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Os Estudos Avançados e sua
importância para as universidades

Pedro Paulo
A. Funari é coordenador do Centro de Estudos
Avançados da Unicamp
(
www.gr.unicamp.br/ceav/)

Qual o papel dos Estudos Avançados para as universidades? Esta é a interrogação da primeira reunião internacional de Institutos de Estudos Avançados baseados em universidades, ocorrido em Freiburg, Alemanha, entre 25 e 27 de outubro de 2010. O primeiro Instituto de Estudos Avançados foi fundado em 1930 em Princeton, Estados Unidos, a partir de uma doação (endowment) substancial e que permitiu o estabelecimento de uma instituição responsável por avanços notáveis no campo das ciências e das humanidades, a começar por aqueles realizados por Einstein. Quando da visita ao Instituto de Princeton, em setembro, foi possível observar como as pesquisas em Matemática, Ciências Naturais, História e Ciências Sociais continuam a atrair os grandes estudiosos de todo o mundo, tanto como professores estáveis como na qualidade de pós-doutores promissores. Cruzar com prêmios Nobel é algo comum nos corredores do IEA de Princeton. Pode-se antever nos jovens doutores de países como Índia, China ou Brasil grandes intelectuais, como o foram, em passado recente, outros tantos que chegaram às mais altas posições acadêmicas e políticas nesses mesmos países, assim como em tantos outros.

Princeton, contudo, é uma exceção. Os Estudos Avançados expandiram-se nos últimos anos, em ambiente universitário, como parte de um processo de busca, por parte das melhores universidades do mundo, de se tornarem do mais alto nível – o que se designa como world class, no âmbito mundial. Mas, o que seriam Estudos Avançados em nível mundial? Os Estudos Avançados surgiram e se caracterizam pela pesquisa desinteressada, de caráter interdisciplinar, do mais alto nível, tendo em vista o conhecimento tanto mais aprofundado, como relevante para a sociedade, sem os vínculos burocráticos e acadêmicos tradicionais que tantas vezes podem inibir os melhores frutos da pesquisa científica.

Na reunião pioneira de Freiburg, pela primeira vez reuniram-se os Institutos de Estudos Avançados de universidades, num total de 32, dos cinco continentes e de 19 países, quatro deles em desenvolvimento (África do Sul, Brasil, China e Índia). O crescimento desses institutos foi vertiginoso, pois havia apenas cinco em 1986, 13 em 2000, 20 em 2005 e 32 em 2010. Isso se explica, em grande parte, pelo papel estratégico e fundamental que os Estudos Avançados possuem no sentido de inserirem uma universidade no âmbito mundial. Isto ocorre, em primeiro lugar, por suas características próprias, ao promoverem a pesquisa interdisciplinar, ao reunirem os melhores pesquisadores internacionais e ao criarem uma atmosfera inspiradora e estimulante. Embora predominem as instituições de países ricos, como seria de se esperar, a atenção dada pela China demonstra o reconhecimento do papel central dos Estudos Avançados na busca por uma inserção mundial. O mesmo pode ser dito das outras áreas de globo. A América Latina esteve presente com o pioneiro Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, estabelecido em 1986 por iniciativa arrojada do então reitor José Goldemberg, e com o recém-criado Centro de Estudos Avançados da Unicamp, CEAv (www.gr.unicamp.br/ceav), projeto de fôlego do reitor da Universidade, professor Fernando Ferreira Costa.

Durante os quatro de dias do encontro, um dos temas principais, como não poderia deixar ser, foi a relação entre os Estudos Avançados e a universidade, pois esta é a especificidade dos institutos ali reunidos e sua originalidade. De fato, Princeton continua como referência quase única, enquanto instituição em tudo independente, sem vínculos com a universidade e mesmo com o ensino formal. O ambiente em Princeton assemelha-se, em sua rotina diária coletiva, àquela dos monastérios medievais: todos vivem no local, suas refeições são em comum, formam uma comunidade de sábios isolada do mundo, tão próxima de Nova Iorque – que está a menos de uma hora de trem ou carro –, mas tão longe de tudo e de todos, em uma aldeia, como bem se poderia descrever Princeton e, mais ainda, o terreno do instituto. Eistein é apenas o nome máximo de uma imensa legião de luminares que por lá passaram e passam: trata-se de um celeiro de gênios.

Já os Estudos Avançados em universidades possuem outras características, ainda que compartilhem da ambição pela excelência e destaque mundial. Durante o encontro em Freiburg, dentre os temas recorrentes, encontra-se a preocupação com a integração e relevância dos Estudos Avançados para a universidade e, como decorrência, para a sociedade como um todo. Enquanto Princeton baseia-se nos benefícios indiretos e no longo prazo, as universidades mostram sua relevância de forma muito mais direta e imediata. Dentre os muitos benefícios para a universidade está a incubação de pesquisa inovadora, de modo a injetar energia em atividades menos tradicionais e arriscadas, mas promissoras e prenhes de avanços substancias. No dia a dia, a publicação de artigos em revistas especializadas constitui o cerne de cada disciplina acadêmica, leva ao acúmulo de pontos nas avaliações institucionais, nos diversos países. Isso tudo é muito positivo, em particular, para cada disciplina e para cada campo especializado de pesquisa, mas constitui, ao mesmo tempo, uma limitação à criatividade e à busca pelo desconhecido que pode levar a grandes avanços no conhecimento e no seu potencial de transformação da sociedade. Os Estudos Avançados nas universidades cumprem essa função muito especial e que transcende os limites disciplinares tradicionais.

A organização dos institutos varia muito, mas alguns aspectos são recorrentes, em particular a articulação das pesquisas em torno de temas e, muitas vezes, em grupos de estudos, como é o caso do Centro de Estudos Avançados da Unicamp – CEAv. O tema do Ensino Superior, foco de um grupo de estudos no CEAv/Unicamp, esteve em destaque desde a conferência inaugural de Philip Altbach, do Boston College, com quem a Unicamp tem cooperado no âmbito do Centro. Em sua apresentação, Altbach ressaltou o papel das universidades de pesquisa no contexto mais amplo do ensino superior, como norteadoras de desenvolvimento não apenas científico, mas também social e como os Estudos Avançados têm caracterizado a busca pela excelência internacional por parte das instituições universitárias mais ativas. Não por acaso, a Ásia estava presente com institutos da China, Japão, Coréia, Índia e Taiwan, pois suas melhores universidades estão empenhadas na projeção científica e intelectual que corresponda ao potencial de seus países.

A criação do Centro de Estudos Avançados da Unicamp – CEAv, em março de 2010, por iniciativa do professor Fernando Costa, demonstra o empenho da Reitoria em dotar a Universidade de um órgão à altura dos desafios à frente e foi saudado, em Freiburg, por diversos motivos, a começar pelos temas dos grupos de estudos: Ensino Superior e Esporte (http://www.gr.unicamp.br/ceav/grupo_esportes.html) já em atuação, e China e Desafios das Humanidades, em gestão para o ano de 2011. Representam quatro questões importantes para a Unicamp, mas também para os rumos do país nos próximos anos e estão em sintonia com as discussões em outros institutos de Estudos Avançados, por sua amplidão, interdisciplinaridade e impacto científico e social. O esporte, em suas dimensões diversas e relacionadas aos grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, encontrou ressonância nos institutos da África do Sul, da China e do Reino Unido. A China constitui um objeto de atenção para tantos institutos e, claro, motivo de interesse particular dos chineses. Por fim, os desafios das ciências humanas e sociais foram discutidos, de forma recorrente, por institutos tão variados como Stanford, Cambridge, Nova Déli e Perth.

O recente seminário sobre os desafios de um Instituto de Estudos Avançados na universidade brasileira, na Unicamp demonstra a efervescência dos debates e relevância dos Estudos Avançados como fator indutor de ações, no longo prazo, para a universidade e para a sociedade. O evento em Freiburg indica a importância mundial dos Estudos Avançados e a participação da Unicamp nesse processo revela o empenho da Universidade em atuar sempre na vanguarda científica, atenta às demandas da sociedade brasileira.

 



 
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