Fernando Costa –
É fundamental enfatizar que nossa proposta contém um conjunto
expressivo e inovador de ações concernentes à graduação,
que, como já foi dito, é hoje preocupação de todas as grandes
universidades do mundo. A história da Unicamp e os dados
qualitativos e quantitativos disponíveis mostram que o nosso
ensino de graduação em todas as áreas está entre os melhores
do país. Contudo, não obstante os progressos constatados
ao longo dos últimos anos, ainda há muito o que fazer. Uma
das metas é investir no aspecto formativo dos estudos de
graduação com vistas a oferecer ao aluno a oportunidade
de obter uma formação cultural e científica ampla.
Um sério desafio é promover
uma análise da sua estrutura curricular dos cursos visando
não só a atualização dos conteúdos e disciplinas. A análise
do planejamento estratégico e da avaliação institucional
mostra alguns problemas que devem ser enfrentados. Entre
eles está a excessiva compartimentalização dos cursos e
das disciplinas, que dificulta a implantação de uma perspectiva
interdisciplinar, cada vez mais importante para a boa formação
científica e cultural dos estudantes.
A Unicamp possui experiência
considerável no intercâmbio de estudantes com universidades
estrangeiras, mas seu incremento é essencial para que a
Universidade propicie uma formação abrangente e de acordo
com as necessidades do mundo atual. Desse modo, nosso programa
contempla ações no sentido de atuar de maneira ativa para
aumentar o intercâmbio internacional de alunos de graduação,
como também dos alunos de pós-graduação e de professores.
Outras iniciativas previstas
são a criação de um Centro de Apoio ao Ensino – órgão que
se dedicará ao desenvolvimento de projetos que promovam
o aprendizado, incluindo a busca de inovações no processo
de ensino-aprendizagem – e o aprimoramento da infraestrutura
disponível para os cursos noturnos. Mas não só isso: temos
noção clara de que um conjunto amplo de medidas com o objetivo
de incentivar a participação inovadora e de excelência no
ensino de graduação é de fundamental importância.
Gláucia Pastore – Nosso programa explicita
a necessidade de fortalecer e valorizar a graduação, valorizando
o papel do professor em sala de aula. Esta linha geral se
concretiza em um conjunto de iniciativas, resumidas abaixo.
Em todos estes itens, cabe dar especial atenção ao campus
de Limeira, para que os novos cursos sejam implementados
e mantidos com qualidade e possam ter a garantia dos recursos
orçamentários previstos no acordo com o governo do Estado.
As iniciativas são: aperfeiçoar as políticas de permanência
estudantil que permitam igualar as condições de estudo e
aprendizado em diferentes realidades sociais, dando continuidade
e aperfeiçoando as experiências de políticas afirmativas;
promover, em conjunto com as Coordenações de Graduação,
a renovação de currículos e ementas e dos métodos pedagógicos
dos cursos de graduação, de modo a racionalizar a carga
horária dos alunos, evitar superposições de conteúdos e
modernizá-los à luz das tecnologias estabelecidas e de uma
visão do futuro das carreiras; promover discussão aprofundada
sobre expansão do ensino de graduação, seja por meio da
criação de novos cursos ou da revitalização dos já existentes;
adequar a infraestrutura física, visando a acessibilidade
às salas de aula e laboratórios de forma a promover o ensino
de excelência, com especial atenção à infraestrutura dos
cursos noturnos e bem-estar; implantar programas efetivos
de infraestrutura em todos os campi para promoção da acessibilidade
total, condição da cidadania plena; implantar um Sistema
de Informação de Gestão Acadêmica para maior transparência
e gerenciamento eficaz para as atividades de graduação e
pós-graduação; aprimorar e valorizar os Programas PAD e
de Iniciação Científica, que devem incorporar as atuais
bolsas trabalho, de forma a torná-las plenamente relacionadas
com as atividades-fim da Universidade; estimular a criação
de foros de discussão sobre ensino de graduação e da formação
de docentes e pesquisadores no cenário da multidisciplinaridade
e do mundo globalizado; e implantar mecanismos de maior
integração de alunos de graduação, a fim de estimular a
iniciação científica e iniciação profissional.
JU – Frequentemente se diz que as atividades de
ensino deveriam ser mais valorizadas. Qual é sua opinião
sobre isso e o que pretende fazer a respeito?
Fernando Costa – Os procedimentos objetivos
de avaliação da atividade docente em graduação são hoje
preocupação comum no ensino superior de todos os países.
Embora mais complexo do que a avaliação da produção cientifica,
a avaliação do desempenho docente na graduação é possível
e nossa proposta contempla a formação de grupos de trabalho
para analisar esse aspecto e propor soluções e ações que
contemplem a diversidade da atuação dos docentes na Universidade.
Assim, serão realizados seminários e fóruns onde experiências
de outras universidades, nacionais e internacionais, serão
discutidas para que uma proposta seja analisada de maneira
institucional. De fato, a experiência da Unicamp mostra
que após mais de duas décadas da implantação do Projeto
Qualidade a atuação do docente na graduação está sendo cada
vez mais considerada na avaliação das atividades docentes.
Nossa proposta amplia essa avaliação com o emprego de critérios
modernos e objetivos de modo a permitir que as atividades
inovadoras e de excelência na graduação possam ser características
relevantes na ascensão própria da carreira universitária.
Uma das formas de reconhecimento do mérito e também de
estímulo, que pretendemos estudar e propor aos órgãos institucionais
para deliberação, é a de criar premiações específicas para
realizações importantes e inovadoras no ensino de graduação.
Outra forma é estimular o registro dessa atividade na forma
de apoio à publicação de material didático, além da valorização
das publicações sobre ensino em periódicos indexados.
Gláucia Pastore – De fato há uma queixa,
já antiga, ao chamado “quantitativismo” dos critérios de
avaliação docente, entendido como a absolutização da quantidade
de publicações nesta avaliação, em detrimento de quaisquer
outros aspectos da atividade docente, como atenção à qualidade
de ensino, à organização de cursos, de laboratórios, etc.
Se o critério de avaliação por publicações é o mais valorizado
pelos órgãos de financiamento da pesquisa no país, a Universidade
pode e deve definir seus próprios critérios, valorizando
todos os aspectos da atividade docente que promovam o desenvolvimento
da própria Universidade.
Neste sentido, nosso programa explicita o propósito de
“aprimorar o processo de avaliação discente de disciplinas
da graduação e de pós-graduação, valorizando os indicadores
didático-pedagógicos na avaliação docente”.
JU – A pós-graduação da Unicamp é reconhecidamente
a melhor do país, como demonstram as sucessivas avaliações
da Capes. Qual será sua política para a pós?
Fernando Costa – Uma característica da
Unicamp, no que diz respeito ao ensino, é que o número de
alunos matriculados em cursos de pós-graduação é bastante
próximo do número de alunos matriculados em cursos de graduação.
Este dado, bastante raro entre as universidades brasileiras,
mostra a enorme importância da pesquisa e da pós-graduação
em nossa Universidade. Como exemplo, podemos destacar que
em 2007, nos seus 135 programas de pós-graduação, 1.140
alunos obtiveram o grau de mestre e 795 o grau de doutor.
Esses valores são significativos, mesmo em comparação com
grandes universidades internacionais.
O envolvimento dos pós-graduandos em todas as atividades
desenvolvidas no âmbito da Universidade é um elemento importante
na sua formação e será incentivado por meio da ampliação
dos programas existentes e da criação de novas oportunidades
de participação efetiva de estudantes no processo global
de pesquisa e ensino.
No que diz respeito ao desenvolvimento futuro da pós-graduação
na Unicamp, vamos atuar em algumas linhas prioritárias de
ação. A primeira visa continuar e ampliar o apoio institucional
aos programas que ainda não obtiveram conceitos de excelência
nas avaliações periódicas realizadas pela Capes. Uma segunda
linha é a necessidade de valorizar, manter e incrementar
os programas interdisciplinares.
A constante e destacada presença da Unicamp nos sistemas
de avaliação internacionais de universidades tem atraído
estudantes estrangeiros para nossos programas de pós-graduação.
Nesse sentido, um terceiro conjunto de ações estratégicas
voltadas para divulgação dos programas de pós-graduação
da Unicamp e atração de estudantes estrangeiros deve ser
implantado, de modo a estimular a vinda de estudantes de
outros países por meio de convênios bilaterais com ênfase
na pesquisa na fronteira do conhecimento e da celebração
de acordos que possibilitem regimes de co-tutela e dupla
titulação.
Ações deverão ser também implantadas no sentido de garantir
a representatividade da Unicamp nos comitês de agências
de fomento à pesquisa ou avaliação das atividades de pós-graduação
como a Capes.
Gláucia Pastore – Primeiramente, não podemos
deitar sobre os louros do que já foi conquistado. A pós-graduação
naturalmente imbrica ensino e pesquisa. Neste sentido, é
pertinente também à pós-graduação quase tudo que foi explicitado
no item anterior, referente ao ensino de graduação, bem
ao que será discutido nas questões referentes à pesquisa,
de número 6 a 9.
Cabe aqui mencionar especificamente para o caso da pós-graduação
a necessidade imprescindível de “trabalhar para ampliar
a quantidade de bolsas, junto às agências CNPq, Capes, Fapesp
e outras”.
Por outro lado, devemos incentivar a criação de novos cursos
de caráter multi-unidades para desenvolver novas temáticas
de pesquisa na fronteira do conhecimento.
JU – O que falta para que o ensino a distância
avance na Unicamp? Em sua opinião, em que áreas de ensino
o EAD será mais adequado (graduação, pós, ensino médio,
extensão)? Qual é seu projeto para essa modalidade de ensino?
Fernando Costa – Nos últimos anos a Unicamp
desenvolveu e aperfeiçoou vários materiais de ensino a distância
(EAD), tanto como apoio ao ensino presencial quanto para
o ensino a distância. Em todo o mundo a noção de que o EAD
desempenhará um papel importante no ensino superior parece
clara. Embora o ensino de graduação a distância já esteja
regulamentado no país, suas possibilidades ainda não têm
sido suficientemente exploradas. Para permitir que a Unicamp
avance nesse campo, foi recentemente constituído um grupo
de trabalho dedicado ao tema. É urgente uma discussão ampla
e qualificada sobre o assunto, entre outras razões porque,
no âmbito estadual, a Secretaria de Ensino Superior lançou
recentemente o Programa Univesp (Universidade Virtual do
Estado de São Paulo), para qualificar professores de ciências
e de língua portuguesa. O plano é que esse programa seja
implementado com a participação das três universidades estaduais
paulistas – Unicamp, USP e Unesp – já a partir deste ano.
Trata-se de projeto de grande relevância e impacto sociais
perante o qual a Unicamp deverá se posicionar, encontrando
as formas mais efetivas de participação a partir da sua
especificidade, de sua experiência e dos instrumentos já
desenvolvidos em EAD e dos recursos técnicos e humanos de
que dispõe.
Gláucia Pastore – Ainda não se conhece
o potencial e os limites do ensino a distância, particularmente
através da comunicação digital. Há muito a se experimentar
e se avaliar sobre o papel do ensino a distância, como instrumento
acessório ou como veículo principal de ensino. Por este
motivo, nosso programa atenta para a questão, comprometendo-se
claramente a “estimular o desenvolvimento do ensino a distância”.
Pretendemos reunir as experiências das Unidades, em andamento
no campus, para consolidar um Projeto de Ensino a Distância
da Unicamp de alto nível.
Continua
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