Projeto ambiental da FT atende crianças
com necessidades educacionais especiais
Atividades incluem aulas de informática,
jogos e atividades práticas
MARIA
ALICE DA CRUZ
Projeto
de Extensão “Ecoedu – Plantando Conhecimento”, da
Faculdade de Tecnologia da Unicamp (FT), em Limeira, tornou-se
responsável pela inclusão social e digital de 40 crianças
e adolescentes de 9 a 14 anos da Apae do município. Mantendo
no foco a educação ambiental, o projeto tem como missão
promover a inclusão de alunos com necessidades educacionais
especiais e em situação de vulnerabilidade social no município
de Limeira. A ideia, de acordo com a professora do Departamento
de Hidráulica da FT Lubienska Cristina Lucas Jaquiê Ribeiro,
coordenadora e idealizadora do projeto, é inserir as crianças
e os formadores em um mundo de possibilidades de participação
ativa na formação de uma cultura de pensadores, de socialização
e de melhoria do rendimento escolar. “Cada indivíduo
participante percebe-se integrante, dependente e agente
de transformações positivas na sociedade e em seu meio”,
reforça Lubienska.
Aulas de informática, jogos
eletrônicos, dinâmicas, atividades práticas e aulas com
apresentações teóricas em uma cadeira de estudante da Unicamp.
Este é o conjunto de novas ferramentas na realidade de crianças
que, segundo Lubienska, passam a medir suas próprias possibilidades,
entre as quais a de frequentar o ambiente acadêmico. A interação
com a coordenadora e com os jovens professores do projeto
também estimula a autoinclusão dos participantes na escola
formal. “Muitos deles se sentem inibidos de frequentar a
escola pública, mas depois de se darem conta do que são
capazes, acabam encarando com mais naturalidade a possibilidade
de frequentar as escolas da rede municipal”, acrescenta
Lubienska.
De acordo com Lubienska,
o projeto Ecoedu, apesar de recente, tem conseguido excelentes
resultados para a Apae, para a Universidade e para comunidade.
No Congresso de Iniciação Científica deste ano, foram apresentados
três projetos e um está em andamento. Um deles, intitulado
«Desenvolvimento de Softwares Educacionais Voltados para
Educação de Crianças Com Necessidades Educacionais Especiais
», assinado por Aline Teles Cristalino, envolveu a criação
de um software em forma de jogo de memória para as crianças,
como forma de promover a aprendizagem em informática. O
segundo é « Desenvolvimento de Tecnologia para Auxílio na
Educação Ambiental – Enciclopédia Digital », de autoria
do estudante de saneamento ambiental, Joel Paulo Bueno da
Silva; e o terceiro, desenvolvido por Juliana de Ameida,
chama-se «Enciclopédia Digital para auxiliar em Projetos
de Educação Ambiental ».
E o interesse acadêmico
não para por aí, pois dois trabalhos de conclusão de curso
são finalizados neste semestre. Lubienska afirma que foram
publicados cinco artigos em congressos nacionais durante
a existência do projeto. “E mais cinco possíveis publicações
estão a caminho ainda este ano”, afirma.
A
contento de todos os envolvidos, as atividades estimulam
o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, de acordo
com a avaliação de profissionais da área de psicopedagogia
da Apae de Limeira. Além disso, o projeto já colaborou
para a inclusão de 20 alunos na rede municipal de Ensino.
A mudança de comportamento e de visão das crianças é
perceptível, segundo a professora.
Ela informa que, semestralmente,
são realizadas avaliações e entrevistas com todos os participantes
(inclusive os autores) para diagnóstico qualitativo e quantitativo
individuais. No final da avaliação do segundo semestre,
a equipe encaminha para a Apae relatos que ajudam na continuação
ou seleção dos participantes do ano seguinte. «Nós observamos
que eles têm um desenvolvimento mais rápido. Para eles,
é uma motivação grande estar na Unicamp, porque, a princípio,
é algo muito distante deles. Eles melhoram o comportamento
também em casa ao saber que vão fazer um trabalho na Unicamp»,
analisa Lubienska.
O solo, a água, os resíduos
sólidos e a poluição do ar tornam-se, por direito e de fato,
temas de domínio público. Os autores do projeto fazem a
discussão dos temas, das pesquisas de conteúdos e elaboram
os planos das aulas a ser ministradas ao longo de cada semestre.
Os conteúdos, segundo Lubienska, servem para estimular o
interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e a
formação de um aluno mais consciente em relação aos recursos
naturais e ao meio em que vive. «Os monitores têm de atuar
dentro da área de formação deles – informática, telecomunicações,
engenharia sanitária e construção civil. Acabamos por trabalhar
essas quatro áreas dentro do projeto», acrescenta a professora.
As atividades oferecidas
até agora, segundo Lubienska, visam ao desenvolvimento da
percepção, da imaginação, da observação, do raciocínio lógico,
do controle gestual e da capacidade psíquica de cada um.
As atividades servem para propiciar a superação da timidez,
a sensibilização, a socialização e a superação de limites,
segundo a professora.
Formigas
A luta para manter o projeto com esforço próprio e doações,
desde 2006 , foi um aquecimento para que o trabalho chamasse
a atenção de avaliadores e jurados de três diferentes editais
em 2009. O primeiro deles foi a premiação de destaque de
2009 no 3º Cidadania sem Fronteiras, em agosto. Em seguida,
o projeto recebeu a aprovação do Programa de Extensão Comunitária
(PEC) da Pró-Reitoria de Extensão Comunitária (Preac) da
Unicamp e também do Proext do Governo Federal. «É um trabalho
de formiguinha. Ainda não sabemos ao certo todos os recursos
financeiros que teremos em mão, mas estamos muito felizes
porque passamos a ser conhecidos pela sociedade e pela Universidade,
que considerou o trabalho consistente no último edital do
PEC ».
Na FT, o apoio também tomou
uma proporção maior aos olhos de docentes de diferentes
áreas. Segundo Lubienska, alunos de diferentes unidades
da Unicamp e de outras instituições se oferecem para desenvolver
projetos de iniciação dentro do Ecoedu. «Ainda precisamos
de parceria com profissionais de outras área da Unicamp,
porque sou da área de tecnologia e não posso orientar, por
exemplo, um aluno de fisioterapia ou psicologia. E muitos
estudantes têm demonstrado interesse », declara.
Pais têm aulas de informática
As aulas de informática, além de atingirem os estudantes,
são ministradas também para os pais em um esforço voluntário
do grupo. Para Lubienska, o Ecoedu se apresenta como um
espaço que valoriza o ser humano, que promove o autoconhecimento,
a autoestima, o senso crítico e possibilita escolhas mais
conscientes. “É um trabalho lento a extensão realizada
pelo Ecoedu-Ambiental – Plantando Conhecimento, após quatro
anos de existência é que se começa a reconhecer os esforços
realizados, que a princípio desacreditado por muitos,
mas extremamente gratificante para o grupo em termos de
compromisso com a comunidade”, avalia.
E os alunos entendem a essência do desejo da professora
ao criar o projeto. Mesmo tendo como uma das exigências
a aplicação de elementos de sua área de formação na transmissão
de conhecimentos de educação ambiental, não abrem mão
de participar da manutenção do projeto. Enquanto os recursos
não são transferidos, eles se responsabilizam, inclusive,
pela alimentação (lanche das crianças). “É uma oportunidade
do crescimento pessoal de todos. Trabalhar com o ser humano
exige muita responsabilidade, e os alunos acabam tendo
contato com uma realidade que não é a deles. A situação
de muitas das crianças participantes é precária, e os
monitores têm consciência até da necessidade de alimentá-las
para que aproveitem melhor as atividades”, afirma Lubienska.
Responsabilidade
social
Como voltar a atenção de profissionais e alunos tão ocupados
em desenvolver tecnologia para atividades que devolvam à
sociedade os conhecimentos gerados na universidade pública?
Foi tentando responder a essa pergunta que Lubienska decidiu
elaborar o Ecoedu. «Acreditando que a Educação Ambiental
deva estar presente em todas as instituições de ensino e
fazer parte da formação de todo cidadão, elaboramos, em
2006, este projeto, tendo como atividade inicial um trabalho
voluntário de equoterapia em Limeira», afirma.