‘Fruta eletrônica’ reduz prejuízos pós-colheita
O Laboratório de Sensores Microeletrônicos
(LSM) da FEEC, coordenado pelo professor Fabiano Fruett,
pesquisa e desenvolve sensores microeletromecânicos (MEMS)
com foco acadêmico, mas sempre na perspectiva de encontrar
uma aplicação para seus produtos, que também são obrigatoriamente
de baixo custo. É o caso de uma esfera instrumentada para
medição de impactos e de temperatura que pode ser muito
útil na agricultura, batizado pelos pesquisadores com
o sugestivo nome de “fruta eletrônica”.
É sabido que o Brasil é um dos maiores
produtores mundiais de frutas e hortaliças. Entretanto,
nem todos sabem que a perda de produtos depois da colheita,
devido a danos físicos e estresse térmico, está estimada
atualmente em cerca 40%, podendo chegar a 50%, dependendo
da variedade. Parte da produção não chega ao consumidor
final, sendo descartada já na central de distribuição.
“O Brasil possui distâncias colossais,
sendo que no Sudeste consumimos frutas produzidas no Nordeste
e no Sul. Nesse trajeto, o motorista vai enfrentar estradas
esburacadas para fugir do pedágio e deixar o caminhão
sob o sol enquanto almoça. Na chegada do carregamento
à Ceasa, muitos frutos não terão a mesma qualidade de
quando foram colhidos”, observa Fabiano Fruett.
A “fruta eletrônica” é resultado da dissertação
de mestrado de Murilo Nicolau, orientada por Fruett. É
dotada de acelerômetros triaxiais para medir e armazenar
dados de impactos, e de um sensor de temperatura que faz
o mesmo na faixa de 0ºC a 80ºC. Misturada em um carregamento
de laranjas verdadeiras, a fruta pode ser resgatada na
Ceasa, ligando-se um cabo, com conector USB, para descarregar
os dados que podem ser visualizados instantaneamente em
um computador.
O orientador da dissertação informa que
a esfera instrumentada passou por testes em uma usina
de beneficiamento de laranjas da cidade de Engenheiro
Coelho (SP), sofrendo os impactos de aceleração na esteira
e de variação de temperatura (na lavagem, higienização
e secagem das frutas). “Existem instrumentos comercializados
que medem a aceleração, mas não a temperatura. O nosso
é o único que executa as duas funções”.
O baixo preço é o aspecto ressaltado pelo
professor da FEEC, já que os instrumentos no mercado,
na maioria importados, chegam a custar 3 mil euros (quase
R$ 8 mil), quando o custo de laboratório da “fruta eletrônica”
foi de aproximadamente R$ 500. “Um pequeno produtor que
quiser conferir como sua fruta chega ao consumidor, não
precisaria necessariamente adquirir o instrumento. Entretanto,
ele poderia ser bastante útil aos órgãos governamentais
e associações de produtores interessados em investigar
as causas e reduzir as perdas de pós-colheita”.
Foi nesse sentido, segundo Fabiano Fruett,
que se firmou uma parceria com a Embrapa de São Carlos,
por intermédio do pesquisador Marcos David, que também
é docente da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri)
da Unicamp. “Criamos um instrumento para viabilizar pesquisas
por parte da Embrapa, que já demonstrou interesse em registrar
patente. De nossa parte, estamos desenvolvendo uma versão
reduzida da ‘fruta eletrônica’ – da dimensão de uma laranja
para a de um limão”.
Para o futuro
Entre outros desenvolvimentos de sensores eletrônicos,
mas com aplicações mais para o futuro, está o objeto de
doutorado de Paulo Zambrozi Junior, visando à medição
de umidade e fluxo de ar. O sensor tem dimensões micrométricas
e está sendo fabricado no Centro de Componentes Semicondutores
(CCS) da Unicamp. Ele poderia ser aplicado para verificar
as condições de armazenamento de grãos, onde temperatura
e umidade são os fatores de degradação, vislumbrando-se
ainda seu uso para detecção de gases.
Na mesma linha, Juvenil Costa e Alexander
Flacker, também em colaboração com o CCS, desenvolveram
um sensor feito sobre alumina e com uma tecnologia de
eletrodos interdigitados que permite medir grandezas antes
difíceis de captar no domínio químico. Este sensor é fabricado
com materiais estáveis e pode ser empregado para medir
grandezas em ambientes corrosivos ou até mesmo enterrado
no solo.
Um sensor de pressão com circuito
microeletrônico de condicionamento, considerado o de mais
baixo consumo do mundo (3 microwatts) quando foi desenvolvido
pelo mestrando Vitor Garcia em 2006, já possui similares
utilizados comercialmente. O projeto é do Laboratório
de Sensores Microeletrônicos, mas o circuito integrado
foi fabricado em uma empresa austríaca através do Programa
Multi-Usuário da Fapesp. Os carros importados trazem esses
sensores para medir a pressão no interior de pneus, indicando-a
no painel – esta medida de segurança, obrigatória em países
como os Estados Unidos, logo deverá ser lei também no
Brasil.