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A ciência a serviço do esporte adaptado
Vinte e cinco especialistas ligados à Unicamp estiveram
nos Jogos Paraolímpicos de Pequim

MANUEL ALVES FILHO

O Brasil realizou em Pequim a sua melhor campanha na história dos Jogos Paraolímpicos. O país conquistou 16 medalhas de ouro, 14 de prata e 17 de bronze, desempenho que o colocou na nona posição no quadro geral da competição. O resultado deveu-se, obviamente, ao mérito dos atletas, mas também ao trabalho de centenas de profissionais que atuaram nos “bastidores” do evento, colocando seus conhecimentos a serviço do esporte nacional na China. Entre eles estiveram 25 especialistas ligados à Unicamp, que levaram a sua contribuição para que nadadores, corredores, futebolistas etc pudessem desempenhar suas atividades da melhor forma possível. Foram convocados educadores físicos, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros.

Menos de uma semana depois de retornarem de Pequim, parte dos profissionais vinculados à Universidade já estava preparada para ministrar uma palestra aos alunos de graduação da Faculdade de Educação Física (FEF). O objetivo era compartilhar com os estudantes um pouco da experiência acumulada na China. “Esse é mais um aspecto gratificante da nossa participação nos Jogos. As Paraolimpíadas são o acontecimento máximo para quem trabalha na área de esportes adaptados. Trazer essa vivência aos nossos alunos equivale a colocá-los em contato com o que há de mais novo nesse segmento em âmbito mundial”, explica José Júlio Gavião de Almeida, professor da FEF e membro do Laboratório de Atividade Motora Adaptada (Lama) daquela faculdade.

Gavião foi convocado para ir a Pequim para atuar junto ao Escritório do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Foi a terceira participação dele em Paraolimpíadas. De acordo com o docente, a incorporação cada vez maior dos conhecimentos científicos às atividades esportivas é um dos pontos responsáveis pela evolução do país na competição. “Atualmente, não é possível realizar esporte de alto rendimento sem o aporte da ciência e da tecnologia. Isso vale tanto para o esporte olímpico quanto para o paraolímpico. Quando falamos em treinamento, estamos falando também em fisiologia, medicina, psicologia, sociologia e uma série de outras áreas que ajudam a preparar adequadamente o atleta para uma disputa”, afirma.

A FEF, destaca Gavião, transformou-se ao longo do tempo em centro de excelência em pesquisas relacionadas ao esporte adaptado. As atividades foram iniciadas pelos professores Edison Duarte, Paulo Ferreira de Araújo e José Luiz Rodrigues. Graças a essa condição, a faculdade tem formado pessoal qualificado para atuar na área. “Mas vale destacar que a convocação dos profissionais para trabalhar numa Paraolimpíada não tem a ver somente com a chancela da instituição onde estudam ou se formaram. O que mais pesa é a qualidade do trabalho que realizam e do envolvimento pessoal que cada um tem com o esporte paraolímpico. Isso é muito interessante porque consolida o trabalho científico e estabelece condições para outras pessoas venham participar desse esforço”, analisa.

Da esq. para a dir., Andréa Jacusiel Miranda, José Júlio Gavião de Almeida, Artur José Squarisi  de Carvalho, Marília Passos Magno e Silva e Tatiane Jacusiel Miranda: força-tarefa multidisciplinar  (Foto: Antoninho Perri) Quem também esteve em Pequim foi Artur José Squarisi de Carvalho, que fez graduação e mestrado na FEF. Atualmente, ele é assessor técnico da Confederação Brasileira de Esportes para Cegos. Nos Jogos Paraolímpicos, coordenou a área de transporte no interior da Vila Paraolímpica, também junto ao Escritório do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Artur conta que quando começou a trabalhar com esportes adaptados a participação em uma Paraolimpíada era um sonho distante para ele. “Normalmente, começamos a trabalhar de forma voluntária e depois vamos nos envolvendo cada vez mais. Participar de um evento como o de Pequim é o ápice na carreira de qualquer um que atua na área de esporte adaptado. Ou seja, é um processo que precisa ser construído. A convocação, portanto, é fruto desse trabalho e desse comprometimento”, diz.

Para Artur, a participação nos Jogos Paraolímpicos foi valiosa não apenas sob o aspecto profissional, mas também pessoal. Nos cerca de 20 dias em que passou em Pequim, ele teve oportunidade de travar contato com pessoas do mundo todo, mas especialmente com os voluntários chineses. “Isso foi muito importante porque me ajudou a conhecer a cultura daquele país, algo que está muito distante da nossa realidade do dia-a-dia. A experiência foi fantástica”. Quem compartilha da mesma opinião é Andréa Jacusiel Miranda, membro da equipe médica brasileira em Pequim. Ao todo, eram 11 profissionais, sendo que cinco deles tiveram parte da sua formação feita na Unicamp. Ela explica que o trabalho dos médicos começou ainda na fase de preparação dos atletas, período em que ocorrem avaliações prévias.

Depois, a equipe participou da fase de treinamento e adaptação dos competidores brasileiros, realizada em Macau. Por último, houve o acompanhamento durante as provas propriamente ditas. “Além disso, a equipe médica também esteve inserida na tarefa de classificação das deficiências dos atletas, que é feita pelo Comitê Paraolímpico Internacional, e no acompanhamento dos exames antidoping. Neste último caso, uma de nossas responsabilidades era orientar os atletas a respeito dos medicamentos que eles poderiam ou não tomar. Além disso, nós ainda éramos responsáveis pelo atendimento dos demais membros da delegação. No vôo de ida, aliás, nós tivemos que socorrer uma pessoa que apresentou problema de saúde”, relata.

Marília Passos Magno e Silva esteve em Pequim como integrante da equipe de fisioterapeutas da delegação brasileira. Ao todo, foram convocados 12 profissionais da área. Ela, que atualmente é aluna de mestrado na FEF, trabalha com esporte paraolímpico desde 2005. “Comecei trabalhando com cegos e me apaixonei. Isso me fez buscar mais informações sobre o esporte adaptado, e acabei descobrindo que a FEF era um centro de excelência nessa área. Atualmente, atuo com o Goalball feminino”, conta. De acordo com Marília, a participação nas Olimpíadas foi a concretização de um sonho. “A aspiração de qualquer fisioterapeuta é integrar uma equipe esportiva. Participar dos Jogos foi um passo além”.

A fisioterapeuta explica que os profissionais que acompanharam os atletas brasileiros estiveram em três frentes de atuação. O nível primário compreendeu a prevenção das lesões e a promoção da saúde. O secundário correspondeu ao tratamento das lesões agudas. O terciário abrangeu as atividades para a prevenção das lesões crônicas. “Todo esse trabalho foi dividido em dois momentos. Tivemos o período de preparação e aclimatação dos atletas, em Macau, e o período de competição, em Pequim”, esclarece.

Ao todo, a equipe ficou responsável pelo acompanhamento de 170 atletas. “Foi uma experiência profissional e pessoal maravilhosa”, avalia. No estudo que faz para a sua dissertação de mestrado, Marília pretende traçar o perfil das lesões esportivas mais comuns em atletas com deficiência visual. “Depois, espero aplicar os resultados na base, de modo a melhorar as condições e a qualidade de vida dos nossos competidores”.

A família Jacusiel Miranda contou com duas representantes na China. Além da médica Andréa, a irmã dela, Tatiane, também trabalhou nos Jogos Paraolímpicos. Esta, porém, foi convocada pelo Comitê Paraolímpico Internacional. “Minha tarefa foi ajudar a garantir que tudo saísse conforme o planejado”, diz. Embora tenha participado das Paraolimpíadas de Atenas, na Grécia, Tatiane conta que a experiência em Pequim foi diferente em enriquecedora. “Por estar a serviço do Comitê Internacional, tive a oportunidade de ter uma visão mais ampla da competição. Foi muito interessante”, afirma. Outro aspecto importante lembrado pelos cinco entrevistados é que a experiência e o conhecimento adquiridos por ocasião dos Jogos Paraolímpicos de Pequim servirão não somente para aprimorar a preparação dos atletas nacionais, mas também para melhorar a qualidade de vida das demais pessoas com deficiência. “Ou seja, todo esse envolvimento também tem um aspecto social importante”, define Marilia. 

 

 
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