A
janela inteligente
Dispositivo pesquisado pelo Laboratório
de Polímeros regula a
intensidade de luz e influencia na temperatura do ambiente
PAULO
C. NASCIMENTO
ma
janela inteligente, capaz de controlar automaticamente
a luminosidade de ambientes, foi desenvolvida no Laboratório
de Polímeros Condutores e Reciclagem, do Instituto
de Química (IQ) da Unicamp. O produto, ainda em
fase laboratorial, poderá estar pronto para industrialização
nos próximos três anos e deverá se
constituir em um importante recurso para economia de energia
elétrica no Brasil. Ao regular a intensidade de
luz, a janela também influencia a temperatura do
local em que está instalada, o que poderá
resultar em menor uso de ventiladores e aparelhos de ar-condicionado
para refrigeração durante o verão
ou de aquecedores no inverno. Poderá, ainda, transformar
cortinas e persianas em artigos para antiquário.
A
janela é um dispositivo eletrocrômico (capaz
de mudar de cor ao receber impulsos elétricos)
constituído de um sanduíche
de diferentes polímeros inteligentes
plásticos cuja constituição
química lhes permite responder a um determinado
estímulo de forma reprodutível e específica.
A superfície de duas folhas de plástico
transparente e flexível (semelhante às transparências
utilizadas em retro-projetores) é recoberta com
uma fina camada de óxido de estanho, um produto
químico capaz de conduzir energia elétrica,
e dois diferentes tipos de polímeros: poli (o-metóxianilina)
e poli (tiofeno), este produzido pela empresa alemã
Bayer com o nome comercial de Baytron-P.
O
recheio se completa com a colocação, entre
ambas as folhas, de uma camada de borracha impregnada
com outro produto químico, o perclorato de lítio.
O material, cedido pela companhia japonesa Daiso, parceira
da Unicamp na pesquisa, é um eletrólito
elastomérico que exerce, na janela, papel idêntico
ao da solução ácida (eletrólito
líquido) da bateria elétrica de um veí-culo,
ou seja, o de transportar íons e permitir o equilíbrio
de cargas elétricas no dispositivo.
Ao
receber o impulso elétrico, os substratos químicos
reagem e apresentam mudança de tonalidade, da transparência
total ao opaco, conforme a intensidade da corrente. Com
isso, a janela deixa passar maior ou menor luminosidade
para o ambiente de acordo com as condições
climáticas externas ou, ainda, a preferência
do usuá-rio. Apesar do número de componentes
utilizados em sua montagem, o dispositivo tem espessura
inferior a meio milímetro.
Protótipos
A transmitância da luz pela janela
pode ser de 90% ou apenas 10%, observa o professor
Marco-Aurelio De Paoli, do Departamento de Química
Inorgânica da Unicamp e coordenador de projetos
do Laboratório de Polímeros Condutores e
Reciclagem. Para comparação, basta
lembrar que nas películas para reduzir a luminosidade
interna em veículos a transmitância limitada
por lei é de 75%.
Financiada
pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho
Nacional de Pesquisa (CNPq), com colaboração
das empresas Bayer e Daiso, a pesquisa resultou até
o momento em protótipos de janelas inteligentes
com dimensões de 25 centímetros quadrados.
De acordo com De Paoli, os próximos passos incluem
a montagem de protótipos maiores e o desenvolvimento
de estudos para a viabilização de sua produção
em escala industrial no país.
Segundo
ele, protótipos comerciais com a mesma tecnologia
já estão sendo testados na Europa e nos
EUA, fabricados por consórcios de empresas, de
olho no alto potencial de consumo dessas janelas. Estima-se
que, por volta de 2005, só o mercado norte-americano
responderá por quatro bilhões de metros
quadrados anuais em aplicações arquitetônicas
para a janela inteligente.
Os
produtos desenvolvidos no exterior têm, porém,
um inconveniente: montados em lâminas de vidro,
atenderão primordialmente obras novas. Caso o interessado
queira utilizá-lo em uma edificação
já concluída, terá que substituir
totalmente a janela convencional pela inteligente.
Vantagens
É nesse aspecto que o dispositivo elaborado
pelos pesquisadores da Unicamp se diferencia com vantagens
do concorrente internacional, ressalta De Paoli. Por ser
montado em material delgado e flexível, pode ser
simplesmente colado sobre vidraças já existentes,
como ocorre com películas convencionais redutoras
de luminosidade encontradas atualmente no mercado. Também
seu custo produtivo deve ser inferior ao do similar em
vidro.
O
controle da intensidade do impulso elétrico para
escurecer ou clarear a janela irá variar conforme
a aplicação do produto, esclarece o coordenador
da pesquisa. Poderá ocorrer por meio de um dimmer
(regulador para iluminação) acionado manualmente
ou, de forma automática, a partir de informações
enviadas por sensores externos de luminosidade e temperatura
monitorados por computador nos chamados edifícios
inteligentes.
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Células
de plástico para converter energia solar
O
Laboratório de Polímeros Condutores e Reciclagem
também é pioneiro no Brasil no desenvolvimento
de células fotoeletroquímicas de plástico
para conversão de energia solar em eletricidade.
Nesse
projeto estão sendo desenvolvidas e testadas células
solares que utilizam um corante fotosensibilizador (o
composto de rutênio) e óxido de titânio
(o pigmento branco das tintas de parede e de plásticos
em geral), um produto químico semicondutor que
tem a propriedade de transformar a luz solar em energia
elétrica. Conforme De Paoli, esses dispositivos
estão sendo considerados os mais promissores substitutos
às células fotovoltaicas de silício.
Os
estudos envolvendo as células solares de óxido
de titânio começaram no início da
década de 90, no laboratório do professor
Michael Grätzel, na Universidade de Lausanne (Suíça).
No entanto, após dez anos de intensa pesquisa em
todo o mundo, a produção de módulos
em larga escala ainda não foi efetivada.
O
maior problema para a produção comercial
dessas células é decorrente do uso de um
componente líquido (o eletrólito), o que
requer a vedação perfeita do dispositivo
para evitar o vazamento e a evaporação de
solvente. O vazamento do produto pode causar danos ambientais,
além de comprometer o funcionamento da célula.
Solução
Porém, na pesquisa conduzida pela equipe
da Unicamp, esse problema foi solucionado pela substituição
do eletrólito líquido por um eletrólito
plástico, uma borracha impregnada com iodeto de
sódio e iodo, também fabricada e cedida
pela Daiso.
Em
ensaios recentes, dois protótipos de células
fotoeletroquímicas, com apenas 1 centímetro
quadrado cada um, geraram energia equivalente à
de duas pilhas comuns de 1,5 volt. Isso corresponde a
um rendimento da ordem de 1,5% a 2%, ou seja, o percentual
da energia solar que é convertido em energia elétrica
pelo dispositivo preparado com o componente polimérico.
Em
escala mundial é o melhor resultado já obtido
para células solares de óxido de titânio
com eletrólito seco, comemora De Paoli.
Comparativamente ao rendimento de 14% proporcionado por
uma fotocélula de silício, ainda é
muito modesto para ser aplicado em larga escala. Entretanto,
pondera o professor da Unicamp, os resultados em âmbito
laboratorial apontam para a viabilidade de um produto
alternativo para geração de energia de custo
baixo, produção mais simples e, principalmente,
menor impacto ambiental. O pedido de privilégio
de patente para este dispositivo já foi encaminhado
ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Baixo
custo De acordo De Paoli, células de
silício, embora tradicionalmente tenham maior aplicação
comercial, apresentam um custo muito elevado, o que inviabiliza
sua popularização. Além disso, estima-se
que a energia gasta para construir uma fotocélula
de silício seja superior a energia gerada pela
mesma durante toda a sua vida útil, o que não
é o caso das células fotoeletroquímicas
baseadas em óxido de titânio com corante.
A
pesquisa da Unicamp mostra como a energia solar, uma fonte
limpa, abundante e barata, pode ser utilizada para suprir
a demanda energética em áreas remotas, como
a Amazônia, por exemplo. Ratifica ainda o compromisso
da Universidade com os problemas relativos à produção
e distribuição de energia e à maior
conscientização ambiental, argumenta
o professor.
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