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Os Estudos Avançados e sua
importância para as universidades
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Qual o papel dos Estudos Avançados
para as universidades? Esta é a interrogação da primeira reunião
internacional de Institutos de Estudos Avançados baseados
em universidades, ocorrido em Freiburg, Alemanha, entre 25
e 27 de outubro de 2010. O primeiro Instituto de Estudos Avançados
foi fundado em 1930 em Princeton, Estados Unidos, a partir
de uma doação (endowment) substancial e que permitiu o estabelecimento
de uma instituição responsável por avanços notáveis no campo
das ciências e das humanidades, a começar por aqueles realizados
por Einstein. Quando da visita ao Instituto de Princeton,
em setembro, foi possível observar como as pesquisas em Matemática,
Ciências Naturais, História e Ciências Sociais continuam a
atrair os grandes estudiosos de todo o mundo, tanto como professores
estáveis como na qualidade de pós-doutores promissores. Cruzar
com prêmios Nobel é algo comum nos corredores do IEA de Princeton.
Pode-se antever nos jovens doutores de países como Índia,
China ou Brasil grandes intelectuais, como o foram, em passado
recente, outros tantos que chegaram às mais altas posições
acadêmicas e políticas nesses mesmos países, assim como em
tantos outros.
Princeton, contudo, é uma
exceção. Os Estudos Avançados expandiram-se nos últimos anos,
em ambiente universitário, como parte de um processo de busca,
por parte das melhores universidades do mundo, de se tornarem
do mais alto nível – o que se designa como world class, no
âmbito mundial. Mas, o que seriam Estudos Avançados em nível
mundial? Os Estudos Avançados surgiram e se caracterizam pela
pesquisa desinteressada, de caráter interdisciplinar, do mais
alto nível, tendo em vista o conhecimento tanto mais aprofundado,
como relevante para a sociedade, sem os vínculos burocráticos
e acadêmicos tradicionais que tantas vezes podem inibir os
melhores frutos da pesquisa científica.
Na reunião pioneira de Freiburg,
pela primeira vez reuniram-se os Institutos de Estudos Avançados
de universidades, num total de 32, dos cinco continentes e
de 19 países, quatro deles em desenvolvimento (África do Sul,
Brasil, China e Índia). O crescimento desses institutos foi
vertiginoso, pois havia apenas cinco em 1986, 13 em 2000,
20 em 2005 e 32 em 2010. Isso se explica, em grande parte,
pelo papel estratégico e fundamental que os Estudos Avançados
possuem no sentido de inserirem uma universidade no âmbito
mundial. Isto ocorre, em primeiro lugar, por suas características
próprias, ao promoverem a pesquisa interdisciplinar, ao reunirem
os melhores pesquisadores internacionais e ao criarem uma
atmosfera inspiradora e estimulante. Embora predominem as
instituições de países ricos, como seria de se esperar, a
atenção dada pela China demonstra o reconhecimento do papel
central dos Estudos Avançados na busca por uma inserção mundial.
O mesmo pode ser dito das outras áreas de globo. A América
Latina esteve presente com o pioneiro Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de São Paulo, estabelecido em 1986
por iniciativa arrojada do então reitor José Goldemberg, e
com o recém-criado Centro de Estudos Avançados da Unicamp,
CEAv (www.gr.unicamp.br/ceav),
projeto de fôlego do reitor da Universidade, professor Fernando
Ferreira Costa.
Durante os quatro de dias
do encontro, um dos temas principais, como não poderia deixar
ser, foi a relação entre os Estudos Avançados e a universidade,
pois esta é a especificidade dos institutos ali reunidos e
sua originalidade. De fato, Princeton continua como referência
quase única, enquanto instituição em tudo independente, sem
vínculos com a universidade e mesmo com o ensino formal. O
ambiente em Princeton assemelha-se, em sua rotina diária coletiva,
àquela dos monastérios medievais: todos vivem no local, suas
refeições são em comum, formam uma comunidade de sábios isolada
do mundo, tão próxima de Nova Iorque – que está a menos de
uma hora de trem ou carro –, mas tão longe de tudo e de todos,
em uma aldeia, como bem se poderia descrever Princeton e,
mais ainda, o terreno do instituto. Eistein é apenas o nome
máximo de uma imensa legião de luminares que por lá passaram
e passam: trata-se de um celeiro de gênios.
Já
os Estudos Avançados em universidades possuem outras características,
ainda que compartilhem da ambição pela excelência e destaque
mundial. Durante o encontro em Freiburg, dentre os temas recorrentes,
encontra-se a preocupação com a integração e relevância dos
Estudos Avançados para a universidade e, como decorrência,
para a sociedade como um todo. Enquanto Princeton baseia-se
nos benefícios indiretos e no longo prazo, as universidades
mostram sua relevância de forma muito mais direta e imediata.
Dentre os muitos benefícios para a universidade está a incubação
de pesquisa inovadora, de modo a injetar energia em atividades
menos tradicionais e arriscadas, mas promissoras e prenhes
de avanços substancias. No dia a dia, a publicação de artigos
em revistas especializadas constitui o cerne de cada disciplina
acadêmica, leva ao acúmulo de pontos nas avaliações institucionais,
nos diversos países. Isso tudo é muito positivo, em particular,
para cada disciplina e para cada campo especializado de pesquisa,
mas constitui, ao mesmo tempo, uma limitação à criatividade
e à busca pelo desconhecido que pode levar a grandes avanços
no conhecimento e no seu potencial de transformação da sociedade.
Os Estudos Avançados nas universidades cumprem essa função
muito especial e que transcende os limites disciplinares tradicionais.
A organização dos institutos
varia muito, mas alguns aspectos são recorrentes, em particular
a articulação das pesquisas em torno de temas e, muitas vezes,
em grupos de estudos, como é o caso do Centro de Estudos Avançados
da Unicamp – CEAv. O tema do Ensino Superior, foco de um grupo
de estudos no CEAv/Unicamp,
esteve em destaque desde a conferência inaugural de Philip
Altbach, do Boston College, com quem a Unicamp tem cooperado
no âmbito do Centro. Em sua apresentação, Altbach ressaltou
o papel das universidades de pesquisa no contexto mais amplo
do ensino superior, como norteadoras de desenvolvimento não
apenas científico, mas também social e como os Estudos Avançados
têm caracterizado a busca pela excelência internacional por
parte das instituições universitárias mais ativas. Não por
acaso, a Ásia estava presente com institutos da China, Japão,
Coréia, Índia e Taiwan, pois suas melhores universidades estão
empenhadas na projeção científica e intelectual que corresponda
ao potencial de seus países.
A criação do Centro de Estudos
Avançados da Unicamp – CEAv, em março de 2010, por iniciativa
do professor Fernando Costa, demonstra o empenho da Reitoria
em dotar a Universidade de um órgão à altura dos desafios
à frente e foi saudado, em Freiburg, por diversos motivos,
a começar pelos temas dos grupos de estudos: Ensino Superior
e Esporte (http://www.gr.unicamp.br/ceav/grupo_esportes.html)
já em atuação, e China e Desafios das Humanidades, em gestão
para o ano de 2011. Representam quatro questões importantes
para a Unicamp, mas também para os rumos do país nos próximos
anos e estão em sintonia com as discussões em outros institutos
de Estudos Avançados, por sua amplidão, interdisciplinaridade
e impacto científico e social. O esporte, em suas dimensões
diversas e relacionadas aos grandes eventos, como a Copa do
Mundo e as Olimpíadas, encontrou ressonância nos institutos
da África do Sul, da China e do Reino Unido. A China constitui
um objeto de atenção para tantos institutos e, claro, motivo
de interesse particular dos chineses. Por fim, os desafios
das ciências humanas e sociais foram discutidos, de forma
recorrente, por institutos tão variados como Stanford, Cambridge,
Nova Déli e Perth.
O recente seminário
sobre os desafios de um Instituto de Estudos Avançados na
universidade brasileira, na Unicamp demonstra
a efervescência dos debates e relevância dos Estudos Avançados
como fator indutor de ações, no longo prazo, para a universidade
e para a sociedade. O evento em Freiburg indica a importância
mundial dos Estudos Avançados e a participação da Unicamp
nesse processo revela o empenho da Universidade em atuar sempre
na vanguarda científica, atenta às demandas da sociedade brasileira.
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