LUIZ
SUGIMOTO
Título:
Retrospectiva crítica sobre a pedologia: um repasse
bibliográfico
Autor: Carlos Roberto Espindola
Editora: Editora da Unicamp
Páginas: 397
Preço sugerido: R$ 80,00
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A grande maioria
dos solos do Hemisfério Norte – inclusos os da Europa, chamada
de Velho Continente – foi formada nos últimos 15 mil anos
(período Quaternário), ao passo que muitos solos tropicais
podem remontar a milhões de anos, ao período Terciário.
“Boa parte do Hemisfério Norte passou pelo fenômeno da glaciação:
as geleiras em movimento têm o poder de arrastar materiais
superficiais, como os solos, banindo-os. Por isso, aqueles
solos são bastante recentes na escala geológica do tempo”,
explica o professor Carlos Roberto Espindola, do Programa
de Pós-Graduação do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp.
Espindola é autor do livro Retrospectiva crítica sobre
a pedologia: um repasse bibliográfico (Editora da Unicamp),
no qual procura resgatar e indicar conhecimentos amealhados
pela ciência voltada ao estudo sistematizado dos solos
desde os primórdios até os dias atuais. Boa parte da obra
é dedicada às especificidades dos solos tropicais. “Muito
da bibliografia sobre pedologia está em língua inglesa,
produzida nos países que possuem uma história geológica
muito diferente da nossa”.
O docente da Unicamp afirma que o pouco conhecimento sobre
os nossos solos induziu o país, no pós-guerra, a importar
máquinas pesadas inadequadas para a agricultura brasileira.
“Eu mesmo, na faculdade, aprendi que o mais adequado era
arar e gradear para deixar o solo limpo e destorroado antes
de plantar. Hoje temos uma tecnologia nacional em que se
procura mobilizar pouco o solo, como se preconiza no plantio
direto (sobre cobertura de palhas, por exemplo) e que vem
servindo de modelo para países com condições ambientais
similares”.
Em 30 anos dedicados primordialmente ao ensino, Carlos
Espindola sempre manteve o hábito de guardar as anotações
feitas ao preparar aulas e palestras. Ao se aposentar, decidiu
aproveitá-las, tendo como ponto de partida três capítulos
que escrevera para um livro que seria publicado pela Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo. “Achei que poderia produzir
uma boa retrospectiva ampliando o material com dados atualizados
e consultas a várias bibliotecas. Penso em escrever ainda
outros livros, para que o material que guardei não se perca”.
Por julgar que a principal função de Retrospectiva
crítica sobre a pedologia é a de orientar os alunos
em seus estudos, o autor gosta mais do subtítulo – Um
repasse bibliográfico. “A ideia foi de repassar toda
a bibliografia que pude consultar, algo superior a 1.300
referências, o que ajuda a direcionar as pesquisas de pós-graduandos.
Quando iniciei meu mestrado, havia dificuldade em localizar
os assuntos e dependíamos demais do material documental
em inglês, que obviamente estava voltado principalmente
para a realidade dos Estados Unidos e da Europa”.
O professor reuniu vasto conteúdo da bibliografia francesa,
como uma espécie de antídoto contra o fascínio que a escola
norte-americana desperta. “A classificação de solos adotada
pela FAO tem propósito universal, mas precisa ser devidamente
adaptada para nossas condições. Tive a oportunidade de aprender
melhor sobre os solos tropicais com um estágio na França,
no Orstom, instituto de pesquisa voltado às suas antigas
colônias do ultramar e detentor de um material documental
de alto nível. Portugal e Bélgica também possuem um valioso
acervo das colônias ultramarinas, pouco conhecido e difundido
no Brasil”.
Ciência nova
Segundo Espindola, a pedologia pode ser considerada uma
ciência nova, se comparada às mais antigas como a química
e a própria geologia. “Ela foi instituída por volta de 1870
pelo russo Dokuchaev, que percebeu no solo não apenas a
capacidade de suportar plantas (preocupação daqueles que
estudavam sua química visando à produção agrícola), mas
um ‘corpo’ muito especial que evoluía em função de fatores
do meio”.
A pedologia (do latim pedon, que significa solo) leva em
conta a seção vertical do solo para estudos de sua evolução,
descrição, classificação e cartografia – informações indispensáveis
para planejar seu uso racional. “É uma ciência que permeia
vários campos do saber, a exemplo da geografia, da agronomia
e das ciências da terra em geral. A descrição morfológica
é uma ferramenta fundamental para orientar a irrigação,
a adubação e a conservação dos recursos naturais. Alicerça
firmemente estudos ambientais”.
Carlos Espindola recorda que a pedologia enfrentou revezes
a partir da década de 1990, quando órgãos da ciência do
solo foram extintos em prol de uma ampliação de conhecimentos
de ciências da terra em torno da questão ambiental. “Na
Espanha, o renomado Instituto de Edafologia foi rebatizado
com uma denominação voltada ao meio ambiente. Muitos institutos
de outros países, como da Austrália, foram igualmente renomeados”.
O docente observa que na virada do século, entretanto,
a própria preocupação com o meio ambiente fez com que a
pedologia voltasse a ser valorizada. “Ela ganha peso em
equipes multidisciplinares voltadas ao combate à poluição
por resíduos agrícolas. A vinhaça, antes descartada pela
indústria do açúcar e do álcool, agora é empregada no solo
para a nutrição de plantas. Planeja-se o mesmo com o material
residual da indústria de sucos. A pedologia pode contribuir
no controle desse reaproveitamento, evitando que sejam jogados
no solo elementos indesejáveis, a exemplo de minerais pesados”.
O
futuro
Antes da publicação, o livro de Espindola foi submetido
pela Editora da Unicamp ao crivo de pareceristas. Um deles
observou que, se a obra se propunha a oferecer uma retrospectiva
crítica da pedologia, não poderia deixar de abordar também
o futuro desta ciência. “A crítica veio de um técnico perspicaz,
que participara de um congresso na Filadélfia onde especialistas
do mundo todo opinaram sobre os rumos da pedologia, resultando
um livreto que me ajudou a incluir o tema no capítulo final”.
Se o docente da Unicamp vê um futuro promissor para a pedologia,
ele também se preocupa com a habilitação de novos profissionais
para a descrição de solos por meio de treinamentos de campo.
“As escolas de agronomia, geografia ou geologia, que possuem
esta disciplina, devem dar especial atenção a isso. Hoje
se fala muito em agricultura de precisão, havendo máquinas
inclusive para aplicar fertilizantes, mas isso requer conhecimento
detalhado da repartição dos solos no campo, trabalho típico
do pedólogo”.
Há pouco mais de um mês, Carlos Espindola foi convidado
pelo professor emérito José Pereira de Queiroz Neto –
a quem faz uma homenagem explícita no livro – para ajudá-lo
em um curso detalhado de solos no campus da USP de Pirassununga.
“Os estudantes sentem necessidade de aulas sobre análise
estrutural a partir da visão do solo no campo. No próprio
Instituto de Geociências da Unicamp, já fui solicitado
a dar cursos intensivos de férias, dentro e fora da sala
de aula”.