Pesquisadores da Unicamp e do Massachusetts Institute of Technology
(MIT), nos Estados Unidos, desenvolveram uma nova
metodologia de cálculo para determinar a entropia
e a energia livre de sistemas físicos. O método
não acrescenta novos conhecimentos essenciais
à área, mas é entre 10 e 20 vezes
mais rápido do que os convencionais, com a
vantagem de manter o mesmo nível de eficiência
destes. O foco da pesquisa, que teve início
em 1995, é a física dos materiais.
De forma simplificada, entropia
é o conceito que mensura a desordem ou desorganização
da matéria. A entropia de um sólido,
líquido ou gás cresce conforme a temperatura
aumenta. Já a energia livre é a parcela
da energia que pode ser convertida em trabalho útil.
O que os cientistas fazem é promover simulações
computacionais para entender o que ocorre com a matéria
ao longo de grandes intervalos de temperatura. Esse
estudo é importante, pois nem sempre é
possível reproduzir em laboratório,
por exemplo, as condições encontradas
na natureza.
Um exemplo disso foi uma simulação realizada
recentemente por um grupo de pesquisadores da Inglaterra.
Por meio de cálculos computacionais, os cientistas
estimaram em 6.500º Celsius a temperatura do
ferro fundido no centro da Terra.
Essa resposta seria extremamente
difícil de ser obtida de forma experimental,
já que não há condições
de reproduzir de forma controlada em laboratório
as condições de temperatura e pressão
encontradas no interior do planeta, explica
o professor Alex Antonelli, do Instituto de Física
Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp.
De acordo com ele, existem pelo menos 20 metodologias
capazes de calcular a entropia e a energia livre de
sistemas físicos. O método concebido
conjuntamente por ele e por seu ex-aluno de doutorado,
Maurice de Koning, é tão eficiente quanto
os outros, mas é bem mais rápido. Em
seu trabalho de pós-doutorado no MIT, de Koning
percebeu que se alterasse determinados parâmetros
do cálculo, também conseguiria conhecer
como a energia livre e a entropia variam com a temperatura.
Assim, ele ampliou os intervalos (a variação
pode girar de 200 a até 2000º Celsius),
reduzindo conseqüentemente o tempo da operação.
Há situações em que o tempo
de cálculo cai de semanas para dias,
diz Antonelli.
A partir de 1999, os pesquisadores
da Unicamp e do MIT, entre eles o professor Sidney
Yip, considerado um dos pioneiros na simulação
computacional de sistemas físicos, começaram
a fazer a aplicação e a extensão
do método. Ele tem sido usado para resolver
problemas ligados à física dos materiais.
Na natureza, esclarece Antonelli, a tendência
é que os fenômenos sigam uma determinada
ordem. Tome-se como exemplo uma pessoa filmando a
seguinte cena: um vaso cai da mesa e se quebra. Agora
imagine esse filme sendo passado ao contrário.
Nesse caso, é fácil perceber que um
monte de cacos não pode se juntar e voltar
à mesa na forma do vaso.
A Física procura estabelecer
critérios mais rigorosos para entender processos
como esse. Um problema prático citado pelo
professor do IFGW é o silício, material
fundamental para a indústria eletroeletrônica.
Valendo-se dos conceitos e conhecimentos da termodiâmica,
os pesquisadores criam situações virtuais
para saber como é o comportamento dos átomos
quando esse material é submetido a altas temperaturas
ou quando é resfriado. Algumas dessas respostas,
reforça Antonelli, seriam muito difíceis
de serem obtidas em laboratório.
Conforme o professor do IFGW, a
nova metodologia já foi objeto de alguns artigos
publicados em revistas conceituadas de circulação
internacional. Felizmente, o método vem
tendo uma boa repercussão junto à comunidade
científica e já vem sendo utilizado
por alguns grupos de pesquisa no exterior, diz,
acrescentando que ele pode ser adaptado às
várias técnicas de simulação
computacional existentes. Os estudos conduzidos na
Unicamp contam com investimentos da ordem de US$ 40
mil, financiados pela Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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