Participação
comunitária, discussões democráticas e liberdade de propostas
e concepções de objetivos. Os mesmos princípios do cooperativismo
estão norteando a criação da Incubadora Unicamp de Cooperativas
Populares. A começar pelo próprio ambiente criado para discussão
do processo, o Seminário de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
Populares, que serviu, além de discutir as experiências de outras
incubadoras de universidades públicas, para reunir grande número
de pessoas engajadas em movimentos cooperativistas, relatando suas experiências,
anseios e frustrações, na tentativa de criar um novo cooperativismo.
Todo
esse processo foi temperado, a propósito, com um novo e fundamental componente:
a discussão acadêmica, que deverá de agora em diante participar
cada vez mais ativamente do movimento. O que há hoje na Unicamp é
a vontade de discutir o modelo de incubadora mais adequado às demandas
de mercado. Não existe um concepção prévia de sua
estrutura, que vai depender do entendimento da necessidade e das propostas pedagógicas.
O importante é ter parceiros, como a Prefeitura e Banco do Brasil, que
aproximam o poder público e as formas de financiamento define o pró-reitor
de Extensão e Assuntos Comunitários, Roberto Teixeira Mendes, destacando
o interesse da universidade em aproximar alunos, professores e funcionários
com o mundo do trabalho. A
mesma opinião é partilhada pelo professor Mohamed Habib, para quem
o seminário não é uma via de mão única. Assim
como os técnicos e autoridades têm muita experiência para expor
aos interessados, os integrantes de movimentos cooperativistas, na platéia
do evento, têm muito a contar e discutir sobre os melhores formas de melhorar
a estrutura das cooperativas, destaca o professor Mohamed, para quem os
debates foram o ponto alto do seminário. Para
o senador Eduardo Suplicy (PT) a história do cooperativismo remonta aos
primórdios da humanidade, quando surgiram os grandes valores como ética,
liberdade, justiça, verdade, solidariedade e fraternidade. Autor de um
projeto de lei que regulamenta a atividade cooperativista, Suplicy citou James
Edward Meade, laureado com o Prêmio Nobel de Economia de 1977, quando resolveu
visitar a Ilha de Utopia, um lugar perfeito para viver, mas não encontrou.
No lugar achou a ilha de Agathotopia, onde os arranjos sociais não eram
perfeitos mas eram bons. Meade chegou à conclusão de que aqueles
arranjos eram os melhores que alguém alcançar neste mundo perverso.
Conclusão: enquanto os utopianos procuravam produzir instituições
perfeitas para seres humanos perfeitos, os agathotopianos apenas tentaram fazer
boas instituições para seres humanos imperfeitos. É
assim que vejo o cooperativismo, um ideal onde se tem a liberdade de trabalhar
de acordo com a vocação, num modelo de igualdade e eficiência,
disse o senador. Suplicy não perdeu a oportunidade de defender também
seu projeto de renda mínima, dizendo que a distribuição de
riqueza passa pelos benefícios do cooperativismo, com maior participação
dos trabalhadores nos salários e administração, mas também
de uma garantia de renda como direito à cidadania em casos de imprevistos,
tais como calamidades. Para
Amílcar Barca Teixeira Júnior, da Organização das
Cooperativas do Brasil (OCB), a aproximação da universidade é
um momento importante para o cooperativismo, que poderia estar mais adiantado
se essa vinculação existisse há mais tempo. A OCB era
uma organização mais voltada ao cooperativismo agrorural, e essa
predominância ainda é forte nesta área, de pouco acesso à
escola. Mas o eixo está mudando e sem dúvida o desenvolvimento passa
pelo processo da educação, disse Teixeira. Segundo
Barca, o caminho já está sendo trilhado com programas dirigidos
às crianças e jovens , como a criação da Cooperjovem
e a Turma da Cooperação, um série de histórias em
quadrinhos semelhante à Turma da Mônica. Estamos plantando
a semente do futuro nas escolas, dentro da diversificação do currículo
escolar cinco estados já adotaram o estudo do cooperativismo no ensino
básico, atingindo 75 mil crianças, informa. Atualmente
a OCB luta contra os principais obstáculos da legislação
para criação de novas cooperativas. Segundo Barca, há três
projetos que tratam da modernização das leis cooperativistas aguardando
votação, e todos pretendem reduzir a exigência mínima
de vinte associados para formar uma cooperativa. Existem muitas dificuldades,
principalmente de setores do governo, que vêem as cooperativas como fraudulentas,
lamenta. Segundo dados da OCB as cooperativas respondem atualmente por 6% do PIB.
Barca conclamou os presentes, entre eles muitos representantes de cooperativas,
a uma grande união para pressionar a mudança da lei no Congresso.
E encerrou parodiando Raul Seixas: Sonho que se sonha só, é
só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é
realidade.
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