ANTONIO
ROBERTO FAVA
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O
professor Antonio José Almeida Meirelles: dois anos de testes em planta piloto
industrial |
Se o Brasil hoje é
tido como um dos maiores produtores de álcool e de açúcar
ganhando a disputa com grandes concorrentes como os Estados Unidos e a
Índia , na década de 80, não era assim. No auge do
Pro-álcool, apesar do grande interesse de pesquisas na área de destilação
alcoólica, a eficiência do produto causou discussões, desconforto
e muita dor de cabeça. Principalmente aos proprietários de automóveis,
quando o combustível usado apresentava maior volume de água, o que
acabava ocasionando danos ao motor.
Anos mais tarde,
o professor Antonio José Almeida Meirelles, da Faculdade Engenharia de
Alimentos (FEA) da Unicamp publicava, numa revista inglesa, um trabalho técnico
intitulado Ethanol Dehidration by Extractive Distillation, que trazia novas perspectivas
para a produção do álcool anidro no Brasil, isto é,
o álcool praticamente isento de água. Meirelles descrevia um processo
de desidratação do etanol utilizando a destilação
extrativa, na qual o desidratante era o etileno glicol, produto orgânico
da família dos álcoois.
Mostrava ainda
que os resultados de seu trabalho, obtidos em laboratório e planta piloto
desenvolvido na Universidade, tinham a possibilidade de resolver, com vantagens,
os problemas da desidratação do álcool e a custos relativamente
baixos. Há aproximadamente seis anos um consórcio de duas
empresas situadas em Sertãozinho (SP) a Barci & Sicchieri Engenharia,
Consultoria e Projetos e a JW Indústria e Comércio de Equipamentos
e Aço Inox se interessou pela pesquisa de Meirelles e desenvolveu
a primeira planta utilizando o processo de destilação extrativa.
Essa planta nada mais é que um conjunto de equipamentos organizados com
o propósito de produzir o álcool anidro pelo processo de destilação
extrativa.
Atualmente encontram-se em pleno funcionamento
20 plantas de destilação extrativas instaladas em diferentes usinas
localizadas no país, a maioria em São Paulo (Usina Batatais, Alta
Mogiana, Colorado, Virgulinol de Oliveira e outras). Segundo o pesquisador da
FEA, outras quatro devem entrar em plena operação já na próxima
safra que vai de abril até o final de novembro. Fazem parte desse
pool de novas empresas, para adquirir o processo, as Usinas Vertente, Santa Isabel,
Tonon e Viralcool, que responderão, em conjunto, por uma produção
adicional de álcool anidro da ordem de 360 milhões de litros por
ano. Em termos nacionais, a produção de álcool no Brasil
é de pouco mais de 6 bilhões de litros ao ano.
Assim,
o projeto de pesquisa do professor Meirelles encontrou respaldo por meio da parceria
com as empresas Barci & Sicchieri Engenharia, Consultoria e Projetos e JW
Indústria e Comércio de Equipamentos de Aço Inoxidável
Ltda; enquanto a primeira é a responsável pelo projeto dos novos
equipamentos, a segunda os constrói e instala. Mas antes de chegar a esse
estágio, o processo foi testado por dois anos em planta piloto industrial,
contando para isso com o apoio da Usina Santa Elisa, também situada em
Sertãozinho.
Maior
produtor Até outubro do ano passado havia 18 usinas, que tinham
o processo de destilação extrativa de álcool, responsáveis
pela produção anual de 1,5 bilhão de litros, correspondendo
a ¼ da produção brasileira de álcool anidro
hoje um aditivo da gasolina.
Hoje o Brasil é
um dos maiores produtores de álcool e açúcar do mundo. No
início de tudo, o objetivo da pesquisa do professor e engenheiro de alimentos
da FEA era encontrar uma fórmula para substituir o benzeno por outro produto
químico capaz de desidratar o álcool. Só que não
cancerígeno, como o benzeno, explica. Para a época foi algo
considerado inovador porque ainda não existiam experiências industriais
do uso do etilenoglicol para desidratar o álcool.
Embora já
se conhecesse o seu poder de desidratação, era ainda um processo
sem qualquer experiência de desenvolvimento industrial e não se tinham
estudos tecnológicos e de engenharia que pudessem ser aplicados na construção
de um equipamento, lembra.
O que Meirelles procurou
com sua tese foi estabelecer as condições mais adequadas para o
funcionamento do processo e avaliar as vantagens e desvantagens que poderia proporcionar.
A conclusão básica era que, em geral, tal processo era mais vantajoso
do que a técnica tradicional, denominada destilação azeotrópica,
seja com benzeno ou com o ciclo-hexano. A destilação extrativa
produz um álcool da mesma qualidade, às vezes até melhor,
mas com considerável ganho na produtividade, na economia de energia e na
operacionalidade do equipamento, diz.
O pesquisador
não tem receio em afirmar que a indústria do açúcar
e do álcool, no Brasil, é reconhecida como a mais eficiente do mundo.
Isso acaba provocando um investimento grande em tecnologia por parte das
usinas, que passam a usar processos cada vez mais eficientes na produção
de álcool e açúcar. A produção de álcool
no Brasil só não é maior devido a algumas barreiras alfandegárias,
em particular o caso norte-americano, que dificulta a importação
do produto brasileiro, privilegiando a sua produção interna menos
eficiente que a brasileira, afirma.