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Estudo alerta para o uso correto de
cadeirinha para crianças em carros
Tese demonstra que não basta apenas
a adoção dos assentos
Mesmo
com os insistentes apelos para o uso dos assentos infantis
nos automóveis, reforçados ainda mais pela Resolução 277/2008
do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que tornou obrigatória
a sua utilização e que impinge multa aos infratores, esses
dispositivos de segurança ainda são pouco empregados no Brasil.
Desde 2008, programas educacionais vêm conscientizando a população
sobre o valor das cadeirinhas ou assentos elevatórios para
crianças com até sete anos e meio de idade, por conta de sua
segurança. Uma pesquisa de doutorado, defendida na Faculdade
de Engenharia Mecânica (FEM), enfatiza que não basta a sua
adoção pura e simples. É preciso utilizá-la adequadamente.
A conclusão
do estudo, alerta a fisioterapeuta Maria de Castro Monteiro
Loffredo, autora do trabalho, é que os pais ou responsáveis
precisam estar atentos para a compra do modelo correto de
dispositivo. Do contrário, se as crianças estiverem usando
assentos acima da sua idade ou abaixo do recomendado, elas
poderão sofrer graves lesões. Tal estudo teve início em 2006
na FEM da Unicamp, sob orientação do docente da Faculdade
Celso Arruda, e foi desenvolvido em colaboração com o Instituto
de Transporte da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Loffredo
não tinha se convencido de que a falta de adesão aos assentos
no país seria um mero capricho. A fisioterapeuta desconfiou
que poderia haver algo com o quesito conforto que inviabilizasse
a sua adoção. Esta foi uma das primeiras questões que lhe
saltou à vista. Segundo a pesquisadora, com o decorrer da
pesquisa, ficou-lhe óbvio que o carro não tinha sido projetado
pensando-se no transporte das crianças, como um recurso para
segurá-las no veículo. “Os próprios cintos de segurança são
idealizados exclusivamente para adultos”, menciona. “Hoje,
contudo, já se estuda uma adaptação, o que será um grande
avanço.” Além disso, relata, o que poucas pessoas imaginam
é que, quando a criança vai se tornando mais velha, começa
a perceber que o seu assento é diferente do banco do adulto.
É assim que ela não vê mais razão para usar o seu porque,
afinal de contas, já está ficando grande.
No momento,
existe nas montadoras do setor automobilístico uma grande
preocupação em se criar um assento cada vez mais ergonômico,
mas para o adulto. Por que a mesma preocupação não se estende
também às crianças?, inquire Loffredo.
Segurança e conforto
A
pesquisadora ponderou alguns pontos para sondar, mediante
um método específico de análise, o conforto e a segurança
do assento infantil. A fisioterapeuta desenvolveu um método
avaliando alguns tipos de assentos infantis existentes no
mercado brasileiro, que contemplam cada fase da estatura da
criança.
Dessa forma, os assentos infantis
são divididos em grupos de massa, que são o bebê conforto,
a cadeirinha e o assento de elevação (booster) com e sem assento
de costas. A fisioterapeuta optou por analisar as cadeirinhas
e os boosters.
Para estudar o nível de segurança,
um critério de avaliação foi desenvolvido e relacionou o local
de passagem das tiras e a posição anatômica por onde elas
passam na criança. Nesse método, Loffredo identificou os pontos
que seriam ótimos para a sua passagem, garantindo ótimo nível
de segurança para as crianças no caso de acidente. Assim,
a avaliação focou estes pontos em diferentes assentos. Se
a tira não estava passando no ponto anatômico de referência,
então era possível ocasionar lesões, constata.
Para a pesquisadora, a dúvida
das mães é de certa forma comum quando chega a hora de posicionar
corretamente o filho no carro. Mas isso, expõe, pode ser perfeitamente
solucionado com uma simples inspeção dos pontos de passagem
das tiras, feita em comparação com os lugares que seriam os
adequados.
Com relação às cadeirinhas,
informa ela, as tiras podem ser posicionadas de diferentes
modos, posto que o próprio dispositivo fornece esta opção.
Para a tira que passa no ombro, o manual mostra até três opções
de posicionamento, isso porque este dispositivo é empregado
por crianças de um a quatro anos. Conforme vão crescendo,
as tiras têm que ir acompanhando a altura do ombro delas.
Se o responsável estiver desatento e não mudar as tiras, alguns
ensaios comprovaram que o impacto poderá ocasionar sérias
lesões de cabeça, além de provocar um grande desconforto para
a criança.
No caso do booster, as crianças
usam o cinto de segurança do próprio carro. Este dispositivo
voga para crianças de cinco a sete anos e meio de idade ou
com altura até 1,35 metros. Nesse caso, a tira de ombro tem,
como ponto de referência no corpo da criança, o ponto de encontro
das clavículas. A tira não deve pegar esta região. Ela teria
que ficar situada entre o pescoço e o ombro da criança. Assim,
no caso de um impacto, a tira estaria longe da traqueia e
de provocar uma lesão.
Já a tira abdominal, se ela
estiver passando muito acima do abdômen, com o impacto poderá
causar lesões nesta região. “A referência deve ser o osso
do quadril, que serve de âncora e não permite que a criança
escorregue, prejudicando os órgãos internos.” A tira abdominal,
quanto mais baixa, melhor. É isso que o booster faz com a
criança quando ela é pequena: ele a eleva, ajudando a posicionar
a tira abdominal, de forma que ela fique bem abaixo, tendo
como referência as partes mais proeminentes do osso do quadril,
ou seja, as espinhas ilíacas anterossuperiores.
No estudo realizado, a fisioterapeuta
constatou que muitas lesões ocorreram por causa do uso incorreto
dos assentos, as quais poderiam ter sido evitadas se essas
simples atitudes fossem tomadas. “Tais situações podem resultar
em lesão abdominal e de coluna vertebral, dentre as mais comuns”,
acentua.
Erros
Um
erro bastante comum em relação ao uso dos assentos infantis,
pontua Loffredo, é que, mesmo sabendo que todas as crianças
têm que usar a cadeirinha, os pais infelizmente prosseguem
não conseguindo diferenciar um modelo do outro. Um típico
caso de uso incorreto é a graduação prematura do assento,
ou seja, a criança usa uma cadeirinha que é designada para
um grupo maior de crianças, “ao passo que deveria ser usada
de acordo com a sua faixa etária ou peso.” Colocam, muitas
vezes, a criança em boosters quando ela ainda tem idade para
usar a cadeirinha. Isso provavelmente irá ocasionar o posicionamento
incorreto das tiras, passando pelo pescoço e abdômen. Como
resposta, a criança tende a colocar a tira de ombro atrás
das costas, o que é altamente perigoso para ela no caso de
impacto.
Outro erro frequente consiste
em deslocar a tira do ombro e a criança ficar presa apenas
pelo abdômen, quando ela usa as cadeirinhas. Esta é uma situação
demasiadamente preocupante. É que o sistema de cinco pontos,
sistema de tiras usado nas cadeirinhas, segue parâmetros objetivos
de segurança, isso porque a criança até quatro anos possui
estruturas ósseas muito frágeis. A sua cabeça é grande em
relação ao corpo e também pesa mais. Quando ocorre um impacto,
a cabeça é projetada. “Por isso usamos duas tiras no ombro
para segurar mais o tronco e a cabeça, que são as partes mais
frágeis do corpo da criança”, revela.
No estudo, a pesquisadora
notou que realmente em algumas situações as tiras incomodam
as crianças, razão por não quererem permanecer nas cadeirinhas.
Se a graduação de altura das tiras estiver incoerente com
a altura do ombro da criança, por exemplo tiras posicionadas
muito abaixo da altura do ombro, ela terá mesmo um certo incômodo.
“Então é necessário regular o dispositivo, colocando a tira
na graduação acima da onde estava posicionada”, ensina. No
caso particular das cadeirinhas, as tiras do ombro necessitam
estar no mesmo nível do ombro das crianças, pois, em caso
negativo, a criança vai se sentir desconfortável e desprezar
as tiras.
Na avaliação de Loffredo,
as cadeirinhas devem considerar os aspectos anatômicos das
crianças de diferentes faixas etárias para ser desenvolvido
um design perfeito. “Embora os manuais expliquem detalhadamente
como usá-las, no caso de dúvidas sobre o uso e fixação no
carro, os pais devem sempre procurar o local de aquisição
da cadeirinha para eventuais esclarecimentos.”
Loffredo é fisioterapeuta
e atua na área de Segurança Veicular. Fez o mestrado também
na FEM da Unicamp e é especialista em Ortopedia e Trauma pelo
Hospital das Clínicas (Unicamp). Apesar de ser anterior à
regulamentação do uso das cadeirinhas, a sua tese já vislumbrava
esta tendência, sobretudo por influência dos países desenvolvidos
cujas leis regularizavam estes dispositivos, que já vigoravam
há muitos anos.
Como fisioterapeuta, ela relata
que os acidentes de trânsito representam a maior causa de
mortalidade em crianças de cinco a nove anos de idade no Brasil
e aproximadamente dez mil crianças sofrem algum tipo de morbidade
por ano no Brasil, estando entre os dez países que possuem
maior número de mortes no trânsito. É importante ainda ressaltar
que os acidentes de trânsito são uma causa evitável de morte
e por isso Loffredo salienta que as leis e os regulamentos
sobre a segurança veicular devem ser seriamente respeitados.
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Artigos
1. LOFFREDO, M.; EBERT, S.; ARRUDA, C.; REED, M. Static analysis
of harness fit in forward-facing child restraints. Brazilian
Journal of Biomedical Engineering, In Press, 2010.
2. LOFFREDO, M.; MANARY, M.; REED, M.; ARRUDA, C. Dynamic
Performance of Child Restraints With Two-Point Belt Securement.
In: 18 Congresso e Exposição Internacionais da Tecnologia
da Mobilidade, 2009, São Paulo. SAE Techinal Paper Series,
2009.
3. LOFFREDO, M.; CAMPOS, J.A.D.B.; GARCIA, P.P.N.S.; LOFFREDO,
L.C.M. Children mortality caused by traffic accident in Brazil,
1997-2005. In: XVI Congresso da Sociedade Portuguesa de Estatística,
2008, Vila Real. Programa e Resumos do XVI Congresso da Sociedade
Portuguesa de Estatística. Lisboa: Sociedade Portuguesa de
Estatística, 2008. v.16. p.167.
Publicação
Tese de Doutorado “Lesões em crianças causadas por acidente
automobilístico: avaliação dos dispositivos de retenção infantil”
Autora: Maria de Castro Monteiro Loffredo
Orientador: Antonio Celso Arruda
Unidade: Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)
Financiamento: Capes
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