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Você sabe o que é petroleômica?
Pesquisadora caracteriza
petróleo por
meio de técnicas em espectrometria de massas
A
caracterização de petróleo e óleos vegetais, utilizando técnicas
modernas em espectrometria de massas, rendeu à pesquisadora
Rosineide Costa Simas, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp,
a primeira tese de doutorado na área de petroleômica – área
de fronteira do desenvolvimento científico em Química Analítica
–, em nível mundial. De acordo com o orientador da pesquisa
e coordenador do Laboratório ThoMSon de Espectrometria de
Massas, Marcos N. Eberlin, trata-se dos primeiros resultados
dos projetos estabelecidos pelo seu Laboratório com as redes
temáticas da Petrobras e a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Para ele, essa parceria estabeleceu um novo e eficaz modelo
de financiamento de pesquisas e teses expandindo, dessa maneira,
as possibilidades de formação de recursos humanos altamente
qualificados no Brasil. “Em poucos anos tivemos uma salto
de qualidade no nosso Laboratório, conseguindo nos estabelecer
como um dos melhores grupos do mundo nesta área”, comemorou
Eberlin.
E, na sequência, prosseguiu
o coordenador, até meados de 2011, mais quatro alunos defenderão
o doutorado nessa mesma área. Yuri Eberlim de Corilo, sobre
a criação do software PetroMS; Clécio Fernando Klitzke abordará
o assunto ‘ácidos em petróleo’; Boniek Gontijo Vaz tratará
sobre evolução térmica em petróleo e hidrotratamento em diesel,
além de Rosana Maria Alberici que pesquisou sobre a biodegradação
em petróleo.
As redes foram estabelecidas
com recursos financeiros destinados a um objetivo muito nobre:
o de impulsionar o desenvolvimento da ciência e a tecnologia
do Brasil. “A ciência pelo lado da academia e a tecnologia
pelo lado da Petrobras”, detalhou. Várias redes se formaram
no país como um todo e, especificamente no projeto do ThoMSon,
com uma meta bastante desafiadora. A partir da mistura mais
complexa do ponto de vista químico existente em nosso planeta,
que é o petróleo, realizar a sua caracterização de forma bastante
rápida e eficiente com instrumentação e tecnologia de ponta.
“Coisa que só existia, há poucos anos, em um laboratório localizado
na Flórida (EUA)”, disse. Para isso, toda a infraestrutura
desejável foi fornecida pela Petrobras, como bolsas de estudo,
material, equipamentos, além da possibilidade de intercâmbios
nacionais e internacionais.
Misturas complexas
O trabalho de Simas consistiu
em caracterizar o petróleo por compostos polares, ou seja,
fazer uma análise detalhada de sua fração mínima (5%), utilizando
a técnica Easy Ambient Sonicspray Ionization (EASI), desenvolvida
pelo Laboratório ThoMSon e capaz de analisar qualquer tipo
de superfície utilizando a espectrometria de massas. Através
dela, foi possível verificar principalmente os marcadores
moleculares de óleos e petróleo. “A minha tese versou sobre
a inovação na amostragem e a confiança metrológica desta nova
técnica, a petroleômica. E aí está contido o ineditismo desse
trabalho”, afirmou.
A pesquisadora relatou que
esses compostos polares, estudados já há algumas décadas,
eram observados apenas como resultado de uma análise elementar.
Sabia-se da composição de nitrogênio, oxigênio e enxofre básica
do petróleo. No entanto, eram dados brutos de baixa relevância
para o refino e tratamento do petróleo. Através da alta resolução
e exatidão, aliadas a altas velocidades de análise garantidas
pela espectrometria de massas, surgiu a possibilidade de conhecer
a fundo os compostos nitrogenados, oxigenados e sulfurados
do petróleo e ordená-los por classes. O que antes era quase
desconhecido, agora se mostra como um conjunto de mais de
mil compostos nitrogenados e cerca de 800 oxigenados e sulfurados.
“Conhecer essas estruturas dos polares, a partir do que se
já conhece da indústria petrolífera, correlacionar e descobrir
todas as potencialidades desta técnica é que chamamos de ‘petroleômica
MS’, ou seja, é a caracterização do petróleo de uma forma
global”, revelou Simas.
Ademais, prosseguiu a pesquisadora,
a técnica da petroleômica por espectrometria de massas tem
dado uma grande contribuição para que se conheçam todas as
transformações ocorridas com o petróleo na sua extração, refino
e tratamento. “Analisamos os compostos polares porque sabemos
que eles funcionam como marcadores químicos, ou como uma verdadeira
memória química, que guarda informações sobre a história e
as propriedades do óleo, quando os dados são corretamente
interpretados juntamente com o pessoal técnico da Petrobras
e todo o seu conhecimento geoquímico”, afirmou a pesquisadora.
Quando uma nova amostra de
petróleo chega a uma refinaria, passa por uma bateria de testes,
entre eles, ponto de maturação, biodegradação, acidez e corrosão.
O objetivo é ter o máximo de conhecimento sobre os aspectos
físico-químicos do petróleo, mas esses testes demoram semanas.
Com a técnica EASI e um software também inovador e de alta
eficiência desenvolvido por um dos pesquisadores da equipe,
o doutorando Yuri E. Corilo, em apenas dez minutos essa análise
é realizada e processada em segundos.
A pesquisa de Simas em conjunto
com os pesquisadores do laboratório ThoMSon, entre eles Heliara
L. Nascimento, e os doutorandos Clecio F. Klitzke, Yuri E.
Corilo e Boniek G. Vaz e da Petrobras, Rosana Cardoso e Eugenio
V. Santos Neto, recebeu destaque internacional como capa do
Analytical Chemistry, o mais importante periódico da área,
editado pela American Chemical Society (ACS). “Somente trabalhos
de ponta são publicados nessa revista e, destes, apenas alguns
são destacados para aparecer na sua capa, privilégio de poucos”,
disse Eberlin.
Óleos
A
parceria com o professor Daniel Barreira Arellano, do Laboratório
de Óleos e Gorduras da Faculdade de Engenharia de Alimentos
(FEA), culminou também com a determinação, em segundos, por
meio de uma gota de óleo em um papel, do perfil químico destes
óleos. Por esse perfil é possível dizer se é óleo de soja,
de oliva, de canola, de milho ou de algodão, entre outros,
extrapolando para óleos amazônicos como o cupuaçu, copaíba
e murumuru. Ou seja, existe uma distribuição de triacilglicerois
característica de cada óleo e, com uma gota, é possível dizer
qual oleaginosa deu origem àquele óleo. É possível ainda obter
dados para o controle de qualidade, sabendo, por exemplo,
se o óleo está fresco ou degradado. Todo óleo que passa por
um processo de refino tem também uma acidez natural chamada
de acidez livre. “Conseguimos com EASI-MS tipificar o óleo,
medir níveis de oxidação e determinar a acidez livre em segundos
com muita facilidade, e com precisão e exatidão similares
aos métodos clássicos”, exemplificou Simas.
O trabalho resultante dessa
pesquisa foi apresentado no V Simpósio Internacional Tendências
e Inovações em Tecnologia de Óleos e Gorduras, realizado em
Campinas em setembro, e conquistou o 2º lugar como menção
honrosa, prêmio BUNGE-SBOG de inovação tecnológica. O evento
foi organizado pela Sociedade Brasileira de Óleos e Gorduras
(SBOG).
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Publicação
Tese de doutorado “Caracterização de Óleos Vegetais e Petróleo
por Espectrometria de Massas em Condições Ambiente e com Alta
Exatidão e Resolução”
Autora: Rosineide Costa Simas
Orientador: Marcos N. Eberlin
Unidade: Instituto de Química (IQ)
Fonte de financiamento: Petrobras
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