Pesquisa de fonoaudióloga alerta
para aspectos subjetivos da gagueira
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
A
fonoaudióloga Maria Teresa Teani de Freitas, em estudo desenvolvido
no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), contrapõe o
olhar de profissionais da saúde que atestam a gagueira infantil
como um distúrbio de fluência com causa genética e hereditária.
“São estudos que descrevem as perturbações da fala como
algo controlável e que o paciente tem consciência de quando
será acometido pela gagueira. Não reconhecem os elementos
subjetivos envolvidos na questão”, explica a fonoaudióloga.
Segundo ela, outros trabalhos tratam ainda das dificuldades
do gago apenas como um problema na emissão dos fonemas oclusivos,
quando a pesquisa de Maria Teresa comprova, justamente,
que existe bloqueio em todos os sons emitidos.
Para o estudo, a fonoaudióloga
colheu dados de vários anos de experiência profissional
no tratamento da gagueira e, a partir de referencial teórico
de interacionismo em aquisição de linguagem, analisou falas
de crianças e adultos para compor a dissertação de mestrado
orientada pela professora Maria Fausta Cajahyba Pereira
de Castro, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Aquisição
de Linguagem do IEL.
Em geral, explica Maria
Teresa, fonoaudiólogos e pediatras acreditam que entre dois
e quatro anos de idade a gagueira ou disfluência infantil
deve ser encarada como “algo natural” e, com a maturidade
e avanço da idade, a dificuldade tende a desaparecer. No
entanto, em sua dissertação, Maria Teresa alerta para a
necessidade de se considerar no processo de aquisição da
fala e linguagem o que chamou de um corpo psiquicamente
constituído.
“A linguagem não é uma habilidade
e nem o corpo do falante é apenas um organismo que, com
treinos e muitas situações de fala, passaria a funcionar
à perfeição. É certo que a gagueira surge na infância e
pode ou não evoluir; por isso, o diagnóstico precoce, o
envolvimento familiar na terapêutica e os cuidados nas vivências
da criança são importantes para um bom resultado”, declara.
A pesquisadora lembra os
fatores sociais da questão, pois os pacientes são frequentemente
associados a figuras engraçadas e, muitas vezes, enroladas
e atrapalhadas. São vistos de maneira pejorativa. No entanto,
trata-se de um grande sofrimento, pois tem a ver com a identificação
do sujeito. Neste sentido, determinadas terapêuticas tendem
a piorar o quadro ao invés de melhorá-lo com a utilização
de certos recursos que escondem o problema ou são encarados
como bengalas.
Outro aspecto lembrado por
Maria Teresa é a reação da família que deveria auxiliar
no tratamento, mas muitas vezes não sabendo como lidar com
o problema, entra em pânico e dificulta ainda mais a situação.
Segundo a fonoaudióloga, estima-se que em torno de 1% da
população mundial sofra deste mal, com uma incidência maior
no sexo masculino. E, assim, faz-se necessário o estudo
da questão por variados ângulos.
A gagueira aparece na infância,
basicamente na autoria de uma fala ou pensamento ou quando
precisa se explicar algo. Neste sentido, um fator que caracteriza
o gago é o bloqueio em desenvolver as falas e suas interrupções.
Isso tem relação direta com a posição do sujeito na linguagem.
“Tratar a gagueira com a técnica de repetição de falas,
por exemplo, não seria adequado, pois se baseia no conhecimento
do gago e na sua percepção e não há a suspensão dessa posição
do sujeito no controle da sua fala. Buscamos uma intervenção
que justamente mude o modo como o falante gago lida com
o seu sintoma”, argumenta.