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Geração de empregos formais na
indústria incrementa exportações
Dissertação mostra que setor foi responsável por 30%
das contratações entre 2002 e 2008

Estudo desenvolvido pelo economista Cassiano José Bezerra Marques Trovão, que resultou na sua dissertação de mestrado orientada pelo professor Claudio Salvadori Dedecca, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, analisou a evolução do emprego formal da indústria brasileira entre os anos de 2002 e 2008. Para tanto, foi feita uma comparação entre estabelecimentos exportadores e não exportadores utilizando uma metodologia de classificação desenvolvida pelo pesquisador. Entre as principais conclusões do trabalho, Trovão apontou que, no período avaliado, ocorreu uma geração maciça de emprego na indústria, nível que atingiu 30% dos mais de 10 milhões de todos os empregos formais – com carteira assinada – criados no País. E nesse contexto as exportações assumiram um papel importante, principalmente no intervalo de 2000 até 2004, quando elas dinamizam, em um primeiro momento, a atividade econômica.

Apesar de seguir em ritmo de crescimento acelerado, as exportações perderam um pouco de sua importância, entre 2004 e 2008, para a evolução do Produto Interno Bruto (PIB). Esse segundo momento, considerado chave para a economia por Trovão, na verdade tem início no final de 2003 após os ajustes econômicos feitos pelo governo brasileiro. A partir daí, medidas importantes são tomadas e a administração federal assume posição estratégica em relação ao crescimento econômico futuro e passa a ter como foco o mercado interno, promovendo diversas políticas públicas orientadas para o crescimento.

Segundo observou Trovão, entre essas medidas destacam-se: a valorização do salário mínimo, o fortalecimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de outros bancos públicos e aumento nos investimentos. Há, portanto, uma inflexão, no ano de 2004, em direção ao fortalecimento do mercado doméstico. Diante desse quadro, Trovão estabeleceu como objetivo do trabalho verificar como se deu a evolução do emprego nesse período olhando para os estabelecimentos exportadores e não exportadores.

No que diz respeito ao perfil de emprego, a conclusão é de que são bastante diferentes. Os trabalhadores de estabelecimentos exportadores possuem maiores salários, qualificação educacional superior e, ainda, apresentam melhor estabilidade no emprego, ou seja, a expectativa de permanecer no posto de trabalho por um período mais longo é bem maior. Trovão contou que havia uma dúvida durante a pesquisa, com relação a uma possível diminuição dessas diferenças estruturais, principalmente no período de mercado interno aquecido. “Mesmo assim, no que diz respeito ao perfil, as diferenças se mantêm”, afirmou.

No entanto, no primeiro capítulo da dissertação, o economista faz uma análise conjuntural econômica dos empregos. Segundo ele, caso o país continue crescendo – e já provou que não há contradição entre aumentar as exportações e crescer internamente gerando emprego e renda – e consiga articular uma política industrial aliada ao crescimento econômico e baixa inflação, capaz de permitir a indústria alterar seu padrão de tecnologia, talvez possa mudar esse quadro de assimetria entre estabelecimentos exportadores e não exportadores.

Metodologia
Ainda que o setor industrial como um todo seja importante, Trovão focou especificamente em seu trabalho os setores de metal/mecânica, alimentos, tecidos, materiais elétricos, borrachas, extrativos minerais, indústria de calçado, etc, sempre pelo recorte de exportador versus não exportador.

O que mais interessou na metodologia foi a identificação de um número fixo de empresas para um acompanhamento anual, visando o comportamento e o perfil do emprego. Trovão criou ainda uma nova categoria que é a de estabelecimentos que exportaram somente naquele período e outros que são potenciais exportadores. “Esse é o ponto forte da metodologia”, garantiu o economista. São dois setores de exportadores e um de não exportador, nos quais o pesquisador fez uma análise setorial, com as características pessoais dos trabalhadores, como ocupação de postos de trabalho por mulheres e negros, por exemplo. Além disso, foi feita também uma análise regional.

Na última parte da dissertação, Trovão avaliou o perfil ocupacional. Usou uma técnica econométrica de cluster, reunindo as ocupações em cinco grupos, de acordo com as características dos trabalhadores. A partir daí são separados por tipos específicos, por exemplo, no primeiro grupo concentram-se os dirigentes; no segundo, o pessoal mais qualificado com ensino superior; no terceiro, pessoal de nível técnico; no quarto, pessoal de secretaria; e no quinto, o chão de fábrica, constituído por pessoal de montagem, tratoristas e manutenção. Interessante observar que 80% do emprego foi gerado no terceiro e quinto agrupamentos. Mais ainda, desse total, 70% está alocado no último agrupamento, que é a base da hierarquia ocupacional – o pior em estabilidade, educação e salários.

Real
Trovão ressaltou que a estabilidade monetária foi um dos elementos que contribuiu decisivamente para alcançar uma taxa de crescimento sustentável já a partir de 2004. Associado a isso, as exportações alavancam essa evolução e isso é muito importante porque dá condições de financiamento externo. O Brasil, que tinha no passado problemas de dívida externa, passa a ser credor internacional. Isso gera condições juntamente com a estabilidade monetária. A baixa inflação garantiu o poder de compra e o aumento do salário mínimo acima da inflação dá ganhos reais aos vencimentos dos trabalhadores. Isso é fundamental porque, a partir de 2004, o que sustenta o crescimento é o investimento e principalmente o consumo das famílias. Então, a renda nacional foi ampliada e, para que ela fosse ampliada de forma real, a baixa inflação foi fundamental para criar esse círculo virtuoso em termos de sustentação do crescimento.

O que interessa no final é a geração de emprego via mercado de trabalho e, em especial, o mercado de trabalho formal, porque é onde estão as melhores garantias constitucionais. Além das medidas de curto prazo tomadas pelo governo no momento da crise econômica, existe uma estrutura construída a partir do ajuste de 2003. Essa estrutura é composta pelo controle inflacionário dentro das metas, o reequilíbrio das contas externas do país pelo aumento significativo das exportações, e principalmente, a orientação estratégica do governo federal para dinamizar o crescimento criando condições favoráveis a geração de emprego e a renda das famílias. E, a partir de 2004, essa opção por parte do Estado brasileiro possibilitou com que hoje a crise não tenha sido tão avassaladora sobre o mercado de trabalho e sobre a própria sociedade.

Apesar da polêmica que o assunto gera, Trovão afirmou que é fundamental ter pelo menos um Estado presente, capaz de garantir dinamismo da atividade econômica. Isso garante minimamente condições internas para que uma turbulência internacional não afete seu desempenho. Tanto que o Brasil, apesar das conjunturas, recuperou rapidamente a atividade econômica e o emprego por meio das condições criadas para tal.

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Publicação
Dissertação:
“Emprego, Indústria e Condição de Exportação: a Evolução do Mercado de Trabalho Formal no Brasil de 2002 a 2008”
Autor: Cassiano José Bezerra Marques Trovão
Orientador: Claudio Salvadori Dedecca
Unidade: Instituto de Economia (IE)
Fonte de financiamento: Capes
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