Existem
evidências científicas demonstrando que quanto maior o número
de escovações com creme dental fluoretado ao longo do dia,
maior será o efeito anticárie. Entretanto, não há nenhum
trabalho clínico avaliando o período em que a escovação
é mais eficiente no combate à cárie. Agora, os pesquisadores
do Laboratório de Bioquímica da Faculdade de Odontologia
de Piracicaba (FOP) da Unicamp têm a resposta: a escovação
noturna é a mais importante. “A pesquisa mostrou que a escovação
noturna deve ser priorizada e não negligenciada como ocorre
em alguns países, uma vez que parece ser a mais efetiva.
Isso não significa que as pessoas deveriam escovar os dentes
apenas uma vez por dia e à noite. Pelo contrário, uma maior
frequência de escovação com dentifrício fluoretado resulta
em maior efeito preventivo”, alerta a professora Livia Maria
Andaló Tenuta.
Para chegar a esta conclusão, eles avaliaram
a perda mineral em dois substratos, a dentina e o esmalte
dental. Estes foram submetidos a um alto desafio cariogênico,
caracterizado pelo acúmulo de biofilme dental (placa) e
exposição a açúcar oito vezes ao dia. Os resultados mostraram
que escovar os dentes com dentifrício fluoretado uma vez
ao dia, no período da manhã, reduz 42% a perda mineral (desmineralização)
do esmalte dental. Já a escovação no período noturno diminui
em 58%. Para a dentina, a escovação no período da manhã
reduz a perda mineral em 19% e, à noite, 37%. “Mas, ainda,
são desconhecidas as razões pelas quais a ação do flúor
no período matutino e noturno são diferentes”, relata Livia,
orientadora do estudo de mestrado apresentado na FOP de
autoria de Sandro Carvalho Kusano. A pesquisa contou com
a colaboração dos professores Jaime Cury e Altair Del Bel
Cury.
Segundo Livia, os dados sugerem que essa
diferença se deve, provavelmente, a uma retenção mais prolongada
do flúor, que acontece quando a pessoa escova os dentes
à noite. Há que se considerar que no período noturno há
uma diminuição da produção de saliva e o flúor tem o efeito
de remineralizar as perdas que aconteceram ao longo do dia.
“Parece que esse efeito é mais importante do que aquele
causado pelo dentifrício fluoretado quando usado no período
da manhã, antes dos desafios cariogênicos que ocorrem durante
o dia”, acredita.
O estudo foi realizado em 12 voluntários,
que utilizaram um dispositivo intrabucal palatino contendo
três blocos de esmalte e três de dentina pelo período de
14 dias. Sobre os blocos foi acumulado biofilme dental e
exposto a solução de açúcar. Os voluntários escovavam os
dentes e os dispositivos intrabucais três vezes ao longo
do dia. Em duas fases experimentais, os voluntários utilizaram
o dentifrício fluoretado uma vez ao dia, pela manhã, quando
acordavam, antes de qualquer desafio cariogênico com açúcar,
ou à noite, antes de dormir, ao final de todos os desafios
do dia. Nas outras duas escovações diárias foi utilizado
dentifrício sem flúor. Em outra etapa da pesquisa, as três
escovações diárias foram feitas com dentifrício sem flúor.
“Esse é o grupo controle, que serviu para avaliarmos o efeito
do uso do dentifrício fluoretado uma vez por dia, sem privar
o voluntário de escovar seus dentes três vezes por dia”,
disse a pesquisadora. Quando o voluntário utilizou o creme
dental sem flúor três vezes por dia, o efeito de prevenção
de desenvolvimento de cárie nos blocos dentais foi nulo,
demonstrando a importância da utilização do dentifrício
fluoretado.
A avaliação da dentina, conta Livia, tem
como objetivo simular o que ocorre nos casos de dentina
radicular exposta, situação comumente encontrada na terceira
idade. A dentina é mais suscetível à cárie do que o esmalte
e açúcares daí a importância de avaliar ambos os substratos
dentais. “O estudo está em fase inicial e as próximas etapas
deverão considerar a frequência de escovação diária, avaliando
uma, duas ou três vezes por dia”, esclarece.
Outro assunto comentado por Lívia Tenuta
diz respeito ao controle de cárie ao se utilizar dentifrício
fluoretado. Entretanto, existem no mercado nacional alguns
cremes dentais sem flúor que estão sendo recomendados a
crianças de pouca idade, devido ao medo de desenvolvimento
de fluorose. “Nós não concordamos com essa indicação porque
o efeito do dentifrício fluoretado está consagrado na literatura.
Uma criança pequena que utiliza um creme dental sem flúor
está sendo privada de seus benefícios. Para diminuir o risco
de fluorose, basta utilizar uma quantidade pequena de creme
dental para a escovação da criança. Esse procedimento é
suficiente para dar a segurança necessária para que ela
não desenvolva fluorose com comprometimento da estética
dental, além de garantir o benefício anticárie”, orienta.
.................................................
■ Publicação
Dissertação: “Efeito do
uso de dentifrício fluoretado antes ou após os desafios
desmineralizantes na perda mineral do esmalte e dentina
radicular”
Autor: Sandro Carvalho Kusano
Orientadora: Lívia Maria Andaló Tenuta
Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba
(FOP)
Financiamento: Fapesp