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Aperfeiçoamento de técnica reduz
emissão de poluentes em motores
Índice de óxido de carbono
cai 22% e de material particulado pesado, 42%
Ao
longo das últimas décadas, as normas que regulamentam as emissões
de poluentes, inclusive as produzidas por motores movidos
a diesel, estão ficando cada vez mais exigentes. Em decorrência
disso, nota-se uma busca constante, por parte dos fabricantes
de motores envolvidos no processo, pelo desenvolvimento de
novas tecnologias capazes de reduzir essas emissões e, consequentemente,
melhorar a qualidade do meio ambiente. No âmbito desse processo,
o engenheiro mecânico André Sperl, que trabalha na área de
desenvolvimento de produtos em performance e emissões da empresa
MWM International Motores, aperfeiçoou uma técnica existente
desde o final da década de 1970, que consiste em misturar
água ao óleo diesel combustível, formando o que é conhecido
como emulsão. Dessa maneira, conseguiu reduzir em 22% as emissões
de óxido de nitrogênio (NOx) – considerado o poluente mais
abundante produzido por esse tipo de motor – e em 42%, as
de material particulado pesado (MP) sem quaisquer alterações
mecânicas no motor.
Sperl explicou que os resultados
foram obtidos a partir de uma única estratégia inalterada
de calibração de um motor diesel eletrônico de alta rotação
3.0L, que atende os requisitos Euro III Heavy Duty. “Os testes
foram realizados em motores abastecidos com as emulsões combustíveis
em bancada dinamômétrica por 30 dias aproximadamente. Isso
acabou prejudicando um pouco o consumo de combustível e a
performance do motor, porque a emulsão tem um poder calorífico
menor, além do fato de, se desenvolvida uma calibração do
motor para as emulsões como combustível, os resultados poderão
ser ainda melhores”, afirmou o engenheiro. A pesquisa resultou
na dissertação de mestrado profissional de Sperl, da Faculdade
de Engenharia Mecânica (FEM), orientado pelo professor Celso
Aparecido Bertran, do Instituto de Química (IQ), ambos da
Unicamp.
Emulsão é um sistema heterogêneo,
que consiste de, pelo menos, um líquido imiscível disperso
em outro em forma de gotas. O líquido que contém as gotas
dispersas é denominado de fase contínua ou fase externa. O
trabalho realizado por Sperl utilizou a macro-emulsão, que
é quando as gotas, de maneira geral, têm diâmetros maiores
a 0.1μm. Estes sistemas possuem uma estabilidade mínima, podendo
melhorar com a adição de agentes ativos de superfície, como
sólidos finamente divididos, entre outros. Na avaliação do
pesquisador, os resultados oriundos da utilização da macro-emulsão
são muito promissores, porém, ele tem uma expectativa positiva
muito grande com relação à utilização da micro-emulsão.
Trata-se, também, de um líquido
disperso em outro, só que com tamanho de gota usualmente menor
do que a longitude de onda da luz visível, tornando-as transparentes
ou, no mínimo, translúcidas. São estáveis, devido à utilização
de uma mistura de agentes tensos ativos de superfície, denominados
surfactantes – que é um composto caracterizado pela capacidade
de alterar as propriedades superficiais e interfaciais de
um líquido, cuja característica fundamental é a tendência
de formar agregados que, geralmente, formam-se a baixas concentrações
de água.
Foram
ensaiados seis tipos diferentes de combustível: diesel comum
metropolitano; diesel Euro IV; diesel comum metropolitano
apenas com surfactante, além de outras três formulações de
emulsões chamadas 1, A e B. O objetivo, segundo Sperl, foi
melhorar a densidade e a viscosidade para funcionamento em
motor diesel. O combustível considerado mais viável a ser
utilizado, justamente pelo fato de melhor poder calorífico,
densidade e viscosidade, foi a emulsão “B”, uma vez que o
surfactante tem a propriedade de agregar as moléculas de água
ao diesel, ficando dessa maneira, disperso e fino, caso contrário
não se misturam. A ajuda da equipe de Bertran, composta por
Lucila Andrade, aluna de iniciação científica e Thiago Carvalho,
aluno de graduação foi fundamental.
Além dos motores a diesel
que equipam caminhões e ônibus, outra grande aplicação dessa
tecnologia de emulsões seriam os motores estacionários e agrícolas.
Sperl lembrou que num país de dimensões continentais como
o Brasil é muito comum encontrar geradores de energia, principalmente
em áreas rurais. Ademais, um país com vocação para a agricultura
como o nosso possui uma frota de máquinas agrícolas demasiadamente
grande. E do ponto de vista financeiro, prosseguiu o engenheiro,
o uso das emulsões em larga escala não custaria mais do que
o diesel atualmente. “Estaríamos fazendo menos mal ao meio
ambiente e ainda sentiríamos isso no bolso”, argumentou.
Indagado qual seria o próximo
passo no sentido de corroborar o que os ensaios de bancada
dinamométrica resultaram, Sperl foi enfático ao afirmar que
será fundamental testar esse “novo combustível” em uma frota
real circulante, seja de um grande produtor, de uma fazenda
ou de uma pequena cidade. Isso significaria testar definitivamente
em campo e adotar o melhor modelo para distribuição em escala
comercial.
O
ideal, segundo ele, seria a partir daí trabalhar com as micro-emulsões,
uma vez que são mais estáveis. Isso significa não haver separação
de fase da mistura por longos períodos de tempo, nem tampouco
ter viscosidade alterada. Dessa maneira, garantiu o pesquisador,
o desenvolvimento do processo teria uma estabilidade maior,
com resultados melhores, além de um custo acessível e produção
em larga escala. “Apenas na parte química teríamos alguma
alteração, uma vez que o tipo de surfactante e o processo
seriam um pouco diferentes”, disse.
Os resultados obtidos e apresentados
na dissertação, de acordo com o autor, são inéditos no Brasil.
E isso é muito importante porque reforça a posição de liderança
do Brasil, no âmbito da América Latina, nessa corrida pela
ponta no desenvolvimento de tecnologias. Uma comparação com
a Europa, por exemplo, deixa nosso país em uma confortável
posição de concorrer com o que de melhor tem sido produzido
no velho continente. Para o doutorado, Sperl prevê, além da
utilização das micro-emulsões, uma calibração otimizada em
performance, emissões e consumo de combustível para a utilização
deste tipo de combustível.
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Publicação
Título da dissertação “Utilização de Emulsões de
Água em Óleo Diesel Combustível para Redução das Emissões
de Poluentes em Motores de Combustão Interna Ciclo Diesel”
Autor: André Sperl
Orientador: Celso Aparecido Bertran
Unidade:
Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM)
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