RAQUEL
DO CARMO SANTOS
Muito
se fala dos casos de sucesso da fertilização in vitro, técnica
conhecida como “bebê de proveta”, cuja fecundação do óvulo
pelo espermatozóide ocorre fora do corpo, em laboratório
especializado. Depois de um processo muitas vezes difícil
e desgastante, o casal exibe o bebê como um marco de vitória.
Mas nem sempre a história termina bem. Muitos não alcançam
o sucesso desejado. “Frente ao diagnóstico de infertilidade,
muitos casais procuram a técnica na busca por um filho biológico.
Este tratamento apresenta aspectos difíceis como, por exemplo,
injeções de hormônios, a anestesia, obtenção das amostras
de espermatozóides e a ansiedade durante cada etapa do tratamento”,
destaca a psicóloga Juliana Nicolau Filetto, que investigou
o universo dos casais que passam pelo processo.
As exigências do tratamento, segundo Juliana, provocam
nos casais um considerável desgaste físico e psíquico, envolvendo
vivências de angústia, esperança, frustração, preocupações
com as questões econômicas, pressões familiares e sociais,
entre outras. O que surpreendeu a psicóloga foi que mesmo
os procedimentos de fertilização não oferecendo garantia
de gravidez, muitos casais iniciam os procedimentos com
alta expectativa em relação à gestação. “É como se, ao iniciar
o processo, já se ter a garantia da gravidez”, explica.
No mestrado, defendido em 2004, na Faculdade de Ciências
Médicas e orientada pela professora Maria Yolanda Makuch,
Juliana entrevistou 92 casais que não tiveram sucesso na
fertilização, no período de 1995 a 2000, no Ambulatório
de Reprodução Humana do Hospital da Mulher-Caism. No doutorado,
defendido este ano, ela selecionou nove casais e fez uma
nova análise do material colhido, aprofundando o assunto.
Seu objetivo foi basicamente descrever as vivências de homens
e mulheres ao estarem iniciando os procedimentos e em longo
prazo após o fracasso da terapêutica.
Em
suas conclusões, Juliana constatou que dos nove casais,
apenas dois adotaram filhos como uma forma de reorganizar
os projetos de vida. Um deles não tinha filhos, mas no
caso do outro, a parceira já possui um filho do relacionamento
anterior e desejava que seu parceiro exercesse a paternidade.
Um dado curioso da pesquisa foi observar que dois casais,
mesmo já tendo filhos biológicos, tinham o desejo de constituir
uma família maior.
No estudo, os casais sem filhos decidiram realizar novas
tentativas de fertilização in vitro em clínicas particulares.
“Eles acreditavam que pagando pelo tratamento teriam a
garantia da gravidez. Já os demais casais se dedicaram
a outros projetos de vida que não fosse o de conceberem
um filho biológico”, esclarece. A psicóloga observa
que várias foram as formas encontradas por esses casais
para se reorganizarem.
Os resultados da pesquisa, segundo Juliana, podem contribuir
para um maior conhecimento de vários aspectos para os casais
que decidirem pela fertilização in vitro, pois relata as
vivências em cada etapa da terapêutica. Aos profissionais
de saúde, Juliana acredita que permitirá oferecer um serviço
de orientação aos casais antes, durante e após o tratamento.
“Creio que reduziria a expectativa, ansiedade e sintomas
depressivos, procurando favorecer um bom funcionamento psicossocial
após a não-gravidez”, explica a psicóloga.