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Do
gramofone ao CD
Professor
do Instituto de Artes resgata
histórias dos primórdios da indústria
fonográfica
ANTONIO
ROBERTO FAVA
O Brasil foi o primeiro
país do mundo responsável pela
produção de um disco com gravações
de ambos os lados. Trata-se da canção
Isto é Bom, um lundu de Xisto Bahia,
na voz de Bahiano, lançada em 1902.
Nos países da Europa e Estados
Unidos, isso só foi acontecer anos
mais tarde, lembra com orgulho o professor
Eduardo Anderson Duffles Andrade, titular
das disciplinas de Prática de Estúdio
e Equipamentos, do curso de Música
Popular e Música Industrializada, do
curso de Música Erudita, do Instituto
de Artes da Unicamp. Pesquisador meticuloso,
Andrade é uma fonte inesgotável
de histórias quando o assunto é
a evolução da indústria
fonográfica nacional. É vasto
o repertório de suas pesquisas.
Uma dessas histórias,
por exemplo, diz respeito à primeira
audição de um disco feita no
Brasil. Numa cena imaginária, mas fiel
aos relatos da época, como registra
o livro A Casa Edison e seu Tempo, de Humberto
Fransceschi, olhos e ouvidos ficavam atentos
ao som que saía do aparelhinho, uma
caixa de madeira que, na parte superior, sustentava
uma corneta. O som era um tanto fanhoso. A
agulha deslizava vagarosamente por entre os
sulcos desenhados no acetato. Ao redor do
aparelhinho, homens e mulheres apreciavam
uma canção da época:
Casinha Pequenina, cantada por Mário
Pinheiro para a Casa Edison, Rio de Janeiro,
para a qual o artista trabalhava por um salário
de 40 mil réis.
A cena não retrata
apenas uma época que já passou.
Por ela, perpassa o início da indústria
do disco, desde o de cera, inaugurado por
Mário Pinheiro, e tantos outros que
caíram no esquecimento, no início
do século, devido à substituição
das gravações mecânicas
pelas elétricas, a partir de 1927,
lançando as bases para o que é
hoje a indústria fonográfica
brasileira. Um mercado que movimento bilhões
de dólares por ano no mundo todo.
Bem, os primeiros 50 anos
de histórias das gravações
são chamados genericamente de período
acústico mecânico, uma
fase que não envolveu nenhuma interferência
eletrônica ou elétrica para produzir
uma gravação e reprodução
de discos. Quem primeiro produziu um
sistema capaz de gravar e reproduzir o som
foi Thomas Alva Edison (1847-1931), que no
final de 1877 desenhou e produziu em seu laboratório
em Menlo Park, Nova Jersey, um aparelho denominado
phonograph. Esse aparelho consistia
num cone em cujo vértice era colocada
uma membrana ou diafragma com uma agulha no
centro e um cilindro metálico revestido
de estanho ligado a uma manivela que, acionada
manualmente, fazia o cilindro girar, com o
propósito de gravar ou reproduzir um
som, explica o pesquisador.
As vibrações
sonoras captadas pelo cone e transmitidas
para a membrana e para a agulha eram então
inscritas nos sulcos em movimentos verticais.
O lento deslocamento lateral do cilindro fazia
com que os sulcos fossem gravados numa espiral.
Invertendo-se o processo, dava-se a reprodução,
isto é, colocando-se a agulha no começo
das espirais e girando-se o cilindro, as vibrações
inscritas no sulco eram captadas pela agulha
que transmitia ao diafragma e ao cone, permitindo
assim a audição dos sons previamente
gravados.
É preciso ressaltar
que a invenção do fonógrafo
por Edison representa a origem da gravação
sonora do mundo, e que contou com a participação
de Emile Berliner (1851-1929), responsável
pela sua posterior industrialização,
em 1888. Depois de vários anos de pesquisas
contínuas, Berliner, que inventou também
um microfone que se tornou parte do primeiro
telefone de Bell, consegue, em 1893, um processo
industrial que permite a produção
de indefinido número de cópias
de uma gravação original, iniciando
assim o processo de introdução
da música na era de sua reprodutibilidade
técnica.
Cilindros à base de cera
As primeiras
unidades do fonógrafo começam
a aparecer no Rio de Janeiro, importados
por James Mitchel. Tinha início
então a era das gravações
para venda, feitas por Frederico Figner,
a partir de cilindros previamente gravados.
No início de 1898, atingiram
quantidade razoável para comercialização,
conta o professor Andrade.
É preciso
observar que os cilindros desse período
eram de cera e poderiam ser raspados
e polidos para novas gravações.
No entanto, o pesquisador da Unicamp
aponta um fato polêmico nessa
história toda: Thomas Edison
é considerado o criador da primeira
gravação em cilindros.
Há registros que revelam que
Edison testara o seu primeiro fonógrafo
narrando uma peça infantil da
época: Maria tinha um carneirinho.
No entanto, registra-se que foi Emile
Berliner, o primeiro a industrializar
o disco. Nascido em Hanover, ele acabou
ficando com o título de inventor
do gramofone, primeira máquina
de tocar discos. O gramofone de Berliner
diferiu de seus conterrâneos por
haver usado um disco plano para registrar
o som em lugar do cilindro proposto
inicialmente por Thomas Edison.
Esse disco
plano, segundo o pesquisador do IA,
permitia baratear os custos e despesas
de fabricação, além
de proporcionar a duplicação
em série. O grupo dele, a Victor
Speaking Talking Machine Co., depois
de adotada pela RCA, empresa que, com
o tempo, tornou-se uma das maiores da
área, era uma pintura divertida
de sue cachorro, chamado Nipper,
ouvindo a voz de seu mestre.
Impulso
O sistema acústico-mecânico
estendeu-se até 1925. A partir
daí, as gravações
foram evoluindo, absorvendo novas tecnologias.
Na década de 1930, os alemães
desenvolveram o que denominaram deprincípio
magnético, o Magnetophon,
para gravação e reprodução
de fitas magnéticas. Foi quando
apresentaram, numa exposição
de equipamentos de rádio em Berlim,
o primeiro Magnetophon, ou seja, o primeiro
aparelho de som magnético. Andrade
diz que só os alemães
tinham esse sistema. Os americanos tinham
algo semelhante, como máquinas
de gravação em arame magnético,
mas sem maior qualidade.
Hitler
e seus homens faziam uso desses sistemas
para anunciar seus inflamados discursos
políticos, uma vez que o Magnetophon
usado pelas emissoras de rádio
formavam um poderosos sistema de comunicação
de massas da época.
Logo depois,
em 1948, surgiam nos Estados Unidos
os discos de alta-fidelidade (Hi-Fi)
e o long-play, com até uma hora
de duração, processo que
provocou um fato no mínimo curioso:
com os discos de vinil reduziu-se o
tamanho dos sulcos, transformando-os
num micro-sulcos, e o disco reduziu
de 78 rpm para 33 rpm. Essa evolução
aconteceu também no Brasil quase
que simultaneamente. E mais: no início
da indústria fonográfica
o disco era produzido num só
canal; só no final de 1958 passa
a ter dois, processo batizado esteroefonia
bi-canal.
Só
que a partir daí as técnicas
de gravação começam
então a evoluir de maneira espantosa,
e o rock passa a ser encarado como uma
nova linguagem musical, lembra
Eduardo. Isso fez com que as gravações,
com o tempo, passassem a ser produzidas
em estúdios com 4, 8, 16 e hoje
com até 24 canais.
Hoje os CDs
se constituem no que há de mais
avançado em termos de disco.
Populares, são prensados da mesma
maneira que os discos analógicos,
só que não há vibrações,
porque têm cavas e sua superfície
é lisa. Feito de plástico,
o CD, abreviação de compact
disc, contém uma espiral que
parte do centro para as bordas. Nessa
espiral estão inscritas microscopicamente
uma sucessão de superfícies
planas e cavas. A leitura de seu conteúdo
música, textos ou imagens
é feita por meio de um
facho de luz de lazer.
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