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..............Campinas, 17 a 23 de setembro 2001

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...Institucional - pág. 2 ...Inscrições - pág. 7
...Recrutamento - pág. 2...Oportunidades - pág. 7
...Saúde - pág. 3...Eventos futuros - pág. 8
...Enfermagem - pág. 3...Teses - pág. 8
...Mestrado - pág. 4...Empreedimento - pág. 9
...Curtas - pág. 4...Lançamento/Educação - pág. 10
...Painel da semana - pág. 5...Cultura / Linguagem - pág. 11
...Em dia - pág. 6...Personagem - pág. 12
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....PERSONAGEM
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Professor Pupo sobrevive na memória

Não só a Unicamp, mas Campinas perdeu uma figura nobre no último dia 23 de agosto. Benedito Barbosa Pupo, ou professor Pupo, como era mais conhecido no meio acadêmico faleceu às 16h30 da tarde de quinta-feira, aos 95 anos de idade. Ele estava internado no Hospital Santa Edwirges há 17 dias, vítima de uma queda, que deixou escoreações em seu corpo.

Pupo estava sempre envolvido em discussões culturais da cidade. Especialista na obra de Carlos Gomes, era consultado repetidas vezes pela imprensa e autoridades do Brasil e do mundo sobre detalhes da vida do músico campineiro. Sua paixão pela obra de Carlos Gomes, de acordo com testemunhos de pessoas próximas, teria inspirado o livro “Selvagem da Ópera”, de Rubem Fonseca, editado pela Companhia das Letras. O autor teria ainda, visitado pessoalmente o professor Pupo em sua residência, depois de escrever o livro.

Autoditada e bastante culto, Pupo escrevia crônicas diárias para os jornais de Campinas, Correio Popular e Diário do Povo. Teve publicados cerca de 800 títulos originais, mas chegou a escrever mais de mil e quatrocentas crônicas. Foi editor da revista A Pioneira, no Paraná, na década de 50. Seus escritos, no entanto, estão eternizados nas obras: Testemunhos do Passado Campineiro, publicado juntamente com Fúlvia Gonçalves, pela Editora da Unicamp; Oito bananas por um tostão: Campinas de outros tempos e À Margem da História de Campinas.

Pupo não conseguiu concluir um de seus mais elaborados projetos que tratava da obra de Carlos Gomes. Sua última tentativa foi em 1998 quando trouxe autoridades italianas ao Brasil para receber a medalha Carlos Gomes e iniciar contatos para um possível convênio. A iniciativa não deu certo por motivos de saúde de todos os envolvidos no projeto.

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Do convívio com uma pessoa muito especial

Ele chegava sempre antes da 8:30 horas no Centro de Memória - UNICAMP. Esse ativo usuário do ônibus coletivo, mesmo aos 95 anos de idade, não deixava de cumprir sua agenda diária que por vezes podia ser comparada a de uma autoridade constituída, como costumávamos comentar.

Entrevistas, participação em comissões, atendimento a jovens pesquisadores, vernissages, lançamento de livros, homenagens, encontros, seminários, palestras, até aulas de redação chegou a ministrar, faziam parte de sua rotina.

Fora isso a sua dinâmica consistia em alimentar o seu próprio arquivo pessoal com cartas enviadas e recebidas, crônicas que publicava, material de pesquisa que levantava e imediatamente fotocopiava sobre o assunto que estivesse lhe interessando naquele momento, além de fotografias e livros, muitos livros, jornais diários devidamente recortados e até o Globo, de circulação restrita na cidade, ele encomendava, buscava e comentava. Tudo isso regado a bolachinhas, bombons, barras de chocolate com os quais ele dizia estar agradecendo nossa atenção e gentileza para com ele.

É, não deve ter sido fácil para ele acompanhar nosso ritmo de trabalho, quase sempre atropelado por uma rotina exigente no cumprimento de horários e prazos. Descompasso que, percebíamos, a um tempo o deprimia e o impulsionava. Aí então, pacientemente, nos aguardava, até conseguir discutir conosco os temas cotidianos que mais despertavam seu interesse.
Quantos cafés, almoços solicitados, até carinhosamente - ele detestava comer sozinho – quase sempre não atendidos por causa dos horários desencontrados.

Na nossa lembrança ficou muito da sua figura nada paternal ou avoenga mas de pesquisador contumaz sempre pronto a prestar esclarecimentos, a buscar informações, a tirar dúvidas sobre este ou aquele personagem ou sobre o aqui ou ali de Campinas. Pergunte ao Sr. Pupo, ele sabe!

Sempre preocupado com o verdadeiro sentido das palavras e com a escrita correta presenteou-nos com vários dicionários e trabalhos que respondam aos constantes desafios que a língua, sempre viva, nos impõe.

Também em oito minutos, observávamos, ele escrevia, até bem pouco tempo atrás, sua crônica diária. Sem precisar de retoques, com precisão na argumentação e na construção das frases, como convinha ao jornalista experiente e ao pesquisador cuidadoso e persistente.

Nutria especial interesse pelo comportamento humano, especialmente das mulheres. Estimulava a amizade entre elas e se esforçava por ser delas profundo conhecedor.
O sempre polêmico jornalista foi um historiador por convicção e prática. Apaixonado pela cidade, definiu sua data de fundação, revelou a importância da figura do Morgado de Mateus que nomeou Barreto Leme fundador de Campinas. Foi também defensor ferrenho da música de Carlos Gomes e de sua difusão, principalmente junto aos jovens, na integra, sem adaptações ou versões. Sonhava com um novo teatro para a cidade mas propugnava que este obedecesse aos mais altos padrões de segurança, visibilidade, audibilidade e conforto. Nas suas últimas semanas de vida, ele se viu às voltas com um tema nada alheio ao povo, cujo cotidiano tão bem retratou no seu “Oito bananas por um tostão”: as origens e conseqüências da presença dos cortiços na cidade, tema sugerido pelas discussões com um mestrando e pesquisador do CMU.

A memória histórica desta cidade perdeu, certamente, um de seus baluartes, o Centro de Memória – UNICAMP um grande colaborador, incentivador e divulgador de seus serviços e nós um grande amigo.

Ah, seu Pupo que pena que o senhor nos deixou!

Ema Elisabete Rodrigues Camillo
Socióloga, documentalista dos Arquivos Históricos do CMU e mestranda em História Econômica do IE - UNICAMP.


 
 
 

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