Liderança continental
Revista científica sediada na Unicamp
e editada por docentes do Instituto de Química
é a de maior impacto na América Latina e no Caribe
CARMO GALLO NETTO
Se o prestígio de jornais e revistas revela-se através do número de seus leitores e assinantes, a qualidade das publicações científicas é avaliada principalmente por seu fator de impacto. Ele está atrelado ao número de citações que os artigos publicados durante dois anos suscitam em publicações científicas no ano seguinte. O Journal of the Brazilian Chemical Society (JBCS), publicado pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ), é a revista científica, de toda a América Latina e Caribe, de maior impacto, mesmo quando consideradas todas as áreas científicas e não apenas a de química.
O fator de impacto é divulgado anualmente, geralmente em junho, pelo Journal of Citation Report (JCR), que é uma base de dados internacional ligada ao Institute for Scientific Information (ISI), explicam os professores Luiz Carlos Dias e Watson Loh, do Instituto de Química da Unicamp (IQ), que compõem a equipe de doze editores do JBCS. O organismo internacional acaba de divulgar o fator de impacto referente ao ano de 2007, que contabiliza o número de citações referentes a artigos publicados nos dois anos anteriores (2005/2006).
Mesmo considerando o fato alvissareiro de que o último fator de impacto do JBCS tenha alcançado um crescimento realmente significativo em relação ao do ano anterior, a revista já vinha apresentando fatores de impacto crescentes nos últimos anos, como mostra o gráfico nesta página.
O fator de impacto é obtido dividindo-se o número de citações no período de um ano pelo número de artigos da publicação nos dois anos anteriores. O índice de 1,54, divulgado em 2008, resultou do quociente: 677 (citações em 2007 de artigos publicados em 2005 e 2006)/440 (artigos publicados no mesmo período).
Os entrevistados lembram que, além do JBCS, a SBQ edita ainda a Química Nova, preferencialmente em português, e a Química Nova na Escola, em português. A Química Nova é o veículo oficial da SBQ, desde sua fundação há 31 anos, para divulgação de pesquisas em química. Eles frisam que embora o Journal tenha se salientado não deixa de ser parceiro das duas outras publicações. Explicam que, em 1990, a Sociedade decidiu-se por uma publicação que visasse também um público internacional. Surgiu o JBCS que hoje, diz Watson Loh, recebe mais da metade dos artigos de pesquisadores de países em desenvolvimento, que consideram a revista um prestigioso veículo de divulgação, como Irã, Índia, China, Paquistão, Egito, México, Iraque, Argentina, Chile e Portugal, entre outros.
O JBCS publica trabalhos de todas as áreas da química, inclusive as emergentes, exceção feita à educação, filosofia e história da química, que têm lugar na Química Nova.
Luiz Carlos Dias atribui grande parte do sucesso da publicação ao desenvolvimento da química no Brasil, que levou à formação de uma sociedade forte e de uma comunidade produtiva, que sempre apoiou a revista. O docente afirma que, depois que a publicação atingiu um bom nível, passou a atrair a atenção de pesquisadores de outros países e credita o sucesso à comunidade científica do Brasil. Considera, ainda, que o prestígio da revista está atrelado também à qualidade das contribuições submetidas e à dedicação dos referees, que realizam um trabalho voluntário. Dias entende que o resultado reflete a importância e o crescimento que a química vem alcançando no País. A propósito, lembra que a Química Nova tem um fator de impacto de 0,91, que considera altíssimo para uma publicação preferencialmente em português.
Além de aportes da SBQ, a publicação recebe recursos do CNPq e da Fapesp. Os editores fazem questão de destacar também o apoio das diretorias, anteriores e atual, do Instituto de Química da Unicamp, onde o escritório da revista, que sempre teve editores da Universidade, está sediado desde 2001.
Desde 2004, quando o JBCS incrementou o sistema on line, a submissão de trabalhos vindos do Brasil e do exterior tem aumentado significativamente, refletindo na qualidade e no número de artigos aceitos. Este fato conduziu à elevação progressiva do número de fascículos publicados por ano, que são oito atualmente, mas que podem vir a aumentar a partir do próximo ano. A publicação está no volume 19, que remete ao décimo nono ano de sua existência. Esse crescimento foi possível, também, face ao aumento da capacidade editorial do escritório de Campinas.
Dias e Loh explicam que à medida que os artigos chegam – são aceitos apenas os enviados pelo sistema on line – a assistente editorial (editorial manager) Elizabeth Magalhães os avalia e envia para o corpo editorial, composto por doze membros de diferentes instituições brasileiras. O perfil do trabalho a ser examinado leva à definição do editor mais indicado, que avalia o manuscrito e seleciona os referees que emitirão pareceres sobre a originalidade e relevância do trabalho. Com base nesses pareceres e na avaliação do editor é, então, encaminhado parecer aos autores, seguindo os trâmites normais de qualquer publicação científica. Eles dizem que um terço dos referees é de outros países da América do Norte, Europa, América Latina e Ásia – o que dá à revista o mesmo padrão internacional de publicações dos EUA e da Europa. Constatam também que têm aumentado as submissões que chegam de países da Europa – Alemanha, Espanha, Portugal e da própria América Latina – e que a taxa de rejeição dos artigos submetidos é da ordem de 50%.
Os artigos vão sendo disponibilizados
na versão eletrônica à medida que aceitos e a versão definitiva
on line antecede à versão impressa, que se destina a assinantes,
bibliotecas, colaboradores e corpo editorial. Luiz Carlos
Dias lembra ainda que o sistema on line empregado na revista
foi desenvolvido dentro da SBQ e também é utilizado pela
Química Nova e pelos Anais da Academia Brasileira de Ciências.
Enfatiza que todo o trabalho da revista, desde a chegada
dos artigos, passando pelos contatos e decisões, até a publicação,
são realizados on line, o que agiliza o trâmite.
Watson Loh afirma que a revista é inteiramente gratuita
e não cobra nem pela publicação nem pela leitura dos trabalhos,
e que a posição da SBQ é a de que o produto da pesquisa,
principalmente pública, deve ser de acesso livre.