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Projeto ambiental da FT atende crianças
com necessidades educacionais especiais

Atividades incluem aulas de informática, jogos e atividades práticas

MARIA ALICE DA CRUZ

Joel Paulo Bueno da Silva, autor de projeto de enciclopédia digital, ministra aula na Faculdade de Tecnologia da Unicamp: incluso de 40 crianas (Fotos: Antonio Scarpinetti)Projeto de Extensão “Ecoedu – Plantando Conhecimento”, da Faculdade de Tecnologia da Unicamp (FT), em Limeira, tornou-se responsável pela inclusão social e digital de 40 crianças e adolescentes de 9 a 14 anos da Apae do município. Mantendo no foco a educação ambiental, o projeto tem como missão promover a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais e em situação de vulnerabilidade social no município de Limeira. A ideia, de acordo com a professora do Departamento de Hidráulica da FT Lubienska Cristina Lucas Jaquiê Ribeiro, coordenadora e idealizadora do projeto, é inserir as crianças e os formadores em um mundo de possibilidades de participação ativa na formação de uma cultura de pensadores, de socialização e de melhoria do rendimento escolar. “Cada indivíduo participante percebe-se integrante, dependente e agente de transformações positivas na sociedade e em seu meio”, reforça Lubienska.

Aulas de informática, jogos eletrônicos, dinâmicas, atividades práticas e aulas com apresentações teóricas em uma cadeira de estudante da Unicamp. Este é o conjunto de novas ferramentas na realidade de crianças que, segundo Lubienska, passam a medir suas próprias possibilidades, entre as quais a de frequentar o ambiente acadêmico. A interação com a coordenadora e com os jovens professores do projeto também estimula a autoinclusão dos participantes na escola formal. “Muitos deles se sentem inibidos de frequentar a escola pública, mas depois de se darem conta do que são capazes, acabam encarando com mais naturalidade a possibilidade de frequentar as escolas da rede municipal”, acrescenta Lubienska.

De acordo com Lubienska, o projeto Ecoedu, apesar de recente, tem conseguido excelentes resultados para a Apae, para a Universidade e para comunidade. No Congresso de Iniciação Científica deste ano, foram apresentados três projetos e um está em andamento. Um deles, intitulado «Desenvolvimento de Softwares Educacionais Voltados para Educação de Crianças Com Necessidades Educacionais Especiais », assinado por Aline Teles Cristalino, envolveu a criação de um software em forma de jogo de memória para as crianças, como forma de promover a aprendizagem em informática. O segundo é « Desenvolvimento de Tecnologia para Auxílio na Educação Ambiental – Enciclopédia Digital », de autoria do estudante de saneamento ambiental, Joel Paulo Bueno da Silva; e o terceiro, desenvolvido por Juliana de Ameida, chama-se «Enciclopédia Digital para auxiliar em Projetos de Educação Ambiental ».

E o interesse acadêmico não para por aí, pois dois trabalhos de conclusão de curso são finalizados neste semestre. Lubienska afirma que foram publicados cinco artigos em congressos nacionais durante a existência do projeto. “E mais cinco possíveis publicações estão a caminho ainda este ano”, afirma.

A professora Lubienska Cristina Lucas Jaquie Ribeiro, coordenadora do projeto: alunos de diferentes unidades se oferecem para desenvolver projetosA contento de todos os envolvidos, as atividades estimulam o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, de acordo com a avaliação de profissionais da área de psicopedagogia da Apae de Limeira. Além disso, o projeto já colaborou para a inclusão de 20 alunos na rede municipal de Ensino. A mudança de comportamento e de visão das crianças é perceptível, segundo a professora.

Ela informa que, semestralmente, são realizadas avaliações e entrevistas com todos os participantes (inclusive os autores) para diagnóstico qualitativo e quantitativo individuais. No final da avaliação do segundo semestre, a equipe encaminha para a Apae relatos que ajudam na continuação ou seleção dos participantes do ano seguinte. «Nós observamos que eles têm um desenvolvimento mais rápido. Para eles, é uma motivação grande estar na Unicamp, porque, a princípio, é algo muito distante deles. Eles melhoram o comportamento também em casa ao saber que vão fazer um trabalho na Unicamp», analisa Lubienska.

O solo, a água, os resíduos sólidos e a poluição do ar tornam-se, por direito e de fato, temas de domínio público. Os autores do projeto fazem a discussão dos temas, das pesquisas de conteúdos e elaboram os planos das aulas a ser ministradas ao longo de cada semestre. Os conteúdos, segundo Lubienska, servem para estimular o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e a formação de um aluno mais consciente em relação aos recursos naturais e ao meio em que vive. «Os monitores têm de atuar dentro da área de formação deles – informática, telecomunicações, engenharia sanitária e construção civil. Acabamos por trabalhar essas quatro áreas dentro do projeto», acrescenta a professora.

As atividades oferecidas até agora, segundo Lubienska, visam ao desenvolvimento da percepção, da imaginação, da observação, do raciocínio lógico, do controle gestual e da capacidade psíquica de cada um. As atividades servem para propiciar a superação da timidez, a sensibilização, a socialização e a superação de limites, segundo a professora.

Formigas
A luta para manter o projeto com esforço próprio e doações, desde 2006 , foi um aquecimento para que o trabalho chamasse a atenção de avaliadores e jurados de três diferentes editais em 2009. O primeiro deles foi a premiação de destaque de 2009 no 3º Cidadania sem Fronteiras, em agosto. Em seguida, o projeto recebeu a aprovação do Programa de Extensão Comunitária (PEC) da Pró-Reitoria de Extensão Comunitária (Preac) da Unicamp e também do Proext do Governo Federal. «É um trabalho de formiguinha. Ainda não sabemos ao certo todos os recursos financeiros que teremos em mão, mas estamos muito felizes porque passamos a ser conhecidos pela sociedade e pela Universidade, que considerou o trabalho consistente no último edital do PEC ».

Na FT, o apoio também tomou uma proporção maior aos olhos de docentes de diferentes áreas. Segundo Lubienska, alunos de diferentes unidades da Unicamp e de outras instituições se oferecem para desenvolver projetos de iniciação dentro do Ecoedu. «Ainda precisamos de parceria com profissionais de outras área da Unicamp, porque sou da área de tecnologia e não posso orientar, por exemplo, um aluno de fisioterapia ou psicologia. E muitos estudantes têm demonstrado interesse », declara.

Pais têm aulas de informática


As aulas de informática, além de atingirem os estudantes, são ministradas também para os pais em um esforço voluntário do grupo. Para Lubienska, o Ecoedu se apresenta como um espaço que valoriza o ser humano, que promove o autoconhecimento, a autoestima, o senso crítico e possibilita escolhas mais conscientes. “É um trabalho lento a extensão realizada pelo Ecoedu-Ambiental – Plantando Conhecimento, após quatro anos de existência é que se começa a reconhecer os esforços realizados, que a princípio desacreditado por muitos, mas extremamente gratificante para o grupo em termos de compromisso com a comunidade”, avalia.

E os alunos entendem a essência do desejo da professora ao criar o projeto. Mesmo tendo como uma das exigências a aplicação de elementos de sua área de formação na transmissão de conhecimentos de educação ambiental, não abrem mão de participar da manutenção do projeto. Enquanto os recursos não são transferidos, eles se responsabilizam, inclusive, pela alimentação (lanche das crianças). “É uma oportunidade do crescimento pessoal de todos. Trabalhar com o ser humano exige muita responsabilidade, e os alunos acabam tendo contato com uma realidade que não é a deles. A situação de muitas das crianças participantes é precária, e os monitores têm consciência até da necessidade de alimentá-las para que aproveitem melhor as atividades”, afirma Lubienska.

Responsabilidade social
Como voltar a atenção de profissionais e alunos tão ocupados em desenvolver tecnologia para atividades que devolvam à sociedade os conhecimentos gerados na universidade pública? Foi tentando responder a essa pergunta que Lubienska decidiu elaborar o Ecoedu. «Acreditando que a Educação Ambiental deva estar presente em todas as instituições de ensino e fazer parte da formação de todo cidadão, elaboramos, em 2006, este projeto, tendo como atividade inicial um trabalho voluntário de equoterapia em Limeira», afirma.

 

Suelson, pronto para a ‘firma’

Natália Rick, aluna de saneamento ambiental: "A Unicamp pode fazer mais que outras escolas"Suelson Felipe Casimiro, inspirado por um amigo, sente-se pronto a trabalhar « na firma », referindo-se a uma empresa da área alimentícia. E acredita que as visitas semanais à Unicamp devem conduzi-lo à realização do sonho. Participar do projeto para ele é estar preparando o futuro, enquanto aprende noções de higiene, saúde, solo, ar, recursos naturais. As possibilidades de um dia conquistar seu sonho, a seu ver, estão nos ensinamentos transmitidos pelo monitores durante as atividades do Ecoedu. Mas, na área de informática, especialmente, o que mais o atrai é a oportunidade de trocar e-mails. Mas quando não está na Unicamp, Suelson

Suelson topa uma partida de tênis ou uma aula de fanfarra na Apae. «Gosto dos professores. E também gosto quando falam de solo e ar e de como cuidar do corpo », reforça Suelson, depois de participar da aula de Silva.

Suelson Casimiro: "Gosto quando falam de solo e ar e de como cuidar do corpo"É a Universidade produzindo para a sociedade. A Unicamp tem grande campo para isso. Acho que ela pode fazer além do que algumas escolas conseguiriam», diz a estudante de saneamento ambiental Natália Rick, voluntária no projeto. Ela acrescenta que a base acadêmica e o apoio da universidade e da Apae permitem o bom desempenho na monitoria. «O projeto trouxe mais a visão de quem elas realmente são e da forma como podemos a judá-las a se desenvolver na sociedade, pois futuramente elas vão tomar nossos lugares na comunidade », conclui Natália.

Diante das palavras da monitora e de Suelson, hoje, Lubienska tem certeza que «o Ecoedu se apresenta como um espaço que valoriza o ser humano, promove o autoconhecimento, a autoestima e o senso de cada participante, potencializando a capacidade pessoal e a transformação individual. Os universitários desenvolvem o senso crítico, adquirem conhecimento e se tornam agentes ambientais divulgando ações e práticas para melhoria do meio em que vivem».

 

 
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