Estudo
revela importância
do autocuidado do idoso
ACom
a chegada da senescência, os idosos ficam mais expostos às doenças,
o que os tornam presenças mais freqüentes nos serviços hospitalares.
O autocuidado que representa a prática de atividades que os indivíduos
iniciam e executam em seu próprio benefício para a manutenção
da vida, da saúde e do bem-estar vem sendo estimulado pela enfermagem,
já que a descontinuidade do tratamento, quando os pacientes retornam para
seus domicílios, pode aumentar os riscos de reinternações.
A
dissertação de mestrado Limitações para o autocuidado
de idosos reinternados portadores de vasculopatias, apresentada à
Faculdade de Ciências Médicas (FCM) por Sílvia Helena Ferrero,
orientada pela professora do Departamento de Enfermagem Fernanda Aparecida Cintra,
discute a influência das vasculopatias na tríade: idoso, autocuidado
e reinternação.
A
idéia de desenvolver este trabalho, segundo Sílvia, iniciou no HC
de São Paulo, quando ela fazia especialização em Psicologia
Hospitalar. Observou que, na área clínica, predominavam idosos com
história de reinternações, razão pela qual o assunto
foi o seu objeto de estudo de mestrado no HC da Unicamp, onde a situação
era exatamente a mesma.
A
pesquisa envolveu seis pacientes, com idade acima de 60 anos, portadores de vasculopatias
e que estavam internados na Enfermaria da Clínica Vascular em 1999. A fundamentação
teórica baseou-se em duas análises: Teoria do Autocuidado, de Dorothea
Orem, e Análise de Discurso, ramo da lingüística de filiação
francesa que hoje procura maior integração com outros referenciais
teóricos.
Está
comprovado que as doenças mais comuns que o idoso tem são as vasculopatias,
patologias crônicas evolutivas, reincidentes, que, na maioria das vezes,
leva a uma limitação para o autocuidado. Elas podem determinar dificuldade
de locomoção, diminuição de atividades físicas,
dependência de terceiros, dores, trazendo-lhes constantes questionamentos
sobre as perdas e a promoção da saúde novamente.
Na
pesquisa, em geral, os idosos não compreendiam a patologia, como preveni-la;
não entendiam as condutas médicas e, às vezes, a própria
internação. Entre eles, verificaram-se muitos medos, particularmente
o da morte, tendo como principais complicações as cirúrgicas.
Interlocução
A Análise de Discurso permitiu concluir que as limitações
para o autocuidado mostraram-se decorrentes não só da falta de interlocução
do paciente com a equipe da saúde, mas dele com o seu próprio corpo.
A
falta de interlocução normalmente é preenchida por dúvidas
e insegurança quanto ao próprio corpo, às condutas médicas
e ao prognóstico, inviabilizando o autocuidado, afirma Sílvia.
Os
resultados mostraram que, tal como estão configuradas na discursividade
da saúde, as condições de produção dos discursos
dos idosos são determinantes para o surgimento de limitações
e impedem a efetivação do autocuidado, sua autonomia.
Ao
mostrarmos o funcionamento discursivo das limitações para o autocuidado,
entendemos como as limitações estão determinadas pela relação
entre os idosos e os profissionais de saúde. A dificuldade em efetivar
a proposta de autocuidado não é decorrência de intencionalidades,
mas fato é que o funcionamento observado, de falta de interlocução,
está naturalizado. Ele precisa ser posto em evidência porque essas
condições de produção específicas comprometem
o autocuidado, conclui Sílvia. Mais informações: telefone
3385-2164.