Crianças
com o diagnóstico de dislexia são mais propensas a desenvolver
sintomas depressivos, assim como também possuem maior risco
de passar para a fase adulta com um transtorno psicológico
se a busca por ajuda for demorada. O alerta é do neuropsicólogo
Ricardo Franco de Lima, que avaliou 31 crianças com o diagnóstico
de dislexia e comparou os resultados com outras 30 crianças
sem nenhum tipo de problema e que frequentavam uma escola
pública de Campinas.
“Em geral, os grupos envolvidos na questão
não atentam para este tipo de avaliação, mas ignorar estes
aspectos no tratamento da dislexia pode acarretar consequências
emocionais graves, inclusive fazer com que o transtorno
permaneça ao longo dos anos”, evidencia.
O estudo apontou ainda uma relação entre
os sintomas depressivos e as funções cognitivas de atenção
e executivas, ou seja, de acordo com a intensidade da depressão
será o comprometimento cognitivo. Por isso, do ponto de
vista clínico e educacional, os resultados da pesquisa indicam
a necessidade de avaliação e intervenção nesta área, de
modo a minimizar o sofrimento da criança com dislexia na
escola.
As crianças estudadas tinham entre sete
e 14 anos de idade, sendo que o grupo com dislexia foi atendido
no Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp durante três anos.
O neuropsicólogo explica que lançou mão de diversos instrumentos
utilizados em pesquisas internacionais para chegar às conclusões
da dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências
Médicas (FCM) e orientada pelas professoras Sylvia Maria
Ciasca e Cíntia Alves Salgado-Azoni.
Segundo Ricardo Lima, o acompanhamento
das crianças no Laboratório de Pesquisa em Difi culdade,
Distúrbios de Aprendizagem e Transtornos de Atenção do Ambulatório
de Neuroifi culdades de Aprendizagem é feito por equipe interdisciplinar,
da qual ele faz parte. A criança passa por avaliações com
fonoaudiólogos, neurologistas, psiquiatras, psicopedagoga,
fisioterapeuta e psicólogos para que o diagnóstico seja feito
de maneira cautelosa. “Quando a criança chega com a hipótese,
só na minha área são realizadas seis sessões de uma hora
para observar o paciente. Após avaliações de todos os membros
da equipe é que a hipótese se confirma ou não”, esclarece
Lima.
Um exemplo é que, dos casos atendidos anualmente
no HC, em apenas aproximadamente 2% o diagnóstico é confirmado.
Essas crianças muitas vezes, afirma o neuropsicólogo, possuem
apenas uma difi culdade escolar de ordem pedagógica e não
um distúrbio relacionado ao Sistema Nervoso Central que
leva a criança a desenvolver um déficit no aprendizado. Conforme
definições internacionais no transtorno específico de aprendizagem,
a criança apresenta comprometimento na aquisição e desenvolvimento
da linguagem escrita. No entanto, ele chama a atenção para
as avaliações dos sintomas emocionais, uma vez que o estudo
indicou a vulnerabilidade das crianças disléxicas, justamente
pelas dificuldades apresentadas na escola.
As crianças sempre relatam sentimentos de
que não conseguem vencer as suas limitações, se sentem inferiores
em relação às outras, comparando o seu desempenho com o
de seus pares. Em alguns casos podem até apresentar humor
deprimido e ideias suicidas. “Os pais precisam estar atentos
a esta questão e se munir de conhecimento para lidar com
a situação”, alerta o neurospsicólogo.
Outra vertente do estudo proposto por Ricardo
Lima diz respeito à avaliação da atenção e das funções executivas
das crianças com dislexia. São elas: estratégias cognitivas,
controle inibitório, planejamento mental, memória de trabalho,
fluência verbal e flexibilidade mental. Em todas as habilidades,
as crianças disléxicas apresentaram alterações significativas,
o que ajuda a compreender que outros déficits acompanham
a alteração no componente fonológico da linguagem, problema
central da dislexia.
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■ Publicação
Dissertação: Sintomatologia
depressiva e funções corticais em crianças com dislexia
do desenvolvimento
Autor: Ricardo Franco de Lima
Orientadora: Sylvia Maria Ciasca
Unidade: Faculdade de Ciências Médicas
(FMC)
Financiamento: CNPq