O4/8/2011-“Maré”,
uma gravura de quatro metros de comprimento em compensado
de cedro naval, em três cores e produzida juntamente com
alunos do Instituto de Artes (IA), vai ser o resultado final
do projeto elaborado pelo artista gráfico Ernesto Bonato
para o Programa de Residência Artística da Unicamp. A ideia
é montar um ateliê no IA para proporcionar aos graduandos
e pós-graduandos, durante o segundo semestre, um contato
com todas as etapas de desenvolvimento de um projeto artístico,
desde a concepção até a exposição da obra acabada.
Ao assinar o contrato na quarta-feira,
Ernesto Bonato explicou ao reitor Fernando Costa que a xilogravura
será produzida a partir de uma imagem fotográfica do mar.
“A proposta é desenvolver um sistema de gravação – de tramas
– que possa ser executada em grupo. Uma coisa é o artista,
com a experiência que acumulou, sair interpretando, decidindo
e gravando a obra; outra coisa é trabalhar com mais pessoas
em algo definido de antemão, o que pressupõe um sistema
de gravação. A proposta é gravar a matriz com um grupo de
quatro alunos”.
Segundo Bonato, o desenvolvimento
deste sistema de tramas não é nenhuma novidade e vem do
final da Idade Média e início da Renascença. “Na verdade,
a gravura já nasceu num sistema pré-industrial, em que uma
pessoa fazia o desenho, outra copiava para a madeira, uma
terceira gravava a madeira e a quarta cuidava da encadernação
(caso fosse um livro). Essa abordagem foi sendo perdida
com o modernismo e a gravura passou a ser mais autoral,
em que um único artista domina todas as etapas. Vemos agora
uma tendência de retomada daquele processo coletivo, que
é muito importante e que torna a gravura viva até hoje”.
Paralelamente à realização da gravura
de grandes dimensões, o projeto do artista prevê encontros
semanais com grupos de até 24 inscritos, quando pretende
apreciar portfólios dos alunos. Também haverá encontros
mensais, abertos para toda a comunidade, com palestras sobre
temas gerais. “Esses encontros regulares são importantes
para que haja uma troca. Para o dia a dia, pretendo transformar
o espaço que me foi cedido em verdadeiro ateliê, aberto
a quem estiver de passagem. É importante não transformar
o programa de residência numa aula convencional, onde o
professor vê o aluno trabalhar, mas o aluno não vê o professor
trabalhar em sua obra”.
Depois de assegurar todo o apoio da
administração ao projeto, o reitor Fernando Costa observou
que o Programa de Residência Artística está trazendo muitos
frutos tanto para os alunos e as unidades, como para os
próprios artistas convidados. “É uma boa experiência que
tem se mantido regular nos últimos cinco ou seis anos. Bonato
é um exemplo deste sucesso e tenho certeza de que vai gostar
da Unicamp, que é bastante dinâmica e procura fazer o que
se faz nas melhores universidades do mundo”.
O nome do artista gráfico foi indicação
da professora Anna Paula Gouveia, coordenadora do Programa
de Pós-Graduação em Artes e diretora associada do IA, por
conta de já terem tido uma experiência em comum em outra
instituição de ensino. “O professor Bonato tem um domínio
muito grande das artes gráficas e também do trabalho em
ateliê com os alunos. Diante da informatização e da digitalização,
no mundo mecanizado em que vivemos hoje, a proposta do projeto
é ir atrás da fotografia e humanizar essas imagens, e também
de sair do ateliê, levando a arte para a comunidade”.
Nesse sentido, a professora afirma
que Ernesto Bonato vai dar palestras e trabalhar também
com alunos da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura
e Urbanismo. E o professor Eduardo Guimarães, coordenador
do Programa de Residência Artística, adianta que a comissão
pretende que o projeto do próximo artista convidado conte
com a chancela de mais de uma unidade. “Esta seria uma condição
desejável para fazer com que os resultados da presença do
artista extrapolem o seu lugar específico de atuação, obrigando
uma convivência menos localizada”. (Luiz
Sugimoto)