RAQUEL
DO CARMO SANTOS
A
fisioterapeuta Renata Martins Campos realizou uma pesquisa
com 47 crianças, de cinco a dez anos de idade, atendidas
no Ambulatório de Urologia-pediátrica do Hospital de Clínicas
da Unicamp, com o objetivo de tratar a enurese polissintomática
– ou incontinência urinária, como é mais conhecida – com
exercícios fisioterápicos. O trabalho foi orientado pelo
urologista Carlos D’Ancona e os resultados constam da dissertação
de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências Médicas
(FCM). Em setembro, o trabalho será apresentado em workshop
sobre o assunto em São Francisco, nos Estados Unidos.
A enurese polissintomática é apenas uma das disfunções
miccionais em crianças, mas traz muita preocupação para
os pais e incômodo para os pacientes. Ela atinge, em média,
de 5% a 10% da população nesta faixa etária e é caracterizada
por perdas involuntárias de urina durante o dia e a noite.
Quando o problema não é tratado a tempo e de maneira adequada,
existe a perspectiva de a disfunção avançar para a fase
da adolescência. “Este quadro leva o indivíduo a passar
por várias situações de constrangimentos, entre as quais
a cama molhada ao acordar e o odor muito forte liberado
pela perda urinária”, destaca Renata.
Os dilemas são muitos, pois vários pais não sabem como
lidar com a situação. Alguns recorrem às questões psicológicas
e outros até tentam a correção com punições. “O problema
acaba ficando ainda maior e afeta a família como um todo.
A ajuda médica é, muitas vezes, o último recurso”, observa.
O uso de medicamentos tem sido até agora a única alternativa
para a correção da disfunção. A questão, no entanto, é que
o tratamento nem sempre é eficaz e, dependendo do caso,
a ingestão das drogas pode durar vários meses. Neste sentido,
o estudo realizado por Renata Campos encontra sua importância,
pois os exercícios do assoalho pélvico e acessórios associados
às mudanças comportamentais apresentaram resultados significativamente
superiores.
Na pesquisa, Renata dividiu as 47 crianças em dois grupos,
sendo que em um deles foi tratado com medicação, a oxibutinina,
indicada para estes casos, associando-a à terapia comportamental,
que propõe uma mudança ou reeducação dos hábitos de ingestão
de líquidos e miccionais para melhorar o funcionamento da
bexiga. O outro grupo foi tratado com a terapia comportamental
e um protocolo de cinco exercícios para reforço dos músculos
do assoalho pélvico e músculos acessórios, como abdominais,
adultores e glúteos. Foram três meses de acompanhamento
semanais ou mensais de acordo com o grupo, e as crianças
eram orientadas a repetirem em casa, duas vezes na semana.
O primeiro grupo, tratado com medicação, apresentou no
primeiro mês 12 noites secas, no segundo, 13, e no terceiro,
16. Enquanto o segundo grupo alcançou o resultado de 15
noites secas no primeiro mês, 21 no segundo mês e, no terceiro,
24, mostrando desta forma uma melhor eficácia com o tratamento
fisioterapêutico.
Renata Campos quer saber ainda qual a participação da terapia
comportamental nestes grupos. Para isso, desenvolve linha
de pesquisa no doutorado para entender os mecanismos do
tratamento. Ela acredita que a resposta poderá contribuir
para alternativas eficientes no combate ao incômodo que
traz angústia a tantas famílias. Os interessados em participar
da pesquisa de doutorado e que apresentarem os sintomas
da enurese polissintomática poderão entrar em contato com
o ambulatório de urologia-pediátrica, no Hospital de Clínicas
da Unicamp, às terças-feiras, para posterior encaminhamento.