Mais dados e maior velocidade em transmissões sem fio
Sistema de comunicação desenvolvido na FEEC é capaz de otimizar transmissões
Projeto
coordenado pelo professor Gustavo Fraidenraich do Departamento
de Comunicação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
(FEEC) da Unicamp, desenvolvido no Laboratório ComL@b da Unidade,
visa aumentar a velocidade de transmissão e a quantidade de
dados enviados e recebidos por meio de conexões sem fio ou
wireless.
Em dissertação de mestrado
orientada pelo docente, Cláudio Ferreira Dias apresentou um
sistema de comunicação utilizado para testes wireless com
múltiplas antenas, duas de transmissão e uma de recepção (2x1).
A implementação do sistema foi realizada com o emprego do
Rádio Definido por Software (RDS), que utiliza um software
para substituir partes físicas de um rádio tradicional, o
que facilita sobremaneira a adaptação do hardware a diferentes
necessidades. A expectativa dos pesquisadores é atingir a
meta de quatro antenas tanto na transmissão como na recepção
(4x4), com o objetivo de conseguir aumentar a taxa de dados
e qualidade de recepção.
Estabelecendo uma analogia,
o professor Gustavo diz que cada link se assemelha a uma via
em que circula um veículo com certo número de passageiros
que simbolizam o transporte de dados. A utilização de quatro
vias permite a transmissão de maior número de informações.
“Pretendemos chegar a transmitir paralelamente maior quantidade
de dados, o que faz aumentar a complexidade da recepção”,
diz. Cláudio acrescenta que o objetivo deve ser sempre conseguir
ampliar os canais de transmissão com velocidade maior sem
alterar a potência porque, como se trata de transmissão por
microondas, o aumento da potência pode vir a afetar a saúde
das pessoas.
O sistema wireless é utilizado
em celulares, na TV via satélite, nas comunicações telefônicas,
nas redes Wi-Fi, embora a pesquisa se oriente mais especificamente
para aplicação em sistemas Wi-Fi – que permitem a comunicação
a um computador sem fio a uma distância de aproximadamente
200/300 metros, e para sistemas celulares –, cujas torres
distam no máximo três quilômetros. Segundo os pesquisadores,
o problema está na transmissão com mais de uma antena já que
a recepção com várias delas ocorre há muito tempo.
Em
relação ao desenvolvimento do trabalho, os pesquisadores consideram
que conseguiram passar da teoria para a prática “porque uma
coisa são as equações teóricas e outra o desenvolvimento do
equipamento e dos experimentos, processo que envolve uma série
de superações e constitui um aprendizado”. Ao transportarem
as equações para o hardware e conseguirem a recepção dos sinais,
eles se deram conta de que haviam vencido as limitações dos
equipamentos porque tinham consciência de que nem tudo que
está no papel, na teoria, efetivamente funciona sem adaptações.
No processo que os levou à depuração realizaram primeiramente
a montagem do sistema mais simples, constituído por uma antena
transmissora e outra receptora, que constituiu a fase de aprendizado
propriamente dito. “Foi a fase em que reinventamos a roda”,
afirma o docente. No trabalho que deu origem à dissertação
de mestrado, chegaram ao sistema 2x1 e no doutorado propõem-se
a desenvolver o sistema 4x4.
Claudio lembra que o trabalho
que estão realizando atende ao futuro sistema celular de quarta
geração – atualmente os celulares estão na terceira geração
–que permitirá utilizar vídeo de alta definição em tempo real
e que prevê o uso do MIMO (Multiple Input e Multiple Output),
o que levou a indústria a se dedicar ao mesmo desenvolvimento.
A propósito, o professor afirma: “Apesar da probabilidade
concreta de que cheguemos aos resultados depois dos centros
mais avançados, o nosso estudo se reveste de particular importância
porque estamos desenvolvendo tecnologia no Brasil onde, o
quanto sabemos, somos pioneiros na construção de um sistema
4x4 porque não há nada dessa natureza sendo aqui estudado”.
A dissertação de mestrado
resgata inicialmente alguns fundamentos teóricos, faz uma
descrição geral do sistema 2x1, mostra sua implementação e
apresenta os resultados em gráficos de desempenho obtidos
de testes realizados no equipamento através de transmissão
Alamouti.
Explicações
Claudio Ferreira Dias explica
que os atuais sistemas de comunicação de dados operam com
taxas de transmissão cada vez mais elevadas porque há uma
demanda crescente por serviços multimídia e internet em dispositivos
móveis como vídeoconferência, download de músicas e videoclips.
O grande desafio tem sido projetar equipamentos que suportem
estas taxas considerando algumas limitações práticas como
faixas de frequência, potência de transmissão e confiabilidade
no enlace. O desafio é maior quando a transmissão dos sinais
é realizada por ondas de rádio, porque as adversidades advindas
da comunicação sem fio dificultam sobremaneira a transmissão.
O problema da via pela qual
trafegam os dados, o ar no caso da transmissão wireless, é
que o sinal emitido por uma antena não tem apenas um único
caminho e se espalha por todo o espaço e, ao encontrar obstáculos,
sofre reflexão. Em consequência, várias versões refletidas
chegam à antena receptora. Exemplo disso são os antigos sistemas
de TV analógicos em que, em regiões com baixa recepção da
potencia do sinal, sucessivas reflexões produzem as denominadas
imagens com “fantasmas”, resultado de superposição de imagens
atrasadas refletidas por obstáculos existentes no percurso
de propagação do sinal.
Para o pesquisador, os problemas
da transmissão sem fio podem ser contornados com a utilização
de técnicas de diversidade, que levam o receptor a enxergar
o sinal transmitido sob condições de canais diferentes, tornando
mais confiável a transmissão de dados a altas taxas em sistema
sem fio. Em particular, lembra ele, o uso de múltiplas antenas
fornece ganhos sem induzir perdas na eficiência. Além disso,
os sistemas com múltiplas entradas e saídas apresentam significativo
ganhos quando comparados aos sistemas 1x1.
Para o mestrado, os pesquisadores
optaram por um sistema de duas antenas transmissoras e uma
receptora conhecido como esquema de transmissão Alamouti,
nome do seu criador. Preferido por não ser tão complexo, o
sistema oferece a vantagem de não demandar um hardware com
grande poder de processamento.
Outro aspecto importante
que possibilitou o desenvolvimento do trabalho foi o uso do
conceito de Rádio Definido por Softwar (Software Defined Radio)
– SDR, originário dos sistemas militares do Departamento de
Defesa Americano, que surgiu da necessidade de integração
das várias interfaces aéreas existentes nos sistemas de comando
e controle por eles utilizados. A necessidade de interoperabilidade
exigiu o desenvolvimento de rádios que interagissem simultaneamente
com duas ou mais interfaces aéreas nas várias faixas de frequências
utilizadas, executando a função de um gateway que pudesse
ser modificado por uma simples troca de software, sem necessidade
de maiores ajustes ou remodelação do hardware, aumentando
a vida útil dos equipamentos e possibilitando alcançar maior
custo/beneficio.
Para Claudio, o conceito de
SDR é resultado da evolução do receptor de rádio. Antes o
rádio era montado com componentes eletrônicos justapostos
e a necessidade de alterar um determinado parâmetro como,
por exemplo, a frequência exigia a construção de um novo equipamento.
O SDR oferece uma flexibilidade maior e no caso de alterações
basta mudar algumas linhas do programa do computador para
adaptar o rádio às novas especificações. Ele acrescenta que
esse recurso possibilitou a montagem no laboratório do sistema
com duas antenas de transmissão e uma de recepção, embora
parte do equipamento não seja constituído de hardware.
Os pesquisadores concluem
enfatizando que o desenvolvimento de um sistema utilizando
múltiplas antenas foi exequível pelo fato de a FEEC possuir
laboratórios com equipamentos para desenvolver aplicações
em SDR, o que possibilitou que o sistema Alamouti fosse implementado
e avaliado no Laboratório ComL@b em relação aos ganhos prometidos
pelos estudos teóricos.
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■ Publicação
Dissertação:
“Esquema de transmissão Alamouti 2x1 implementado em Rádio
Definido por Software”
Autor: Cláudio Ferreira Dias
Orientador: Gustavo Fraidenraich
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica
e de Computação (FEEC)
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