade unicampiana.

Por isto nosso slogan, “mudança com sensibilidade”. Esta palavra encerra o significado de muitas outras, revelando nossa intenção de manter o diálogo com todas as entidades de representação de docentes, funcionários e alunos, assim como de manter as portas abertas e os procedimentos claros, de forma que os canais de comunicação entre a Reitoria e docentes, funcionários e alunos sejam vias de duas direções. A imprensa e outros meios de divulgação institucionais da universidade deverão contribuir para que as discussões relevantes sejam levadas a toda comunidade. O objetivo é dar agilidade à realimentação de idéias, sugestões e críticas. A agilidade desse processo poderá contribuir para que as boas ideias passem do plano abstrato ao concreto, e sejam efetivamente implementadas. Também é nosso propósito aplicar métodos modernos de gestão ao planejamento estratégico (Planes), ampliando a participação da comunidade na sua discussão.

Na sequência, aspectos dos campi de Barão Geraldo, Limeira, FOP, Cotil, Cotuca e Ceset: reitoráveis apontam desafios para o próximo quadriênio (Fotos: Antoninho Perri) Outro desafio que está posto para a Universidade é a questão da crise econômica, que tende a impactar nosso orçamento, e que pode servir de escusa para novos ataques de retirada de direitos previdenciários. É nosso compromisso agir e lutar para que docentes e funcionários possam exercer suas carreiras sem preocupação com a hora da aposentadoria.

Neste aspecto, é importante lembrar a contribuição que nossa universidade vem dando ao estudo da crise e das políticas capazes de enfrentá-la, e que cabe estimular e promover. Esta é uma tarefa magna da responsabilidade social da Universidade, que inclui os nossos Institutos de Economia e de Filosofia e Ciências Humanas, mas estende-se a rigorosamente todas as áreas. Temos em desenvolvimento não só uma crise financeira, mas também uma crise energética, uma crise ambiental e uma crise civilizacional, que devem mobilizar toda nossa tradição de excelência acadêmica e científica.

Continua na página 4

 

 

 
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