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Coentro e urucum evitam oxidação e
perda de nutrientes na carne de pescada
Condimentos naturais
são usados em dois estudos desenvolvidos na FEA
A
experiência acumulada com pesquisas sobre lipídeos, oxidação,
colesterol e óxidos de colesterol levou a professora Neura
Bragagnolo, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)
a orientar duas pesquisas, simultaneamente, tendo como base
a mesma matéria-prima: a pescada branca. A partir da adição
de condimentos naturais como o urucum e o coentro, o primeiro
trabalho teve como foco evitar o processo oxidativo da carne
de peixe, responsável pela formação dos óxidos de colesterol.
O segundo foi analisar a perda de ácidos graxos, principalmente
ômega-3, durante o congelamento e cozimento da pescada. Para
Bragagnolo, os resultados iniciais são bastante promissores,
uma vez que foi constatado um retardamento significativo no
processo de oxidação lipídica no peixe. As pesquisas resultaram
nas dissertações de mestrado de Fabíola Aliaga de Lima e Renata
Aparecida Soriano Sancho e tiveram apoio financeiro da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A docente
esclareceu que, a partir de outra pesquisa realizada em seu
laboratório que resultou na tese de doutorado da aluna Tatiana
Saldanha – também sobre peixes – foi observado que houve diminuição
dos ácidos graxos poli-insaturados com concomitante aumento
da formação de óxidos de colesterol, mesmo quando estocados
no freezer durante o período de 120 dias. “O consumidor dificilmente
olha para a data inicial de estocagem do produto e acaba comprando
um alimento que já perdeu muito de suas qualidades nutricionais”,
afirmou.
Baseado
nestes fatos surgiu a ideia da adição de condimentos com o
objetivo de verificar se estes poderiam evitar a oxidação
lipídica. A escolha pelo coentro e pelo urucum foi feita a
partir de conhecimentos científicos e também populares. O
coentro possui em sua composição polifenóis (compostos fenólicos),
elementos cuja estrutura química e modo de ação os tornam
antioxidantes naturais. Já o urucum é composto de mais de
80% de bixina, um carotenoide com propriedades antioxidantes.
Além disso, são condimentos facilmente encontrados em supermercados
e com preços acessíveis. “A literatura relata o uso de urucum
em alguns trabalhos realizados com outros produtos, como massa,
carne de frango e óleo. Para peixes não foi encontrada nenhuma
publicação”, revelou a orientadora.
Feita
a opção pelos condimentos, o próximo passo foi decidir qual
espécie de peixe seria utilizada na pesquisa. A escolha recaiu
sobre a pescada branca principalmente por ser um peixe magro.
Segundo a docente, atualmente há uma preconização sobre a
ingestão de alimentos com baixo teor de gordura. Escolhido
o fornecedor, foram adquiridos 24 quilos do produto. A compra
foi programada e houve um cuidado muito grande com a amostra
para que a mesma estivesse o mais próximo possível da data
de captura. As alunas limparam toda a pescada, trituraram
e separaram em quatro partes iguais. A primeira era composta
só do peixe (chamada de amostra controle), a segunda teve
adição de urucum, a terceira de coentro e a quarta, adição
dos dois condimentos. “Essa última parte foi feita para verificar
se havia um sinergismo entre os antioxidantes, uma vez que
diferentes mecanismos de ação podem potencializar o poder
antioxidante”, disse Sancho.
Responsável
pela análise dos níveis de ácidos graxos, Sancho contou que
o primeiro passo foi realizar a extração de lipídeos do peixe,
através de um método clássico. Após uma preparação que ocupou
boa parte do tempo, as análises foram realizadas por cromatografia
gasosa (a amostra foi injetada em um cromatógrafo a gás),
que é uma metodologia bem estabelecida para ácidos graxos.
“Foram analisadas 72 amostras durante o experimento”, disse.
A pesquisadora observou que, durante o processo de cozimento,
houve uma perda de ácidos graxos nas diferentes amostras e
que os antioxidantes naturais não se mostraram muito eficientes.
Como
num supermercado, as amostras foram estocadas por 120 dias
a uma temperatura de -18°C. As análises foram feitas em intervalos
de 30 dias e, conforme o tempo foi passando, foi constatado
que na amostra controle houve uma perda importante de ácidos
graxos poli-insaturados e monoinsaturados. “O mais interessante
é que as amostras com antioxidantes foram mais preservadas”,
constatou Sancho. O urucum se mostrou mais eficiente do que
o coentro no que diz respeito à preservação dos ácidos graxos
no peixe durante o congelamento, no entanto, a amostra que
tinha a combinação dos condimentos forneceu uma proteção muito
maior, confirmando a hipótese de sinergismo levantada pela
orientadora.
Sancho
aproveitou para lembrar que se escuta muito que peixe de água
fria é muito rico em ácido graxo ômega-3. No entanto, a pescada
branca utilizada no trabalho foi proveniente do Pará e, embora
seja um peixe de água salgada, mas não fria, possuía uma quantidade
de ômega-3 muito boa. “Do ponto de vista nutricional isso
é muito relevante”, garantiu.
Colesterol
Partindo
da mesma amostragem, Lima analisou os níveis de colesterol
e o produto da oxidação do mesmo por cromatografia liquida
de alta eficiência (HPLC) durante o tratamento térmico e armazenamento
sob refrigeração. Mesmo sendo uma fração lipídica muito pequena
se comparado aos ácidos graxos, o colesterol é importante
para o organismo humano, principalmente para o metabolismo
porque faz parte da composição das membranas celulares e da
síntese de hormônios esteróides.
“No entanto, o colesterol,
assim como os ácidos graxos, pode sofrer oxidação, formando
compostos denominados óxidos de colesterol que podem ser muito
nocivos à saúde, pois promovem danos no DNA, são carcinogênicos,
alteram a seletividade de membranas celulares e promovem o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, observou. O
tipo de tratamento térmico empregado no alimento pode aumentar
esse nível de oxidação. No caso de Lima, o tratamento térmico
utilizado nas amostras condimentadas e controle foi cozimento
em água fervente a 97°C. Os resultados observados pela aluna
demonstram que os níveis de colesterol e de óxidos de colesterol
se mantiveram entre as amostras cruas controle e condimentadas
e as amostras cozidas. Estes resultados são interessantes,
pois o cozimento não induziu a formação dos óxidos. Porém,
durante o processo de armazenamento foi observado que houve
um aumento no nível de óxidos de colesterol em todas as amostras,
o que indica que os condimentos não exerceram proteção nas
condições empregadas. “Embora as amostras adicionadas de coentro
não apresentassem redução significativa, apresentaram menores
teores de óxidos formados, sugerindo que possam prevenir a
oxidação do colesterol em outras condições em que fossem adicionadas”,
avaliou Lima.
Outro ponto que chamou a atenção
da pesquisadora é que o número de óxidos de colesterol relatados
na literatura é bastante grande, no entanto, ela encontrou
na pescada branca apenas cinco. “Mesmo assim, dois deles estavam
em quantidade muito pequena e não puderam ser quantificados”,
ressaltou.
No que diz respeito à quantidade
de condimento adicionado, as amostras de pescada branca, as
alunas disseram que a legislação só trata do urucum como corante
e não há nada sobre sua ação como antioxidante em alimentos.
Portanto, a quantidade escolhida foi feita a partir de outro
trabalho feito no laboratório da professora Bragagnolo com
frango (trabalho publicado na revista Food Chemistry). “Neste
caso, fomos adicionando o urucum até chegarmos próximo da
cor dos produtos encontrados nos supermercados. Desta forma,
utilizamos a mesma quantidade para o peixe”, assegurou.
Para ela, essa quantidade
tem influência no resultado final, mas tudo isso é um campo
novo de pesquisa e pode haver variação. “No caso do coentro,
se tentássemos usar outras concentrações talvez tivéssemos
efeito melhor em relação aos óxidos, mas para a preservação
dos ácidos graxos essas concentrações foram eficientes. Eles
preservaram muito os ácidos graxos, principalmente os poli-insaturados”,
afirmou a docente.
A grande contribuição dessa
pesquisa, segundo Bragagnolo, é que ela dá um indício do que
possa ser, para a indústria, passar a oferecer comercialmente
o peixe com esses condimentos naturais. Além disso, o consumidor
verá essa iniciativa de maneira mais agradável e terá uma
maior aceitação, com o esclarecimento de que está comprando
um produto com antioxidantes naturais. A idéia é que a indústria
possa absorver esses conhecimentos”, concluiu a professora.
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Publicações
Dissertação de mestrado “Influência da adição
de urucum e coentro na formação de óxidos de colesterol durante
o tratamento térmico e armazenamento de pescada branca”
Autora: Fabíola Aliaga de Lima
Orientadora: Neura Bragagnolo
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos
(FEA)
Fonte de financiamento: Fapesp/CNPq
Dissertação de mestrado “Efeito
da Adição de Coentro e Urucum na composição de ácidos graxos
em Filé de Pescada Branca (Cynoscion spp)”
Autora: Renata Aparecida Soriano Sancho
Orientadora: Neura Bragagnolo
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos
(FEA)
Fonte de financiamento: Fapesp/Capes
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