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Os caminhos de Perina

Na infância, Thomaz Perina (1920 –2009) gostava de desenhar na rua de sua casa, bem na frente de sua porta, na Vila Industrial, para ouvir os comentários elogiosos dos funcionários das fábricas que passavam por lá na volta do trabalho. Logo o traço leve do artista migrou do chão de terra para o papel, mas sem deixar de lado a imagem da cidade de Campinas, especialmente a região da Vila Industrial, onde viveu todos os dias de sua vida. Parte de sua história é contada com emoção pelos amigos Geraldo Porto e Marco do Valle, professores do Instituto de Artes da Unicamp, na exposição “Thomaz Perina: Ontem, Hoje e Sempre”, a ser aberta em 11 de novembro, na Galeria de Arte da Unicamp.

Uma série de 27 peças de um acervo de cem obras de Perina adquirido pela Unicamp por sugestão de Porto deverá compor a exposição. As peças foram encontradas na tapeçaria Arruda, em Campinas, pelo professor Porto, que imediatamente propôs à Reitoria da Unicamp a compra da Coleção Arruda para o acervo da Galeria de Arte da Universidade. As obras, quando vistas em conjunto, mostram a história do menino, do jovem e do adulto Perina por estarem relacionadas a sua realidade de vida. O trem, a árvore, o céu simplificados por ele fazem parte dos caminhos percorridos e também retratados em seus desenhos. O trabalho apresentado na exposição, segundo Valle, é fortemente figurativo, mas revela como o artista faz a simplificação da paisagem. “Thomaz constrói uma abstração específica em seu trabalho, no entanto, a figura ora mais abstrata ou construtiva nunca foi abandonada em toda sua vida. Em Perina, como em Picasso, a figura era imprescindível”, acrescenta Valle.

Perina tinha carinho especial não somente pela estrada de ferro, mas por retratar o bairro em que morava, de acordo com Valle. Na juventude, quando trabalhou num escritório da Companhia Mogiana, registrava aspectos do encontro entre o rural e o urbano e também o complexo ferroviário cortando a cidade. Os registros eram feitos ao lado do amigo Mário Bueno, na época telegrafista da Companhia Paulista. “Ele andava por aqueles lugares desenhando ou pintando no local e, por vezes, voltava para a casa e produzia seu trabalho de memória criando as paisagens por onde passou”.

Um tom escurecido, entre o cinza e o marrom, está relacionado à paisagem das ruas antigas de Campinas, que eram de terra basalto. Uma pintura em óleo sobre tela pertencente ao Instituto Thomaz Perina, contemporânea à temática da exposição, traz memórias do Bairro Bonfim, especificamente do lugar onde Valle reside há 25 anos. “A obra retrata exatamente a Avenida Governador Pedro de Toledo em 1953. Nesta paisagem urbana, temos uma perspectiva da avenida e em seu lado esquerdo um grande painel publicitário e um terreno vazio. Neste terreno foi construído o antigo Condomínio do DER, onde moro até hoje. Neste tempo visitei muito Perina, pois éramos vizinhos.”

Valle lembra que até hoje o trem passa pelo mesmo lugar, mas o terreno baldio em frente da atual Rodoviária de Campinas pode ser revisitado em seu passado na arte de Thomaz Perina, na poesia com que mostra como os circos se instalavam naquele pedaço do Bairro Bonfim, que tinha também o Jóquei Clube e um depósito de gasolina. Perina retratou estas paisagens com o espírito moderno e cosmopolita, na opinião de Valle.

Um dia Valle perguntou a Perina quem o teria influenciado. A que ele respondeu: Olha, Marco, um artista que me influenciou é o Raoul Dufy. Este pintor, pertencente ao terceiro grupo do fauvismo, segundo Valle, pintou o mar, a cidade de Le Havre e outras paisagens. “Se olharmos um pouco para essa rapidez do pincel com a qual Perina quer construir e desenhar seu trabalho, perceberemos esta influência, embora a paleta de cor seja totalmente diferente”, pontua.

Os trabalhos da coleção são desprovidos da figura humana. Os caminhos são solitários e o circo está vazio. “Esta solidão, esta arquitetura vazia nos lembra De Chirico, mas na verdade em Perina a solidão é projetada de dentro do artista para a pintura na qual ele posteriormente se identifica. É uma solidão nostálgica da arte brasileira”, observa Valle.

Estrelas de cinema

Se o circo aparece vazio na coleção, o mesmo não acontece com as estrelas de cinema retratadas no Álbum da Juventude, que também será exposto pela primeira vez na Galeria de Arte. Os modelos desenhados para um amigo lojista e os trabalhos de decoração também contam com a figura humana. “Perina tinha amigo proprietário de uma loja de modas, que fazia roupas. Então, ele desenhava esses modelos e seu amigo colocava nas vitrines para sugerir para as clientes ideias de figurinos”, revela Porto.

Às estrelas, os curadores da mostra dedicaram uma parede inteira, em homenagem à fase juvenil do artista. O álbum data da década de 1940, quando Perina teria apenas 24 anos de idade e, segundo Porto, essa fase parece ter sido negada pelo artista, que mais tarde passou a se dedicar à arte abstrata. O caderno foi entregue ao amigo Feliciano Zingra, contador, mas quem recebeu a dedicatória de Perina, em 2003, foi sua sobrinha, Suzana Zingra do Amaral Cheida, herdeira dos retratos. A professora emprestou o material para a exposição, segundo Porto. Para o curador, os desenhos surpreenderão os visitantes da mostra, acostumados com os trabalhos mais abstratos de Perina.

O talento para decoração garantiu a Perina não somente o trabalho na tapeçaria, onde Porto encontrou a coleção, mas também muitos convites para decoração de carnaval, bailes e ambientes, entre eles o Centro de Convivência de Campinas.

Além dos trabalhos de autoria de Perina, a mostra conta com duas vitrines nas quais serão divulgados documentos e trabalhos sobre o artista, além de informações sobre prêmios recebidos por ele e uma programação de vídeos mostrando o artista e sua obra.

Um dos formadores do Grupo Vanguarda (1957 a 1966), o artista obteve vários prêmios, entre eles o Governador do Estado no Salão Paulista, em 1961. Possui obras em acervos particulares e em instituições culturais. Participou de importantes exposições individuais e coletivas em várias instituições culturais nacionais e internacionais, entre elas o Museu de Arte Contemporânea de Campinas, o Museu de Arte Pampulha, o Salão Paulista de Arte Moderna, entre outros. O artista participou também da criação do Museu de Arte Contemporânea José Pancetti de Campinas (1965) e do Grupo Hoje (1961 a 1977). “A exposição é para homenagear e mostrar o trabalho de um artista muito importante para Campinas. A cidade fala pouco sobre sua própria arte. Não me lembro de nenhum trabalho acadêmico dedicado exclusivamente a Thomaz Perina”, diz Porto.

A importância dele para a cidade de Campinas é manifestada pelos curadores. “O artista Tomas Perina é um dos pintores mais importantes da cidade de Campinas e o seu trabalho, que evidentemente impulsionou o grupo Vanguarda, começou de uma busca desde a infância. Foi com Perina que eu entendi o que é ser artista. Ele sabia melhor do que ninguém. Então, ele tinha uma doçura, presente nos trabalhos dele e nos desenhos que ele dava para as pessoas que entravam em contato com ele”, conclui Valle.

 

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Serviço
Exposição Thomaz Perina: Ontem, hoje e sempre
Data: 11 de novembro a 26 de novembro
Local: Galeria de Arte da Unicamp
Entrada franca
A Galeria de Arte da Unicamp funciona de segunda a sexta, das 9 às 17 horas, no prédio da Biblioteca Central Cesar Lattes.
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