Filtro bloqueia entrada de spams
Ferramenta desenvolvida
na FEEC classifica
automaticamente mensagens de e-mail
O
e-mail é um dos meios de comunicação mais popular, mais rápido
e mais barato. Ele tornou-se parte do cotidiano de milhares
de pessoas, mudando a maneira como trabalhar. Não é somente
empregado para dar suporte à comunicação pessoal, mas também
é utilizado como agenda, gerenciador de tarefas, organizador
de contatos, dentre muitas outras funções. A desvantagem desse
enorme sucesso é o volume crescente de spams, mensagens eletrônicas
não-solicitadas e que chegam às pessoas constantemente. O
problema causado por ele pode ser quantificado em termos econômicos,
em razão do desperdício de tempo que ele traz todos os dias
aos usuários de computador. Isso sem considerar os inúmeros
problemas com fraudes, roubos e danos diretos.
Em 2008,
internautas brasileiros enviaram 2,7 trilhões de spams. No
primeiro bimestre deste ano, o país passou à primeira posição
no ranking mundial, após ter sido responsável por 7,7 trilhões
somente em 2009. “Isso é lamentável, porque não dispomos de
respaldo jurídico contra esse tipo de fraude.
Com isso,
a situação tende a se agravar”, prevê o pesquisador Tiago
Agostinho de Almeida. Tecnólogo em computação, Almeida há
pouco defendeu doutorado na Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (FEEC), abordando a problemática gerada pelos
spams, orientado pelo professor do Departamento de Telemática
Akebo Yamakami. Idealizou um filtro para classificar automaticamente
mensagens de e-mail: o MDL-CF Spam Filter.
O novo
filtro, método computacional que classifica os e-mails como
spam ou como e-mail legítimo, deriva de duas técnicas: MDL
(Minimum Description Length – Princípio da Descrição mais
Simples) e CF (Confidence Factors – Fatores de Confidência).
O objetivo era oferecer uma classificação balanceada proporcionando
uma alta taxa de bloqueio de spams e, simultaneamente, tomando
os cuidados necessários para evitar classificação incorreta
de um e-mail legítimo. “A nossa técnica mostrou-se simples,
eficiente e rápida.
Seus
resultados indicam que ela é superior aos melhores filtros
anti-spam que existem.”
Na maioria dos casos, os próprios servidores de e-mail oferecem
filtros anti-spam, como o GMail, o Hotmail e o Yahoo. Entretanto,
a sua eficácia depende diretamente dos seus usuários. “É preciso
saber usar corretamente a ferramenta oferecida pelo gerenciador
de e-mails. Se souberem, a eficácia pode chegar a 95%”, garante
o tecnólogo.
O pesquisador
explica que o maior desafio dos filtros é não classificar
um e-mail legítimo como spam. Isso é considerado um erro grave,
pois a mensagem acaba sendo enviada para a caixa de spams.
“Os prejuízos podem ser enormes, pois o usuário pode não tomar
conhecimento de uma informação muito importante.”
Simulações
O tecnólogo simulou campeonatos
de spams com base em modelos existentes. Ele explica que grandes
corporações como Google e Microsoft, com frequência, financiam
estes eventos para avaliar os filtros anti-spam. No estudo
de Almeida, foram simuladas três competições em que concorreram
o filtro proposto contra 13 métodos consagrados. “O MDL-CF
obteve o melhor desempenho. Em uma situação real, ele teria
sido tricampeão”, conta.
O resultado foi comemorado
pelo autor do projeto. “O nosso filtro teve uma melhor performance
em relação aos métodos comparados, mesmo aqueles que partem
de grandes corporações, que recebem um alto investimento e
que têm uma grande equipe dando-lhes suporte”, sinaliza.
O pesquisador pretende oferecer
plug-ins para possibilitar uma maneira simples e eficaz de
empregar o filtro MDL-CF em conjunto com os principais gerenciadores
de e-mail disponíveis, como o Microsoft Outlook e o Mozilla
Thunderbird. “Vamos tentar desenvolver os plug-ins e oferecê-los
gratuitamente como uma forma de fazer com que o fruto dessa
pesquisa seja usufruído pela sociedade”, almeja.
Um único spam pode danificar
o equipamento, pelo fato de muitas vezes vir acompanhado de
vírus. A dica de Almeida é sempre verificar os e-mails de
maneira consciente. “É preciso ter um filtro anti-spam instalado
ou ainda usar os recursos anti-spam oferecidos pelo provedor.
Além do filtro, existem outras ferramentas que devem ser empregadas
para aumentar a segurança dos usuários, como um antivírus
e um firewall, um programa que bloqueia acessos”, aconselha.
Sistemática
Os spams são enviados pelos
spammers, pessoas que geralmente estão interessadas na comercialização
de produtos. Existem também aqueles cuja intenção é prejudicar
os usuários mediante o roubo de senhas, seja de alguma informação
pessoal e até mesmo do uso do seu computador para enviar spams,
uma prática que vem aumentando no Brasil.
Uma das consequências dos spams é que eles envolvem um custo
elevado, difícil de ser calculado. Relaciona-se inclusive
à perda da produtividade de funcionários nas empresas, que
gastam o seu tempo lendo e apagando mensagens não solicitadas.
O conteúdo é bastante abrangente. Fora os casos de transmissão
de vírus, eles permeiam propagandas, pornografia, boatos,
esquemas de enriquecimento ilícito e mensagens religiosas.
Existem duas formas mais corriqueiras de se apropriar dos
dados pessoais dos usuários.
Numa delas, o usuário se cadastra
numa empresa idônea, o qual comercializa as informações de
seus consumidores para os spammers. Outra é realizada através
de um arquivo chamado cookie, que armazena as informações
trocadas entre o navegador e o servidor.
Ao informar o endereço de
e-mail mediante esses cookies, o site poderá usar aquela informação
e vendê-la. “Existe uma máfia de compra e venda nesta direção”,
constata Almeida, e é muito difícil chegar à fraude. “O e-mail
é uma presa fácil de ser burlada. Quem envia o spam não necessariamente
é aquela pessoa. Os endereços que eles enviam em geral são
inválidos.”
Em alguns países há legislações
que criminalizam o envio de spams. Os exemplos mais significativos
são os Estados Unidos e países da Comunidade Europeia. Ambos
têm meios legais e diferentes de condenar o envio de spams.
Nos Estados Unidos, o método adotado permite que o spam seja
enviado desde que ele respeite algumas regras. Dentre elas,
o endereço de e-mail do remetente deve ser verdadeiro e a
mensagem deve conter um mecanismo explícito para que o usuário
solicite nunca mais recebê-lo. “O que acontecer fora disso,
é considerado ilegal. Se conseguirem pegar o spammer, ele
poderá ser multado ou, até mesmo, preso”, revela o tecnólogo.
Já na Europa, o método adotado não permite que o spammer envie
qualquer tipo de mensagem sem o consentimento prévio do usuário.
“Se enviar um primeiro spam que seja, ele já estará cometendo
uma infração.”
No Brasil, a realidade é outra.
“Apesar de a situação ser alarmante, não existe uma regulamentação
jurídica específica com relação ao spam”, relata Almeida,
enfatizando a urgência de uma medida que impeça essa prática.
O volume de spams vem crescendo
de forma surpreendente no Brasil, diz o tecnólogo, a priori
porque o número de usuários está aumentando e muitos utilizam
o computador de maneira desprotegida. Portanto, apesar de
o país ser um grande emissor de lixo virtual, não significa
que ele tenha o maior número de spammers, e sim que os usuários,
por falta de conhecimento, acabam sendo alvos de spammers
de outros países. O pesquisador também destaca que uma das
estratégias mais utilizadas pelos spammers é “sequestrar”
computadores de usuários comuns e utilizá-los para enviar
mais spams.
Carne enlatada originou
termo
Existem diversas versões
a respeito da origem da palavra spam. A mais aceita afirma
que o termo originou-se da marca SPAM, um tipo de carne
enlatada da Hormel Foods Corporation, e foi associado ao
envio de mensagens não solicitadas devido a um quadro do
grupo humorístico inglês Monty Phython.
O episódio ironiza o racionamento
de comida ocorrido na Inglaterra durante a Segunda Guerra
Mundial. SPAM foi um dos poucos alimentos excluídos desse
racionamento, o que eventualmente levou as pessoas a enjoarem
do produto.
Esse quadro envolve um casal
discutindo com uma garçonete em um restaurante a respeito
da quantidade de SPAM presente nos pratos. Enquanto o casal
pergunta por um prato que não contenha a carne enlatada,
a garçonete repete constantemente a palavra SPAM. Eventualmente,
a discussão faz com que um grupo bizarro de vikings, presente
no local, comece a cantar “SPAM, amado SPAM, glorioso SPAM,
maravilhoso SPAM!”, “impossibilitando qualquer tipo de conversa,
assim como o spam atrapalha a comunicação por e-mail”, compara
Almeida.
Notoriedade é porta
aberta para invasores
As maiores vítimas dos spams
são pessoas que possuem endereços de e-mail bastante divulgados,
como presidentes de grandes corporações. Alguns exemplos
são o dono do domínio acme.com, Jef Poskanzer, e o empresário
co-fundador da empresa de tecnologia Apple Inc, Steve Jobs.
De acordo com o presidente-executivo
da Microsoft, Steve Ballmer, em matéria veiculada na BBC
News, o fundador da Microsoft – Bill Gates – recebe em média
4 milhões de e-mails por ano, sendo a grande maioria spams.
Curiosamente, Poskanzer recebia já em 2005 cerca de 1 milhão
de spams por dia, quase 100 vezes mais que Bill Gates. “Sem
os filtros anti-spam, provavelmente o sistema de e-mail
não seria mais suportável”, comenta Almeida.
Fato é que os spams são
um negócio lucrativo, isso porque o e-mail é uma forma de
comunicação muito barata e que atinge muitas pessoas simultaneamente.
Desta forma, os spammers conseguem obter lucro mesmo que
a taxa de resposta dos usuários seja baixa. Um estudo recente
mostrou que mesmo um índice de resposta de 1 para cada 12,5
milhões de e-mails enviados ainda consegue gerar bons lucros
aos spammers.
Em 2002, o mundo todo recebia
em média 860 milhões de spams por dia. Para 2010, a Cisco
Systems, empresa de segurança computacional, estimou que,
em média, cerca de 300 bilhões de spams serão enviados diariamente,
representando mais de 90% dos e-mails em circulação.
Publicação
Tese de Doutorado “SPAM: do
surgimento à extinção”
Autor: Tiago
Agostinho de Almeida
Orientador:
Akebo Yamakami
Unidade:
Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC)
Financiamento:
CNPq
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