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Para leigos e especialistas
Software facilita busca por registros
de espécies
animais em banco de dados da área de Zoologia
MANUEL
ALVES FILHO
Software desenvolvido para
a dissertação de mestrado do cientista da computação Gabriel
de Souza Fedel permite tanto a leigos quanto a especialistas
localizar registros de espécies animais em banco de dados
da área de Zoologia. O aspecto original da ferramenta é que
ela aceita buscas por meio de informações textuais ou de imagens
ou das duas referências combinadas. “Tanto quanto nós saibamos,
esse atributo é inédito no contexto de sistemas online para
estudos de biodiversidade”, afirma a orientadora do trabalho,
a professora Claudia Maria Bauzer Medeiros, do Instituto de
Computação (IC) da Unicamp. De acordo com ela, brevemente
o programa integrará a versão virtual do Museu de Zoologia
da Universidade. O autor do estudo contou com bolsas da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A professora Claudia explica
que a dissertação de Gabriel integra um projeto de pesquisa
coordenado por ela, que vem sendo desenvolvido desde 2007
com a colaboração de docentes e pesquisadores do Instituto
de Biologia (IB) e financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo da iniciativa
é promover a preservação digital do acervo do Museu de Zoologia.
“A ferramenta criada pelo Gabriel vai se somar a outras. Juntas,
elas permitirão a constituição da versão virtual do museu”,
adianta. O autor da pesquisa conta que o sistema foi pensado
de modo a facilitar a busca por registros tanto por parte
de cientistas quanto de leigos. “A maior parte dos sistemas
está voltada a especialistas, que fazem a busca por meio do
nome científico de uma determinada espécie. No sistema que
criei, isso pode ser feito também pela foto e pelo nome vulgar”,
afirma.
Em
termos práticos, o sapo-cururu pode ser procurado tanto por
esta designação quanto pelo seu nome científico. “Se o usuário
quiser refinar ainda mais a pesquisa, basta que ele insira
outras informações, como a localidade onde a espécie ocorre
normalmente ou uma imagem do animal investigado. A partir
do cruzamento desses dados, o sistema faz uma varredura nos
registros existentes e apresenta, no caso, o anfíbio ou anfíbios
mais parecidos com a fotografia proposta. Atualmente, essa
busca é feita em poucos segundos”, acrescenta Gabriel. Segundo
ele, o sistema soma aproximadamente 40 mil registros, mas
nem todos contam com fotografias. “Ao final do trabalho, deveremos
ter cerca de 500 mil registros e milhares de imagens”, completa
a professora Claudia.
Conforme a docente do IC,
esse tipo pesquisa está intimamente relacionada com um conceito
que vem ganhando espaço em âmbito internacional, denominado
citizen science (ciência cidadã, em português). Embora
no Brasil ainda não exista grande número de sítios eletrônicos
que permitam ao cidadão comum pesquisar ou se informar sobre
animais ou vegetais, no exterior isso tem se tornado cada
vez mais frequente. Uma das consequências desse tipo de ação
é estimular as pessoas a se interessarem cada vez mais pela
preservação de determinadas espécies, bem como pelo bioma
onde elas vivem. “Em alguns países, como na Austrália, a participação
dos cidadãos nesse tipo de atividade contribuiu para a monitoração
da qualidade ambiental, mais precisamente da água”, informa
a professora Claudia.
Como funciona
O sistema concebido por Gabriel
utiliza os mesmos princípios, por assim dizer, do processo
executado pelo cérebro humano para identificar uma pessoa
parecida com a outra, como esclarece a professora Claudia.
De acordo com ela, o cérebro estabelece alguns critérios que
informam à pessoa que características são importantes e devem
ser consideradas para se definir a parecença. “Da mesma forma,
em computação você pega uma série de algoritmos e depois associa
cada imagem usada na busca a um descritor. Esse descritor
nada mais é do que uma estrutura de dados que vai resumir
os atributos que o desenvolvedor do algoritmo e os usuários
consideraram relevantes. Assim, no lugar de pegar uma imagem
completa, o que se considera são alguns aspectos para determinar
se um elemento é similar ou não a outro. Dito de outro modo,
uma pessoa pode ser considerada parecida com outra porque
ambas estão de roupa preta ou usam óculos. Ou as duas podem
ser tidas como completamente diferentes, dado que uma é do
sexo masculino e outra do feminino, caso o critério de diferenciação
estabelecido seja o gênero”, detalha a docente do IC.
Este é um exemplo, destaca
Gabriel, de como a cooperação entre a Ciência da Computação
e a Biologia se torna indispensável. É o biólogo quem vai
dizer, por exemplo, se é a morfologia que vai estabelecer
a semelhança entre os peixes ou se é a morfologia e a distribuição
das manchas e cores nas asas que vão determinar a proximidade
entre borboletas. “Por causa desse cuidado, os parâmetros
deixam de ser aleatórios e passam a ser definidos com base
no conhecimento científico”, pontua o autor da dissertação.
O trabalho desenvolvido por Gabriel, assinala a orientadora,
foi de bastante fôlego. Conforme a professora Claudia, no
Brasil há poucos dados eletrônicos validados sobre nomes vulgares
na área da Zoologia. Catálogos trazem apenas os nomes científicos,
e não os vulgares das espécies.
Desse modo, o pós-graduando
teve que recorrer a outras fontes, como sítios eletrônicos,
para levantar as informações necessárias à construção de um
catálogo referente aos dados disponibilizados pelo Museu de
Zoologia. Estas foram posteriormente validadas pelos pesquisadores
do IB. “Foi um longo trabalho manual. Uma das dificuldades
é o fato de espécies diferentes serem conhecidas pelo mesmo
nome vulgar ou de haver mais de um nome vulgar para identificar
uma mesma espécie”, explica o autor da dissertação. Segundo
Gabriel, a ferramenta desenvolvida por ele será aplicada originalmente
em um sistema de busca na área de Zoologia, mas pode muito
bem ser aplicado a outros segmentos, como a Botânica.
Voltando ao tema da ciência
cidadã e aproveitando a versatilidade do software criado por
Gabriel, a professora Claudia lembra que nos Estados Unidos
existe um portal de internet onde cientistas e leigos postam
imagens de galáxias. O material pode ser acessado online por
qualquer interessado. “O interessante é que esses astrônomos
amadores auxiliam na classificação da forma das galáxias –
por exemplo, espirais ou elípticas. Como a mesma imagem aparece
para milhares de pessoas espalhadas pelo mundo ao mesmo tempo,
a forma é determinada por consenso. Se houver divergência,
um especialista decide a pendenga. Ou seja, amadores dedicados
estão ajudando na classificação de dados, tarefa que os cientistas
não conseguem cumprir sozinhos. Não é o caso do que estamos
fazendo conjuntamente com o pessoal do IB, mas esse exemplo
dá a dimensão da importância de divulgar a ciência para a
sociedade”, considera a docente do IC. Também colaboraram
diretamente com o trabalho a vice-coordenadora do Museu de
Zoologia do IB, professora Antônia Cecília Zacagnini Amaral,
e os pesquisadores Luiz Felipe de Toledo e Michela Borges.
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Publicações
G. S. Fedel and C. B. Medeiros. Busca multimodal para
apoio à pesquisa em biodiversidade. Workshop de Teses e Dissertações
- Simpósio Brasileiro de Banco de Dados, 201, 8pg.
Dissertação: MMBio
- Busca multimodal para apoio à pesquisa em biodiversidade
Autor: Gabriel de Souza Fedel
Orientadora: Claudia Maria Bauzer Medeiros
Unidade: Instituto de Computação (IC)
Financiamento: Capes e Fapesp
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