PESQUISA
JU
– A Unicamp responde por parcela significativa da pesquisa
acadêmica no Brasil. A pesquisa na Unicamp pode ser melhorada?
Em que direção?
Fernando Costa – Vamos apoiar a pesquisa em todas
as suas formas e modalidades, sem exceção. Isso inclui manter
e incrementar programas específicos para manter grandes
grupos produzindo, dar sustentação a grupos pequenos que
apresentem projeto e potencialidade para crescimento, auxiliar
projetos individuais ou de pequeno porte, disponibilizar
auxílio a pesquisadores para a apresentação de trabalhos
em congressos e simpósios nacionais e internacionais. São
linhas de ação que requerem, dentro das possibilidades orçamentárias
da Unicamp, um aumento substancial dos recursos do Faepex.
Além disso serão mantidos
e ampliados os mecanismos de suporte aos pesquisadores representados,
por exemplo, pela unidade de apoio ao pesquisador e pelo
Espaço da Escrita. É essencial que seja facilitada com adequado
suporte administrativo a busca, por parte dos pesquisadores,
de linhas de financiamento de grande porte junto às agências
de fomento à pesquisa. Também é necessário prover o suporte
institucional para o bom andamento dos projetos de pesquisa,
financiados ou não.
A Unicamp em várias áreas
do conhecimento realiza pesquisas de ponta comparáveis às
de qualquer grande universidade do exterior. No entanto,
para muitos grupos de pesquisa é necessário o reequipamento
ou a criação de novos laboratórios, sobretudo em áreas em
que a necessidade de atualização tecnológica é imperiosa.
Como estamos falando, de um modo geral, de equipamentos
caros, torna-se necessário fazer aquilo que na maioria das
universidades internacionais já é cultura estabelecida,
que é a criação de instalações de uso comum (as core facilities),
permitindo agregar grupos que investigam áreas comuns entre
si sem deixar de respeitar suas especificidades.
Por
outra parte, no plano das políticas de pesquisa, é imprescindível
aumentar a presença de nossos pesquisadores nos conselhos
e órgãos de fomento à pesquisa. Nosso programa também prevê
o estímulo a participação cada vez maior de pós-doutores
na pesquisa levada a efeito na Universidade. Esses pós-doutores
deverão ser recrutados nas melhores universidades do Brasil
e no exterior.
Gláucia Pastore
– Externamente, faz-se necessário implementar mudanças
no relacionamento da Unicamp com outras universidades, agências
de fomento e órgãos governamentais do Brasil e do exterior,
e com as indústrias que atuam em pesquisa e desenvolvimento
nas áreas de atuação da universidade.
Por isto, nosso programa acentua o propósito de “estimular
a participação institucional em órgãos (ministérios, sociedades
e conselhos e outros) e agências de fomento (Fapesp, Capes,
CNPq, Finep e outras)”, a fim de “atuar em consonância com
os grandes objetivos de interesse nacional” e, ao mesmo
tempo, “participar na formulação de políticas públicas relacionadas
com a ciência, tecnologia, atividades culturais, artísticas
e sociais”.
Reconhece-se a necessidade
de explorar as oportunidades para o estabelecimento de um
novo relacionamento entre a Universidade e o restante da
sociedade, que podem se manifestar como fontes de recursos
para atividades de pesquisa e novas alternativas de emprego
para nossos formandos. Consequentemente, propõe-se incentivar
as ações de captação de recursos e transferência de conhecimento.
Internamente, vemos a necessidade
de mudanças nos procedimentos para a criação de novos projetos,
atualmente calcados em excessiva burocracia. É também necessário:
ampliar o apoio institucional de fomento às iniciativas
inovadoras na pesquisa; aperfeiçoar o apoio administrativo
às atividades de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico,
facilitando a disponibilização de informações, a elaboração
e gestão dos projetos, a fim de possibilitar uma maior agilidade
e um melhor aproveitamento de oportunidades de financiamento
à pesquisa; viabilizar a criação de um Centro de Convenções
de grande capacidade e facilidades múltiplas para execução
de atividades artísticas, culturais e científicas; criar
incentivos a pesquisadores, trabalhos e eventos expoentes
(trabalhos do Pibic, dissertações/teses, produções científicas
e contribuições sociais) por meio de distinções e premiações;
valorizar os relatórios de atividades de docentes, discriminadamente
por nível, enfatizando e premiando-os pelas atividades expoentes;
incentivar as atividades e adequar a Editora da Unicamp
para promover maior número de livros produzidos pelos pesquisadores
de excelência; intensificar a expansão, qualificação, atualização
e preservação do acervo bibliográfico e dos acervos das
Unidades de ensino e pesquisa; valorizar a participação
voluntária de pesquisadores e professores colaboradores;
e criar mecanismos de incentivo à pesquisa por meio de Programa
à Pesquisa para docente em início de carreira e grupos emergentes.
JU – Em vista da
quantidade de professores em condições de se aposentarem,
bem como dos que se aposentaram nos últimos anos, o quadro
docente da Unicamp por certo necessitará de recomposição.
Qual será sua política nesse sentido?
Fernando Costa –
A contratação de docentes de alta competência oriundos do
Brasil ou do exterior sempre foi um diferencial importante
da Unicamp. Este é um objetivo que não pode ser perdido
de vista e que deve nortear as contratações em todas as
áreas de atuação da Universidade. A manutenção desse corpo
docente de alto nível, por meio do oferecimento das melhores
condições de pesquisa e de ensino, será objeto da maior
atenção por parte da administração da Universidade. Nesse
sentido, duas tarefas urgentes se impõem: o estudo para
reestruturação da carreira docente de modo a adequá-la às
necessidades da progressão acadêmica e da qualificação contínua
dos professores, que deveremos desenvolver junto ao Cruesp,
e a contratação de novos docentes para repor as vagas deixadas
pelas aposentadorias de modo a permitir a recomposição dos
grupos de pesquisa. Além disso, a Unicamp está consciente
e preparada para a implantação, com base em discussões muito
produtivas realizadas no contexto do Planes, de áreas de
investigação novas que demandarão a contratação de novos
docentes, muito deles com grande experiência.
Gláucia Pastore – Em nosso programa declaramos
explicitamente, sobre esta questão, que “urge o estabelecimento
da certificação (garantindo a substituição dos professores
aposentados) da carreira docente para as várias unidades
de ensino e pesquisa”. Estendemos também a questão para
o conjunto dos funcionários, preconizando “a atualização
da certificação das carreiras de funcionários”.
Também consideramos fundamental “garantir que a reposição
dos quadros docente e de funcionários seja feita por concurso
público, reduzindo gradativamente as contratações precarizadas
e terceirizadas”.
JU – Novas temáticas
de pesquisa tendem a surgir, determinadas pelas tendências
do cenário internacional e também pela demanda nacional.
A pesquisa interdisciplinar parece estar cada vez mais no
horizonte dessas mudanças. Qual é sua política para fazer
frente a essa nova realidade?
Fernando Costa –
A Unicamp conta com a experiência pioneira e inovadora
de seus centros e núcleos interdisciplinares de pesquisa,
que são submetidos a periódicas avaliações externas. Mas
sempre é preciso dar um novo passo qualitativo e esse passo
está na abordagem de novos problemas e na construção ou
no incremento de programas transversais entre as unidades
de ensino e pesquisa e os centros e núcleos, intra e extramuros
da Unicamp. Um número crescente de áreas de pesquisa fundamentais
para o progresso do conhecimento cientifico e para o Brasil
terá de ser abordado dessa perspectiva multidisciplinar.
Gláucia Pastore
–A pesquisa interdisciplinar é decorrência necessária
da interdisciplinaridade e da complexidade dos problemas
de cuja solução os cientistas são chamados a participar.
Daí decorrem várias referências a este tema em nosso programa,
que explicitamente propõe: incentivar a integração dos pesquisadores
da Unicamp em programas de pesquisas interdisciplinares,
entre unidades, entre instituições, nos âmbitos regional,
nacional e internacional, estimulando o desenvolvimento
de atividades de pesquisa científica e a formação de recursos
humanos; ampliar programas e acordos de cooperação com inserções
nacional e internacional nas áreas de graduação, pós-graduação
e pesquisa; ampliar a inserção institucional de centros
e núcleos interdisciplinares de pesquisa; proporcionar a
participação da comunidade nas discussões sobre temas de
pesquisas na fronteira do conhecimento; prover ações para
desenvolver pesquisas para estudar temas estratégicos de
relevância nacional de amplitude social; estimular e viabilizar
atividades interdisciplinares e cooperação entre Unidades,
Núcleos e Centros e instituições de excelência, nacionais
e internacionais, estimulando o intercâmbio de estudantes
e professores em atividades conjuntas; ampliar a ação pedagógica
com base na realidade profissional e sócio-cultural; a transversalidade
dos conteúdos abordados; a interdisciplinaridade no ensino-aprendizagem;
a diversidade sócio-cultural e ambiental; a integração ensino-pesquisa;
a mediação e a busca de consenso; a avaliação permanente
e progressiva; os mecanismos de inclusão – gestão do vestibular;
a melhoria da infraestrutura; as questões relativas ao meio
ambiente, em particular o impacto crescente das ações humanas
sobre os ambientes locais e global, são temas de importância
crescente dentro das atividades acadêmicas, tendo uma natureza
intrinsecamente multidisciplinar e integradora; viabilizar
Centrais Analíticas ou Centros multi-usuários de pesquisa
para racionalizar recursos físicos e humanos; e incentivar
eventos e atividades científicas para as diferentes áreas
por meio de congressos, Ciência e Arte nas Férias, revistas
especializadas e outros.
JU – Em sua opinião, a interação entre ensino e
pesquisa um dos pontos fortes do desempenho acadêmico da
Unicamp já está suficientemente consolidada? Se não, onde
é preciso ser intensificada?
Fernando Costa –
A integração entre o ensino e a pesquisa tem sido uma preocupação
histórica da Unicamp e certamente um dos fatores fundamentais
do sucesso de nossa Universidade. Na pós-graduação, essa
integração mostra-se consolidada, sendo que a maior parte
da produção acadêmica tem a participação dos pós-graduandos.
Merece menção também o papel cada vez mais importante que
a atuação dos pós-doutorandos terá na pesquisa e em sua
interação com o ensino. Entretanto, é necessário que essa
integração se consolide ainda mais também nos cursos de
graduação. Cabe mencionar o sucesso do programa de bolsas
de iniciação científica, que ao integrar os estudantes de
graduação a grupos de pesquisa não só facilita sua convivência
com os pós-graduandos como também permite à Universidade
identificar mais precocemente os jovens talentos. O desafio
que se coloca agora é o de fortalecer esse processo, aumentando
a integração entre os cursos de graduação e os programas
de pós-graduação através de mecanismos institucionais.
Gláucia Pastore
– Pelo simples fato de praticarmos pesquisa e ensino
nesta Universidade, a interação entre ambas dimensões da
vida acadêmica torna-se, em certos aspectos, natural. A
experiência em pesquisa do docente inevitavelmente penetra
sua atividade didática com exemplos enriquecedores, com
a visão do conhecimento como um processo em construção,
onde, portanto, não cabem dogmas, e assim por diante.
Na pós-graduação, em que a Unicamp é particularmente forte,
ensino e pesquisa são intrinsecamente interpenetrantes e
complementares.
No âmbito da graduação a
interação não é tão direta, e o ensino de graduação pode
se beneficiar se esta interação for dinamizada. A forma
mais direta de fazê-lo é através das iniciações científicas.
Como apontado em nossa resposta à questão 2, nosso programa
prevê o estímulo às iniciações científicas bem como aos
programas PAD, que devem incorporar as atuais Bolsas de
Trabalho no sentido de tornarem-nas instrumento eficaz de
aprendizado, não apenas um apoio assistencial sem articulação
pedagógica.
Continua
nas páginas 6 e 7