Um
novo modelo de catalisador automotivo foi desenvolvido no
Instituto de Química (IQ) da Unicamp. A invenção compreende
um composto catalítico formado por metais de transição da
série dos lantanídeos, que são cerca de 50% mais baratos do
que os metais nobres usados nos compostos disponíveis no mercado
atualmente. A tecnologia teve seu pedido de patente depositado
no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) por
meio da Agência de Inovação Inova Unicamp e está disponível
para transferência para o mercado.
Raphael Suppino, inventor da tecnologia juntamente com
Hubert Augusto Alvarez, explica que o catalisador é constituído
por uma peça de cerâmica, que fica entre a saída dos gases
do motor e o escapamento. “A finalidade do catalisador é
converter os gases nocivos que saem da queima do combustível
para serem liberados na atmosfera”, afirma. Ele explica
que seu formato é de uma colméia cerâmica, cheia de furos.
“Nesta peça é impregnado o composto catalítico”, descreve.
Segundo Suppino, ele e Alvarez desenvolveram um material
para composto catalítico diferente do que é usado atualmente.
“O catalisador automotivo comercial é constituído de materiais
nobres, como paládio, ródio e platina, que acabam custando
muito caro para a reposição da peça”, avalia. O pesquisador
observa que obter um material de custo mais acessível foi
uma das motivações da pesquisa que resultou na patente para
a nova tecnologia. “Além do baixo custo, conseguido graças
à novidade da utilização de materiais, o composto apresenta
uma eficiência ainda maior do que o produto comercializado
atualmente”, declara.
De acordo com o pesquisador, o novo material apresenta
melhor desempenho, principalmente no que tange aos óxidos
de nitrogênio. “Os catalisadores disponíveis no mercado
convertem 96%, 97% e 90% dos gases nocivos (CO, HC e NOx
respectivamente), enquanto o novo material converte entre
95% e 99% de todos os gases”, explica.
Já para Alvarez, a boa atividade catalítica dos catalisadores
indicados na patente é comprovada porque eles atuam, simultaneamente,
na oxidação do CO e HC e na redução expressiva do NOx. “Também
é preciso dizer que não foi observada a presença de fuligem
na superfície dos catalisadores que foram testados utilizando
um motor diesel de bancada de laboratório. Isso nos garante
uma boa eficiência”, coloca Alvarez.
No Brasil, os catalisadores automotivos são obrigatórios
em todos os veículos fabricados a partir de 1992. Entretanto,
a vida útil do dispositivo não é respeitada por um grande
número de proprietários de veículos. Uma pesquisa da Companhia
de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e a Associação
dos Fabricantes de Equipamentos para Controle de Emissões
Veiculares da América do Sul (AFEEVAS) divulgada em 2007
apontou que cerca de 37% dos carros não controlam suas emissões
e 24% praticaram indevidamente a retirada dos catalisadores,
ou mantêm em seu lugar componentes que não reduzem as emissões
de poluentes.
A AFEEVAS indica que após 80 mil km rodados ocorre degradação
natural do dispositivo por envelhecimento e é necessária
a sua troca. Entretanto, o preço da peça acaba sendo um
impeditivo, pois a troca do catalisador de um automóvel
popular pode custar em torno de mil reais.
Suppino
aponta que, neste contexto, a nova tecnologia vem em um
momento importante, pois com o aumento da frota de automóveis,
a emissão de gases tóxicos pela falta de reposição do catalisador
deve também aumentar consideravelmente. “Os catalisadores
dos carros novos fazem a conversão sem problemas. O problema
é que a troca deve ser feita em três a cinco anos, e como
o custo do catalisador é relativamente alto, muitos deixam
de trocar a peça” considera.
O pesquisador afirma que o novo catalisador também mostrou
ter propriedade de auto-renovação nos testes de laboratório,
podendo alcançar, portanto, uma vida útil mais longa do
que os equipamentos tradicionais. “Falta fazer um teste
no automóvel para autenticar o aumento da vida útil do novo
modelo. Nos testes em laboratório, o catalisador se auto-renova
com o ar em excesso dos motores. Por isso, nós acreditamos
que a vida útil deste catalisador será mais longa do que
a dos atuais”, analisa.
Além disso, os inventores destacam que na fase em laboratório
a invenção entrou em atividade mais rapidamente, pois enquanto
os catalisadores comerciais entram em operação ótima por
volta de 500/600 graus Celsius, o novo modelo só precisa
alcançar cerca de 200/250 graus Celsius. “Este é um diferencial
importante, pois até o motor atingir a temperatura de conversão
demanda algum tempo, no qual os gases que saem não estão
sendo convertidos. Isto acontece quando o carro está ligado
no estacionamento”, exemplifica Suppino.
Suppino
comenta que embora a eficiência da tecnologia tradicional
seja comprovada, pesquisas apontam que os metais do catalisador
atual acabam, por erosão, se depositando no meio ambiente.
“Isto representa uma ameaça à saúde das pessoas, pois eles
se tornam biodisponíveis na natureza”. Segundo ele, em locais
de tráfego alto de automóveis é identificada poluição de
metais nobres presentes nos catalisadores comerciais. “A
pesquisa de Cláudia Morcelli, do Instituto de Pesquisas
Energéticas e
Nucleares (IPEN), aponta concentrações de paládio, ródio
e platina, 150, 133 e 42 vezes acima do normal, respectivamente,
em locais de grande movimentação de veículos. Sais de platina
são causadores de alergia, rinite e até mesmo asma”.
Suppino conta que a eliminação destes materiais é feita
pelo ar. “Dentro da cerâmica os gases vão sendo convertidos,
mas também há o atrito entre os gases e a parede do catalisador,
que, somado às vibrações mecânicas e à temperatura, vão
acarretando um processo de erosão através do qual os metais
da mistura catalítica comercial são expelidos pelo ar. É
um processo bem lento, mas com uma frota de veículos grande,
o processo é considerável”, pondera, lembrando que a nova
tecnologia não apresenta tais metais.
Inova deu o suporte necessário