RELAÇÕES SOCIAIS
JU
– A Unicamp deve ter uma política cultural ou a produção
cultural na Universidade deve ser o resultado da livre manifestação
nas unidades, núcleos, centros e de outras instâncias da
Universidade? Que linhas de ação o seu programa de trabalho
contempla nessa área?
Fernando Costa – A definição de uma política
cultural na Unicamp começa pela concentração de esforços
para que a divulgação dos serviços e das atividades artísticas
e científicas seja eficiente e atinja o maior número possível
de pessoas. Tornar os campi espaços significativos na vida
cultural da sociedade é um desafio que ainda não foi vencido.
Deverão ser estimulados e apoiados os programas culturais
que fortaleçam essa aproximação. A necessidade de ocupação
noturna do campus, para melhor aproveitamento das instalações,
para o dinamismo da vida cultural na Universidade e também
para aumento da segurança, faz do investimento nessa área
um objetivo a ser alcançado nos próximos anos. Ao mesmo
tempo, a intensificação da vida cultural nos campi deverá
ser uma preocupação da Reitoria, já que um dos seus objetivos
estratégicos principais é investir no caráter formativo
dos cursos de graduação, propiciando aos estudantes uma
vivência ampla dos problemas e questões do mundo contemporâneo.
Gláucia
Pastore – No campo cultural e artístico, não cabem
políticas culturais de natureza dirigista; a política cultural
fundamental deve ser a de fomento e estímulo dos grupos
que atuem nestas áreas. Entendemos que a vida acadêmica
não se completa sem a promoção de atividades artísticas
e culturais no campus. Cumprem a função insubstituível de
sensibilização, de enriquecimento espiritual de ampliação
de perspectivas e de integração.
Temos o compromisso de viabilizar
a implantação de um teatro próprio da universidade, atendendo
a uma forte demanda dos cursos de artes, mas também favorecendo
a integração comunitária.
JU – A área de Saúde,
com seus hospitais e centros de atendimento e de pesquisa
em saúde, é o ponto mais forte de conexão da Unicamp com
a sociedade e referência regional para o setor. A alta qualidade
de seus serviços não impede que ela tenha problemas crônicos
de financiamento e de saturação de sua capacidade de atendimento.
Como espera resolver essas questões?
Fernando Costa – Além de suas funções acadêmicas
e assistenciais, a área da Saúde da Unicamp tem atuado de
forma exemplar, exercendo um papel de referência regional
e cumprindo um papel nacional importante. Paralelamente,
tem convivido com um leque de problemas decorrentes em parte
da saturação crônica de sua capacidade de atendimento, da
incorporação de custos devido à implantação de novas tecnologias
e das dificuldades de financiamento do setor. Há claramente
a necessidade de implementar um novo modelo de gestão administrativa,
orçamentária e financeira para suas unidades que proporcione
maior flexibilidade de procedimentos administrativos e assegure
a qualidade do ensino e dos serviços oferecidos. Nesse contexto,
a obtenção do certificado de filantropia para as ações da
Unicamp na área da Saúde é fundamental. Além disso, é preciso
incluir na pauta de discussões com os governos estadual
e federal, em ação conjunta com os demais hospitais universitários,
a reivindicação de um modelo diferenciado de financiamento
para essas instituições, de modo a fixar sobre bases reais
um planejamento orçamentário capaz também de financiar a
avaliação e a incorporação de novas tecnologias. Importante
também ressaltar que a política de recursos humanos para
todos que atuam na área de Saúde, tendo em vista suas peculiaridades
especiais, deverá ser cuidadosamente avaliada e conduzida
de acordo com os parâmetros próprios da área.
Gláucia
Pastore – Inquestionavelmente, a área de Saúde
da Unicamp é o mais visível vínculo da Universidade com
a população. É nosso compromisso estimular e discutir sua
gestão como uma questão da Universidade, garantindo os patamares
de financiamento históricos, reforçando o financiamento
via SUS, buscando articulações junto aos governos do Município,
do Estado e Federal para aportes de recursos, uma vez que
essa área oferece atendimento a mais de 80 cidades, atingindo
uma população de mais de 5 milhões de habitantes.
Pela sua importância e sua
influência, a discussão da área de Saúde exige uma articulação
mais efetiva com setores organizados e institucionais que
tratam da saúde, sem perder a perspectiva de que é um hospital
universitário, que atende integralmente ao SUS e cuja missão
é produzir, portanto, ensino, pesquisa e extensão.
É fundamental que se avance
na compreensão da peculiaridade de um hospital universitário
que produz assistência devendo, dessa forma, observar realidades
de trabalho e jornadas de setores que vivem esta realidade.
JU – Além de produzir ciência e tecnologia, a Unicamp
precisa difundi-la e, sempre que possível, repassá-la à
sociedade. Várias iniciativas foram feitas nesse sentido
nos últimos anos, como por exemplo a Agência de Inovação.
Qual será sua política no campo da difusão tecnológica e
das parcerias estratégicas com empresas e com o setor público
nesse contexto?
Fernando Costa – Nos últimos anos, o conceito
de inovação tornou-se central não apenas no âmbito das políticas
públicas econômica, industrial, de comércio exterior e tecnológica,
mas penetrou também nas políticas voltadas para a ciência
e a universidade. Neste contexto, esse conceito passou a
referir-se a um processo no qual todos os produtores de
conhecimento estão envolvidos em todas as fases da cadeia
de inovação, da produção do conhecimento até a introdução
de novos produtos, processos ou serviços no ambiente social
ou produtivo. A criação da Agência de Inovação da Unicamp
representou um reconhecimento institucional da importância
da questão da inovação tecnológica para o país e do importante
papel das universidades em sistemas nacionais de inovação
pouco desenvolvidos, e instituiu em seu campus um modelo
de gestão tecnológica diferenciado dos exemplos brasileiros,
porém muito similar aos encontrados em universidades de
países centrais. Nos cinco anos de existência da Inova,
resultados importantes foram obtidos pela Universidade,
resultados que foram conquistados sem que se tenha perdido
de vista a sua missão central, que continua sendo o ensino
e a pesquisa. Temos noção clara de que o grande desafio
da inovação tecnológica no Brasil somente será vencido com
a participação decisiva e abrangente da indústria no processo
de pesquisa e desenvolvimento, mas o exemplo da Unicamp
demonstra que a contribuição da universidade pode ser relevante.
Gláucia Pastore
– Nosso programa reconhece a importância da Agência
de Inovação, e prontifica-se a “fortalecer e estimular as
atividades da Inova”.
Em questões anteriores, já enumeramos as iniciativas pertinentes
à busca de parcerias, junto ao setor público e ao setor
privado, para motivação e financiamento de pesquisas.
JU - O leque de
atividades de extensão da Unicamp, a começar pela Escola
de Extensão, já é bastante amplo. O que falta fazer nesse
sentido?
Fernando
Costa – Integrada às atividades acadêmicas, a extensão
cumpre um papel relevante na formação dos estudantes potenciando,
não raro, também a pesquisa. Embora a extensão da Unicamp
seja vasta e efetiva, envolvendo um grande número de docentes,
alunos e funcionários, ainda há espaço para ampliação deste
tipo de atividades em nossa Universidade, especialmente
no que diz respeito aos cursos de capacitação continuada
e às várias formas de interação ativa com instituições públicas.
No âmbito da extensão, no qual a Unicamp tem uma experiência
consolidada, creio que é preciso agora investir também na
extensão comunitária. Pautada pela busca de compatibilidade
entre as demandas sociais, o caráter específico da instituição
universitária e o ganho de conhecimento resultante da interação
com a sociedade.
Gláucia
Pastore – Nosso programa explicita o propósito
de “fortalecer a Extecamp, para que a política de cursos
de extensão esteja em plena sintonia com os objetivos da
universidade, valorizando e estimulando novos mecanismos
que permitam a realização de cursos subsidiados e que atendam
às demandas sociais e também as demandas de formação dos
servidores da própria universidade”. Sempre é possível alargar
o espectro de ações a serem desenvolvidas. Em particular,
nosso programa aponta: consolidar a TV Unicamp, ampliando
e valorizando sua importância frente a sociedade como um
veículo de comunicação social; ampliar os canais de comunicação
e divulgação para a comunidade universitária e externa,
junto à página da Unicamp na Internet, sua principal vitrine
para o país e o mundo; ampliar a difusão do conhecimento,
com apoios ao Museu Exploratório de Ciências, aos acervos,
à comunicação institucional, às publicações acadêmicas e
à TV universitária; estimular parcerias e participação na
formulação e implementação de políticas públicas voltadas
à expansão acadêmica e sociedade; apoiar atividades de prestação
de serviços, facilitando o desenvolvimento e a transferência
de tecnologias em benefício da sociedade; incentivar e promover
a realização de ações comunitárias, eventos ligados a assuntos
técnicos e sociais; expandir os programas de formação continuada
e ofertas de cursos de extensão; estimular e intensificar
o credenciamento de laboratórios em processos de certificação;
ampliar e modernizar a infra-estrutura do Complexo de Eventos
da Unicamp; estimular a participação das unidades na UPA
– Unicamp de Portas Abertas; discutir a formalização das
Coordenações de Extensão nas unidades de ensino e pesquisa;
criar um banco de dados que evidencie as áreas de atuação
da Unicamp, facilitando sua interação com o setor produtivo;
e apoiar e promover a participação de alunos bolsistas nos
projetos voltados à comunidade externa.