A
extensa fila, no início deste ano, formada
por milhares de jovens entre 16 e 18 anos incompletos,
em busca oportunidade de emprego formal, através
do CAMPC (Circulo dos Amigos do Menor Patrulheiro
de Campinas), evidencia a urgência de se implementar
programas que fomentem oportunidades profissionais
para este segmento. O governo federal anunciou recentemente
a criação, oportuna, de um programa
nesta linha. Em tempos de desemprego cada vez mais
acentuado, haja vista índices recentes que
indicam diminuição de vagas, a disputa
por uma colocação profissional é
ainda mais dramática em algumas faixas etárias.
É o caso daqueles que buscam o primeiro emprego.
Na maioria desafiados pela premente questão
da sobrevivência ou como componente indispensável
da baixa renda familiar. A primeira grande barreira
que enfrentam é a alegada falta de experiência.
E quando a terão se não tiverem a primeira
chance?
Em Campinas, uma das cidades mais
desenvolvidas e com maior potencial de emprego qualificado
no país, é possível fazer avançar
tais oportunidades. Na Unicamp, por exemplo, há
muito tempo, dezenas de jovens, na condição
de patrulheiros, guardinhas ou mensageiros, têm
essa oportunidade, na prática um fator considerável
e positivamente diferenciador na formação
profissional. Há centenas de exemplos de quem
aqui, nessas condições, começaram
sua vida profissional e hoje estão profissionalmente
integrados na Universidade. Muitas outras empresas,
praticando a responsabilidade social, possuem programas
de incentivo à qualificação e
ao primeiro emprego de jovens. Em Campinas não
faltam exemplos. Casos da CPFL (Companhia Paulista
de Força e Luz) e da Rede de cinemas Cinebox,
instalada em um dos shoppings na cidade, entre muitos
outros. São aspectos decisivos para o futuro
profissional daqueles que hoje buscam ansiosamente
sua primeira chance.
Algumas outras ações
práticas acontecem ou se encaminham, caso do
Programa Profissão, no qual o governo estadual,
através da Secretaria Estadual de Educação,
viabiliza cursos profissionalizantes complementares,
para alunos concluintes do ensino médio em
escolas públicas. No município há
expectativa de inauguração do futuro
Ceprocamp Centro de Educação
Profissional de Campinas, anunciada pela Prefeitura.
Que tal espaço, uma parceria com o governo
federal, promova para nossos jovens a almejada qualificação
que amplie oportunidades e melhor preparo para o disputado
primeiro emprego. Ganha importância adicional
levar em conta, na implementação de
novos programas, as experiências já existentes,
ampliá-las ou consolidá-las.
Reconhecer a importância da
ação desenvolvida pelo CAMPC, entidade
que há décadas vem prestando relevante
trabalho em relação ao tema, acolhendo,
preparando e encaminhando adolescentes para uma primeira
oportunidade de exercício profissional, é
oportuno. Trata-se de uma experiência reproduzida
também em várias outras cidades do país
por entidades similares. Em Campinas não é
de hoje que no início de cada ano, milhares
de jovens buscam, na referida instituição,
a sua primeira chance de trabalho. Esta ocorre em
diversas atividades na indústria, no comércio
e nos diversos serviços e atividades do setor
público. Há grande quantidade de profissionais
efetivamente inseridos no mercado de trabalho, que
começaram sua trajetória na condição
de patrulheiros. E se orgulham disso.
Um reflexo está no projeto
que ex-patrulheiros da Unicamp, hoje funcionários,
divulgam, tendo como meta integrarem-se em uma inédita
associação. Importante destacar que
a referida instituição tem como exigência
para os jovens que a ela se integram a continuidade
dos estudos. Para isto acompanham o desenvolvimento
escolar de seus integrantes. Esforço louvável
e que faz pleno sentido à luz do ECA-Estatuto
da Criança e do Adolescente, que acaba de completar
13 anos, como referência respeitada em relação
aos direitos dos segmentos populacionais a que se
refere. Afinal o sucesso profissional relaciona-se
ao avanço educacional e maior qualificação
profissional. O desenvolvimento das aptidões,
habilidades e competências individuais e melhor
preparo diante das constantes inovações
tecnológicas podem produzir melhores oportunidades
profissionais.
Importante registrar que também
há, por parte da CAMPC, observância em
relação aos jovens que a ela se integram,
o cumprimento da legislação e dos direitos
trabalhistas. Não faltam, portanto, motivos
para reconhecimento ao trabalho que a referida entidade
desenvolve bem como contribuir para aprimorá-lo,
onde for o caso. A imensa fila expressou a ansiedade
da busca da iniciação ao emprego formal.
Há outras filas, como a dos muitos milhares
que buscam um emprego de gari no Rio de Janeiro, a
compor o desolador cenário social resultante
do desemprego. Os sucessivos índices que apontam
a redução das vagas de emprego, certamente
produzirão mais filas. Mas o primeiro emprego
talvez seja o mais importante na trajetória
profissional. A importância da implementação
de políticas públicas mais amplas com
vistas ao crescimento de oferta neste campo, torna-se
cada vez mais importante. Ações voltadas
para os menores, inserindo-os efetivamente no caminho
de uma profissão é gesto fundamental
e urgente. É investir em futuro melhor para
eles e para a sociedade.
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Edison Cardoso Lins é funcionário da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Foi representante
eleito dos funcionários em três mandatos junto ao
Conselho Universitário e ex-presidente da ASSUC-Associação
dos Servidores da Unicamp. Iniciou sua vida profissional
como patrulheiro. e-mail: edison@reitoria.unicamp.br