A
lingüista Monica Vasconcellos Cruvinel analisou os rastros
virtuais deixados nas páginas do Orkut – plataforma de relacionamentos
da internet – por adolescentes que se suicidaram. No estudo
desenvolvido no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL),
para obtenção do título de mestre, Mônica analisou 18 casos
de adolescentes, na faixa etária entre 13 e 20 anos, que
se suicidaram, e nas mensagens deixadas para os amigos,
anunciaram o desejo de morrer. A seleção do material foi
feita a partir das páginas das pessoas que, embora mortas,
não tiveram seus perfis excluídos do site pelo desconhecimento
da senha de acesso por parte de amigos e familiares do usuário.
Monica acredita que o Orkut tem se constituído como um
espaço de sociabilidade importante de produção e circulação
dos discursos dos jovens e, muitas vezes, não tem merecido
a atenção necessária por parte dos profissionais que trabalham
com adolescentes. “No Orkut, os jovens interagem sem a mediação
dos pais, professores, psicólogos, médicos etc.. Encontram
liberdade para falar dos seus sentimentos e de suas necessidades.
Por isso, defendo que devemos olhar para internet como um
espaço de escuta. Apenas a criação de normas para regulamentar
o site não vai evitar que os jovens encontrem outros espaços
para anunciarem suas próprias mortes. É preciso navegar
com eles”, avalia a lingüista que foi orientada pela professora
Maria Bernadete Marques Abaurre, e co- orientada pelo professor
Neury José Botega, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).
Os jovens analisados pertenciam à classe média e eram usuários
assíduos da internet. Ela relata que alguns chegavam a passar
em torno de 20 horas navegando. Nas mensagens sempre apareciam
elementos e indícios que apontavam para solidão, impossibilidades
de cumprir desafios, a falta de perspectiva para o futuro
e situações amorosas complicadas. “Cada sujeito é singular,
mas muitas vezes o motivo apontado era apenas justificativa
superficial para o ato. Um exemplo foi um garoto de 13 anos
que falava muito do sofrimento causado por uma separação
iminente com a namorada e, por isso não queria mais viver.
Quando investiguei o caso, percebi que, em algumas mensagens
escritas por ele, existiam indícios de que ele era vítima
de violência doméstica”.
Mais do que um problema apontado por especialistas como
sendo de saúde pública, para Mônica o suicídio é também
uma questão social. Ela afirma ser um fenômeno multideterminado
e reconhece as complexidades do assunto. Alerta para o fato
de que o suicídio de uma pessoa pode motivar o de outras,
sendo assim “contagioso”. Desta forma, existem normas que
regulamentam a divulgação dos casos de suicídio. No entanto,
Mônica argumenta que, na internet, os jovens e adolescentes
estão encontrando um espaço para se expressarem e, por isso,
defende que o assunto deveria ser mais discutido nas escolas
e em outras instâncias da sociedade, pois o número de casos
aumenta a cada ano, principalmente entre os jovens.
Entre os suicidas, Mônica encontrou um número expressivo
de integrantes das tribos urbanas conhecidas como “góticos”
e “emos”, sendo que muitos dos quais fazem apologia da morte.
No trabalho de doutorado, ela pretende analisar o comportamento
dessas tribos e identificar a relação de suicídio com as
músicas ou práticas específicas que realizam.