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Lingüista analisa mensagens
deixadas por jovens no Orkut

RAQUEL DO CARMO SANTOS

A lingüista Monica Vasconcellos Cruvinel, autora da pesquisa: “Devemos olhar para internet como um espaço de escuta” (Foto: Antonio Scarpinetti)A lingüista Monica Vasconcellos Cruvinel analisou os rastros virtuais deixados nas páginas do Orkut – plataforma de relacionamentos da internet – por adolescentes que se suicidaram. No estudo desenvolvido no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), para obtenção do título de mestre, Mônica analisou 18 casos de adolescentes, na faixa etária entre 13 e 20 anos, que se suicidaram, e nas mensagens deixadas para os amigos, anunciaram o desejo de morrer. A se­leção do material foi feita a partir das páginas das pessoas que, embora mortas, não tiveram seus perfis excluí­dos do site pelo desconhecimento da senha de acesso por parte de amigos e familiares do usuário.

Monica acredita que o Orkut tem se constituído como um espaço de sociabilidade importante de produção e circulação dos discursos dos jovens e, muitas vezes, não tem merecido a atenção necessária por parte dos pro­fissionais que trabalham com adolescentes. “No Orkut, os jovens interagem sem a mediação dos pais, professores, psicólogos, médicos etc.. Encontram liberdade para falar dos seus sentimentos e de suas necessidades. Por isso, defendo que devemos olhar para internet como um espaço de escuta. Apenas a criação de normas para regulamentar o site não vai evitar que os jovens encontrem outros espaços para anunciarem suas próprias mortes. É preciso navegar com eles”, avalia a lingüista que foi orientada pela professora Maria Bernadete Marques Abaurre, e co- orientada pelo professor Neury José Botega, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

Os jovens analisados pertenciam à classe média e eram usuários assíduos da internet. Ela relata que alguns chegavam a passar em torno de 20 horas navegando. Nas mensagens sempre apareciam elementos e indícios que apontavam para solidão, impossibilidades de cumprir desafios, a falta de perspectiva para o futuro e situações amorosas complicadas. “Cada sujeito é singular, mas muitas vezes o motivo apontado era apenas justificativa superficial para o ato. Um exemplo foi um garoto de 13 anos que falava muito do sofrimento causado por uma separação iminente com a namorada e, por isso não queria mais viver. Quando investiguei o caso, percebi que, em algumas mensagens escritas por ele, existiam indícios de que ele era vítima de violência doméstica”.

Mais do que um problema apontado por especialistas como sendo de saúde pública, para Mônica o suicídio é também uma questão social. Ela afirma ser um fenômeno multideterminado e reconhece as complexidades do assunto. Alerta para o fato de que o suicídio de uma pessoa pode motivar o de outras, sendo assim “contagioso”. Desta forma, existem normas que regulamentam a divulgação dos casos de suicídio. No entanto,

Mônica argumenta que, na internet, os jovens e adolescentes estão encontrando um espaço para se expressarem e, por isso, defende que o assunto deveria ser mais discutido nas escolas e em outras instâncias da sociedade, pois o número de casos aumenta a cada ano, principalmente entre os jovens.

Entre os suicidas, Mônica encontrou um número expressivo de integrantes das tribos urbanas conhecidas como “góticos” e “emos”, sendo que muitos dos quais fazem apologia da morte. No trabalho de doutorado, ela pretende analisar o comportamento dessas tribos e identificar a relação de suicídio com as músicas ou práticas específicas que realizam.

 

 
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