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Professores têm artigos publicados
em periódico sobre ensino superior
Verba é destinada à qualificação e melhoria dos ambientes de ensino

O mais recente número do periódico International Higher Education, editado pelo Center for International Higher Education (CIHE), publicou três artigos dos professores da Unicamp Leandro Tessler, Renato Pedrosa, Cibele Yahn e José Roberto Perez. Os textos compõem a seção intitulada “Brazilian Perspectives”. Os quatro pesquisadores são membros do Grupo de Estudos em Ensino Superior (GEES) do Centro de Estudos Avançados (CEAv). Vinculado ao Boston College (EUA), o CIHE é referência mundial nos debates sobre ensino superior.

Em “A busca de equidade no ensino superior brasileiro”, Tessler, professor associado do Instituto de Física Gleb Wataghin e coordenador de Relações Internacionais da Universidade, afirma que o sucesso das ações afirmativas de acesso às universidades demonstra que a seleção de estudantes baseada apenas no desempenho em uma bateria de exames vestibulares “está longe de ser um processo justo, imparcial, democrático e equitativo”.

Tessler pondera que o fato de um grande número de contemplados pelas ações serem oriundos de escolas secundárias de baixa qualidade não implica que lhes falte o talento ou as competências necessárias para concluir bons cursos universitários. “Dadas as condições certas, estudantes de ponta vindos de contextos desvantajosos superam seus colegas após um ou dois semestres na universidade. Sua taxa de abandono pode ser maior que a média em algumas instituições, mas não supera a dos candidatos que eles substituem. Como um benefício secundário, as instituições tornam-se mais diversificadas, proporcionando um ambiente mais favorável à educação.”

Em breve histórico, o professor situa o início das ações afirmativas em uma decisão da Universidade de Brasília, tomada em 2003, que reservou 20% de suas vagas para negros, pardos e indígenas. Desde então várias universidades instituíram suas políticas de acesso, seja por decisão própria ou em obediência a leis estaduais. Mas em 2009, o DEM entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) argumentando que as cotas raciais da UnB violariam não menos que nove preceitos constitucionais. Independentemente da decisão final do STF, avalia, todo o modelo de admissão ao ensino superior deverá ser revisto nos próximos anos.

No texto “Avaliando resultados do ensino superior no Brasil”, Pedrosa, professor do Departamento de Matemática do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica e coordenador da Comvest, afirma que, a despeito de suas limitações, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), estabelecido por lei federal em 2004, já se consolidou como um componente relevante do cenário brasileiro de educação superior: “[O sistema] cumpre um papel central em processos de credenciamento [de cursos e de instituições] e em outros programas federais.”
Entre as principais limitações do Sinaes – baseado em um programa anterior, de 1996, e administrado pelo Ministério da Educação (MEC) –, Pedrosa menciona a falta de desenvolvimento, até o momento, de uma análise de validade de seus resultados. “Na realidade, algumas questões foram levantadas indicando que o sistema pode demandar algumas modificações antes que seja considerado válido para as aplicações pretendidas”, escreve

Primeiramente, a metodologia de pontuação é aplicada de modo uniforme para todas as áreas e formas de graduação – desde pedagogia até engenharias –, e os mesmos princípios regem a análise de qualquer tipo de instituição. Em segundo lugar, há quem considere os 30 itens utilizados para avaliar a proficiência do estudante ao concluir o curso em uma área específica como inadequados para abranger o conhecimento relevante desenvolvido na graduação. A terceira preocupação é a distorção decorrente de boicotes discentes, considerando que, ainda que as notas do Enade não constem de seus registros escolares, ainda há resistência de entidades estudantis ao exame. A última objeção reside no ciclo de três anos para avaliação de proficiência dos alunos: em alguns cursos, particularmente aqueles com poucos matriculados, seria um período muito longo, resultando na necessidade de muitas “rodadas” até a produção de resultados significativos. Pedrosa saúda a iniciativa do MEC de nomear uma comissão permanente de revisão para analisar o Sinaes e fazer recomendações. “Espera-se que o comitê ajude a estimular um debate extremamente necessário sobre suas características e sobre como os resultados são utilizados.”

No artigo “Gestão estratégica de universidades brasileiras”, Cibele Yahn de Andrade, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Unicamp (NEPP), e José Roberto Rus Perez, coordenador do NEPP e professor da Faculdade de Educação, apontam a importância de as universidades pensarem e agirem estrategicamente em um contexto global dinâmico. “As universidades brasileiras, todo o sistema de educação superior e a infraestrutura de inovação científica e tecnológica devem enfrentar os novos desafios empregando técnicas sofisticadas de gestão e planejamento”, escrevem.

Mas, “sem tradição nesse tipo de planejamento estratégico efetivo”, tanto o ensino superior público quanto o privado enfrentam numerosos obstáculos: “Poucas instituições desenvolveram uma cultura de planejamento; poucos funcionários têm o treinamento ou as habilidades necessárias para participar de planejamento estratégico; os sistemas de informação são inadequados; poucos sistemas e profissionais são capazes de monitorar e controlar a execução de um plano estratégico.”

Ressalvando que diversas universidades do País estão conduzindo e publicando pesquisas de nível internacional, os autores avaliam que “o amadorismo quase sempre prevalece na gestão das finanças, na engenharia institucional e na tomada de decisões”.

Para suprir tais lacunas, os pesquisadores apontam a fundamental importância de centros de formação de especialistas em gestão universitária. “O Brasil precisa entrar em contato com modelos bem-sucedidos implementados em outros países. Melhor gestão, planejamento estratégico, supervisão efetiva e coordenação são avanços cruciais para melhorar a qualidade do ensino superior no País, de modo que possa acompanhar o ritmo acelerado de crescimento da economia brasileira.”



 
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