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‘Indicadores subjetivos bem-elaborados são
mais precisos que a contabilidade dita objetiva’
JU
– Quais têm sido as principais métricas e indicadores utilizados?
Que características determinam a aplicação de uma metodologia
ou outra? O envolvimento do setor privado no programa, a exemplo
do que ocorre com o programa Pite/Fapesp (Programa de Inovação
Tecnológica na Empresa), o SBIR (Small Business Innovation
Research), do governo americano, ou os Fundos Setoriais, do
MCT, representa um diferencial para a definição da metodologia
a ser utilizada?
Fernanda De Negri – De modo
geral, quanto mais individualizados os indicadores de resultado,
mais fácil para o avaliador chegar a uma conclusão precisa
sobre o resultado da política. Dizer se a política teve impactos
nos investimentos em P&D de uma empresa que foi apoiada
é muito mais fácil do que dizer se a política teve impactos
na ampliação dos investimentos em P&D da economia.
Em termos de avaliação quantitativa de impactos nos indivíduos,
as metodologias utilizadas são muito similares. Todas elas
procuram isolar o efeito da política de outros fatores que
podem afetar o resultado dos indivíduos apoiados. Da mesma
forma, todos procuram, de alguma maneira, comparar um grupo
de tratamento com um grupo de controle adequado.
O fato de o programa ou política
ser voltado ou permitir a participação de empresas – como
no caso dos Fundos Setoriais – altera de forma mais significativa
os indicadores utilizados para mensurar o resultado das políticas,
do que a metodologia utilizada. No caso de programas voltados
para ampliar a produção científica dos pesquisadores, caso
de uma parcela dos recursos dos Fundos Setoriais, o melhor
indicador pode ser o volume de publicações dos pesquisadores
apoiados. Qual indicador será utilizado depende da pergunta
que está sendo feita pelo avaliador, que pode estar preocupado
em responder diversas questões, todas no âmbito da avaliação
do programa, tais como se o programa teve impactos na produção
científica dos pesquisadores apoiados, se gerou externalidades
para outros indivíduos, que não os apoiados, se o fato de
um pesquisador ter recebido suporte do programa contribuiu
para que ele realizasse outros tipos de pesquisa ou pesquisa
em parceria com empresas etc.
Laurent Bach –
Na minha área, políticas e programas de CT&I, o campo
das métricas é amplamente dominado pelos indicadores clássicos
de CT&I –bibliometria e estatísticas de patentes –, incluindo
aquelas na fronteira com o mundo econômico e empresarial,
tais como licenciamento de tecnologias e empresas spin-off
criadas, e pela análise de custo/benefício relacionada aos
indicadores – cota de mercado, vendas, rentabilidade, independentemente
dos indicadores acumulados e , mais raramente, benefícios
aos consumidores. No entanto, há uma ênfase crescente sobre
os indicadores de redes sociais, refletindo o papel central
de alguns atores no cenário da CT&I ou a evolução do perfil
das redes.
Penso que há uma combinação
de fatores que determinam as escolhas metodológicas: os recursos
à disposição dos avaliadores – incluindo a disponibilidade
de dados, o tempo e, claro, os financiamentos; e se a avaliação
será de curto ou longo prazo. Também é um fator importante
o nível de conhecimento das partes – pessoas, a agência etc–
que ordenaram o estudo de avaliação, o que vai determinar
como seus resultados serão empregados para tomada de decisão.
Mas, obviamente, o primeiro
parâmetro de qualquer trabalho de avaliação científica deveria
ser as características dos programas ou políticas a serem
avaliadas! A influência do setor privado não está clara para
mim, depende de onde o setor privado está “localizado”. Se
as atividades do setor privado são avaliadas, do ponto de
vista público, como beneficiário do apoio da opinião pública
através de programas e políticas, não têm nenhuma influência
sobre a escolha metodológica.
Se o setor privado está executando
a sua própria avaliação do benefício que tira da sua participação
em programas públicos, a situação é naturalmente diferente.
A metodologia e as métricas terão que ser capazes de refletir,
sobretudo, a perspectiva do setor privado, com os correspondentes
indicadores, em termos de rentabilidade e assim por diante.
Agora, se do setor privado está envolvido como a avaliação
das partes – por meio de consultoria ou empresas de serviços
–, é muito provável que a metodologia terá de ser compatível
com as limitações financeiras e as exigências deste organismo
privado. Isso pode significar, no pior caso, de trabalho menos
experimental, a reutilização de dados não adequados, mas já
existentes etc
Sergio Salles-Filho
- Não há uma régua, nem deveria haver um manual,
exceto um de boas práticas de avaliação. Cada caso precisa
de tratamento especial, um olhar do que deve ser avaliado,
antes de mais nada. Às vezes, uma medida de benefício/custo
simplesmente não deve ser aplicada em um programa, porque
é descabida. Às vezes, indicadores subjetivos bem-elaborados
são mais precisos que qualquer contabilidade dita objetiva.
A experiência ajuda muito a definir o que e como avaliar.
O pioneirismo do Geopi
Os
impactos de programas e políticas públicas têm sido alvos
dos estudos do Geopi desde a sua constituição, há quinze anos,
pela iniciativa dos professores Sergio Salles-Filho e Rui
Albuquerque, ambos docentes do Departamento de Política Científica
e Tecnológica do Instituto de Geociências. Um dos primeiros
trabalhos realizados pelo grupo foi a reorganização institucional
do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), quando iniciaram
o desenvolvimento de metodologias tanto para avaliação quanto
para reorganização institucional.
O Geopi possui uma sólida
atuação em atividades de planejamento e avaliação em CTI,
já tendo realizado mais de 40 projetos de pesquisa e consultorias
em torno das suas seis áreas: planejamento e gestão de CT&I;
prospecção em CT&I; avaliação em CT&I; gestão da propriedade
intelectual; financiamento para CT&I; e dinâmica setorial
da inovação. Destaca-se, no período recente, o apoio à Fapesp
para desenvolvimento de metodologias de avaliação para seus
programas.
A partir de uma demanda apresentada
pela Diretoria Científica da Fapesp, o Geopi apresentou uma
proposta de avaliação de resultados e impactos de programas
desta Fundação, que foi submetida a pareceristas ad hoc. Num
primeiro momento foram avaliados os programas Pipe, Pite,
PPP (Pesquisa em Políticas Públicas) e JP (Apoio ao Jovem
Pesquisador). No momento, a avaliação está sendo estendida
aos programas de bolsas, Equipamentos Multiusuários e o Biota.
A experiência nessas áreas
e na relação com empresas e instituições de pesquisa externas,
levou o Geopi a apoiar a criação da Agência de Inovação da
Unicamp, a Inova, bem como a política de propriedade intelectual
da Universidade. Externamente, o grupo já atuou no apoio e
planejamento de atividades para organizações públicas e privadas,
tais como Embrapa, Sucen, CPFL, Finep, Inpe, CTA, Apta, IAC,
CPqD, CGEE e algumas internacionais, tais como a Fundación
para la Promoción de la Innovación Agrícola (FIA), do Chile;
a Incagro, do Peru; o IICA (Instituto Interamericano de Cooperação
para a Agricultura), da Organização dos Estados Americanos;
a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi); Usaid;
e WWF.
Com uma equipe bastante atuante,
o GEOPI se destaca pelo número de pesquisadores – hoje são
30 pesquisadores associados e colaboradores –, muitos deles
inseridos em outras instituições além da Unicamp, como Inpi,
LNLS, USP, UFABC, CTI, IEA entre outras; além do envolvimento
de alunos em nível de graduação e pós-graduação, muitos dos
quais mantêm o vínculo mesmo depois de deixarem a Universidade.
Ao todo, em 15 anos, os professores que lideram o Geopi formaram
17 doutores e 20 mestres.
Entre suas publicações, foi
lançado em 2000 o livro Ciência, Tecnologia e Inovação: a
reorganização da pesquisa pública no Brasil (Editora Komedi),
com autores do próprio grupo e convidados. Recentemente foram
publicados três artigos sobre avaliação de C,T&I na revista
Research Evaluation, além de um capítulo para o livro de indicadores
de CT&I da Fapesp, com dados sobre a área agrícola, em
fase de finalização.
Em 2005, o professor Sergio Salles-Filho recebeu a Medalha
“Mérito Santos-Dumont” pelo trabalho realizado para a criação
do Plano Diretor de Gestão do CTA. O docente foi também, por
três vezes, agraciado com o Prêmio Zeferino Vaz da Unicamp.
Confira a programação do simpósio
em:www.ige.unicamp.br/fronteiras
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