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Jornal da Unicamp
Baixar versão em PDF Campinas, 14 de março de 2014 a 24 de março de 2014 – ANO 2014 – Nº 590Telescópio
Cuidado na hora de usar ‘Big Data’
Artigo publicado na edição da última semana da revista, assinado por pesquisadores dos EUA e da Itália, chama atenção para os riscos do uso da chamada “big data” – grandes agregados de dados gerados por ferramentas de busca online e redes sociais – na elaboração de pesquisas científicas.
O ponto de partida da crítica é uma série de erros constatados nas previsões feitas pelo Google Tendências de Gripe (GFT, na sigla em inglês), um serviço que usa estatísticas dos termos pesquisados no site de busca para mapear a situação da gripe no mundo. No início do ano passado, o GFT superestimou, por uma grande margem, o número de consultas médicas por gripe que aconteceria nos Estados Unidos.
Sem negar o potencial científico da “big data”, os autores do artigo chamam atenção para dois problemas que, segundo eles, estão na raiz do fiasco do GFT: “arrogância” e “dinâmica dos algoritmos”. “Arrogância”, segundo eles, vem da “pressuposição de que a ‘big data’ substitui, em vez de complementar, os métodos tradicionais de análise e coleta de dados”. O foco principal da crítica está na necessidade de estabelecer validade e confiabilidade para os procedimentos de “big data”, além de normas de transparência que permitam a reprodutibilidade das conclusões. Já a “dinâmica dos algoritmos” reflete o fato de que o funcionamento do Google e das redes sociais está sempre mudando, para melhorar o serviço comercial do site, e essas mudanças acabam interferindo na agregação dos dados.
Elefantes distinguem idade, sexo e etnia humana pela voz
Elefantes do Parque Nacional Amboseli, no Quênia, correm mais risco de entrar em conflito com membros da etnia Masai que da Kamba, e entre os Masai, os mais perigosos são os homens adultos – não os velhos ou as crianças, e certamente não as mulheres. Pesquisa realizada por cientistas britânicos e quenianos, publicada no periódico PNAS, mostra que os elefantes sabem disso, e são capazes de reconhecer o grau de periculosidade dos humanos apenas pelo som da voz.
Tocando gravações da frase “Olhe ali, um grupo de elefantes vem vindo” ditas por pessoas de diferentes sexos, idades e etnias na presença de 48 grupos de elefantes, os autores determinaram que os animais tinham muito mais chance de assumir uma postura defensiva quando a linha havia sido gravada por Masais do que por Kombas, por Masais homens do que por Masais mulheres e por Masais do sexo masculino adultos do que por meninos.
Os cientistas já sabiam que os elefantes reagiam de modo mais agressivo a roupas com o cheiro de Masais do que com o cheiro de Kombas, e especularam que a audição poderia representar uma forma de identificação de predadores tão importante quanto o olfato.
Espaços vazios do Universo têm gavinhas de galáxias
Pesquisadores australianos anunciaram ter encontrado longos filamentos de galáxias em partes do espaço que antes pareciam totalmente vazias. Astrônomos sabem, há tempos, que as galáxias do Universo organizam-se numa intricada rede de aglomerados unidos por filamentos, em meio à qual existem grandes vazios, onde muito poucas galáxias são observadas.
De acordo com nota do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR, na sigla em inglês), cientistas baseados na Universidade de Western Australia descobriram que essas galáxias “solitárias” na verdade se organizam em delicados filamentos. O principal responsável pela descoberta, Mehmet Alpaslan, disse que essas são estruturas inéditas, e que seu grupo decidiu chamá-las de “gavinhas”.
Mudança climática ajudou Gêngis Khan
Um período de 15 anos de clima ameno e chuvoso na Mongólia Central, sem precedentes em todo o milênio anterior, acompanhou e pode ter impulsionado a expansão do império de Gêngis Khan no século 13, diz artigo publicado no periódico PNAS.
O império criado por Gêngis foi o maior em territórios contíguos da história, e os autores do estudo propõem que o aumento na produtividade das pastagens, trazida pela mudança climática, foi um fator importante na formação e na consolidação do poderio militar mongol.
A análise do clima do passado na região foi feita com base nos anéis de crescimento de árvores. Os pesquisadores, ligados a universidades dos EUA e da Mongólia, encontraram uma transição abrupta nos sinais registrados na madeira, passando de condições de seca para de abundância de umidade.
“A transição de uma seca extrema para umidade extrema, exatamente naquele momento, sugere que o clima teve um papel nos eventos”, disse, em nota distribuída pela Universidade de Columbia (EUA), a pesquisadora Amy Hessl, uma das autoras do trabalho.
Autor de estudo japonês de células-tronco pede retratação
Um dos autores de um polêmico estudo japonês, que afirmava ser possível transformar células comuns em células-tronco com a aplicação de um banho ácido, pediu que o trabalho seja retirado da literatura científica.
De acordo com o jornal The New York Times, Teruhiko Wakayama, um dos coautores do estudo publicado em janeiro na revista Nature, disse que sua confiança no resultado divulgado foi abalada por uma série de críticas levantadas nas últimas semanas.
A nova técnica para produção de células-tronco transformou a jovem cientista Haruko Obokata, principal autora de dois artigos sobre o assunto, numa celebridade no Japão, e num símbolo da ascensão das mulheres no mundo científico, diz o diário norte-americano.
No entanto, dificuldades na reprodução dos resultados anunciados têm gerado ceticismo quanto às conclusões originais de Obokata, Wakayama e colegas. Além disso, questões de plágio foram levantadas, o que levou a Nature a lançar uma investigação sobre os artigos.
“Para investigar a validade do estudo, primeiro temos de fazer uma retratação, coletar as fotos e os dados corretos e provar outra vez que o estudo estava certo”, disse Wakayama.
Micróbio usa corrente elétrica para se alimentar
Um tipo comum de bactéria, Rhodopseudomonas palustris, é capaz de atrair elétrons das profundezas do solo, ao mesmo tempo em que se mantém na superfície, absorvendo a luz do sol. A descoberta, feita por pesquisadores da Universidade Harvard, foi publicada no fim de fevereiro no periódico Nature Communications.
Os micróbios usam a luz solar para obter energia, e normalmente precisam de ferro para conseguir os elétrons, mas esse elemento costuma ficar abaixo da superfície. Para alcançá-lo, as bactérias usam minerais condutores de eletricidade como intermediários.
“No centro do nosso estudo está um processo chamado eletrotransferência extracelular, que envolve mover elétrons para dentro e para fora das células. Fomos capazes de mostrar que esses micróbios absorvem eletricidade, que entra em seu metabolismo”, disse, por meio de nota, um dos autores do trabalho, Peter Girguis. Os testes de laboratório mostraram, ainda, que as bactérias são capazes, quando necessário, de obter elétrons de outras fontes além do ferro.
Descoberto fóssil de tiranossauro ártico
O crânio de 70 milhões de anos do que parece ser uma versão reduzida do temível tiranossauro foi descoberto no Alasca, informa artigo publicado no periódico online PLoS ONE. Segundo a análise dos ossos, o animal é um exemplar de uma nova espécie de tiranossaurídeo, Nanuqsaurus hoglundi, parente dos tarbossauros e dos tiranossauros.
Os autores da análise, do Museu Perot de Ciência de Natureza, baseado em Dallas (EUA), acreditam que o animal era bem pequeno – o crânio adulto teria um comprimento de 63 centímetros, ante 152 centímetros de um tiranossauro rex. Os autores especulam que o tamanho menor pode ter sido uma adaptação às condições de escassez do clima ártico.
Como o Twitter afeta a opinião pública
Pesquisadores chineses reuniram mais de 6 milhões de mensagens publicadas no Twitter num período de 6 meses, em 2011 e, depois de usar algoritmos de computador para filtrá-las por tema, analisaram como as opiniões dos autores sobre cada assunto evoluiu ao longo do tempo.
A análise, publicada no periódico Chaos: An Interdisciplinary Journal of Nonlinear Science, revelou que a opinião pública no Twitter evolui rapidamente pra um estado de equilíbrio, no qual uma posição assume papel dominante, mas não se torna unânime: visões dissidentes, mesmo enfrentando forte oposição, têm pouca chance de desaparecer.
Os autores, Fei Xiong e Yun Liu, notam que, como a opinião dominante emerge muito rapidamente, uma pequena vantagem na divulgação de um ponto de vista no estágio inicial da competição entre ideias pode se refletir em um grande ganho quando a opinião pública se cristaliza. “Quando a opinião pública estabiliza, ela se torna muito difícil de mudar”, disse Xiong, por meio de nota.