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Identificadas espécies de bactérias
que causam a sarna da batata
Acreditava-se até então que apenas
uma
era responsável pela contaminação da cultura
Numa
conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2008,
especialistas sugeriram que a batata poderia ser considerada
o alimento do futuro. Há pouco tempo, métodos de análise avançados
revelaram na batata substâncias químicas importantes para
a saúde humana. Diante das novidades, todo cuidado com o alimento
é pouco. Por isso, uma das preocupações da Associação Brasileira
da Batata (Abba) é o combate a uma doença chamada sarna da
batata, investigada em pesquisa de mestrado pela bióloga Daniele
Bussioli Alves Corrêa, orientada pela professora Suzete Aparecida
Lanza Destéfano, que atua como pesquisadora científica do
Instituto Biológico (IBSBF) e professora credenciada no curso
de pós-graduação do Instituto de Biologia da Unicamp. De acordo
com a pesquisadora, o estudo identificou várias espécies da
bactéria Streptomyces que causam a sarna da batata
no Brasil, contrariando informações anteriores de que apenas
uma espécie seria responsável pela contaminação da cultura.
O levantamento das espécies, assim como a identificação do
agente causal, é importante para o manejo da doença no país
e também para o desenvolvimento de variedades que sejam resistentes
às bactérias encontradas na pesquisa, segundo Daniele. “O
problema é que as variedades mais utilizadas para plantio
são mais suscetíveis à doença, como por exemplo a variedade
Ágata”, acrescenta.
Por mais que a doença não represente riscos à saúde humana,
a aparência torna o tubérculo menos atrativo ao consumidor,
apesar de muitas vezes chegar doente à gôndola do supermercado.
E os relatos de ocorrência da doença vêm aumentando com o
tempo, tornando-se um fator limitante do cultivo de batata
no Brasil, de acordo com Daniele. Com o aumento do número
de casos preocupando os produtores, Suzete e os pesquisadores
do Laboratório de Bacteriologia Vegetal do Instituto Biológico
foram procurados pela Associação Brasileira da Batata (Abba)
para iniciar um estudo de levantamento e identificação das
espécies que ocorrem nas principais regiões produtoras do
país. O projeto, que recebeu apoio financeiro da própria Abba
e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp), resultou, até o momento, em duas dissertações de
mestrado.
Segundo Daniele, as cultivares de batata utilizadas para plantio
no país mostraram-se suscetíveis às diferentes espécies e
aos grupos genéticos de Streptomyces encontrados
no Brasil. Ao fazer o isolamento de novas linhagens provenientes
de regiões produtoras de batata nos estados do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina, Daniele contribuiu para o aumento
da representatividade de linhagens de Streptomyces
associadas à doença no acervo da Coleção de Culturas de Fitobactérias
do Instituto Biológico.
Há regiões produtoras que já tinham a doença de forma mais
agravada, outras nem tanto, mas, segundo Daniele, atualmente
o número de regiões acometidas pela doença também tem aumentado.
Na pesquisa, ela analisou 190 linhagens de Streptomyces,
sendo 165 nacionais, obtidas dos estados da Bahia, Goiás,
Minas Gerais, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa
Catarina; 13 de material vegetal importado do Chile, França
e Holanda; e 12 linhagens tipo de Streptomyces
representantes de espécies associadas à sarna. “Era preciso
trazer os estudos sobre a sarna da batata para a realidade
brasileira. O levantamento da ocorrência e da distribuição
dessa doença a partir do isolamento de linhagens de diferentes
regiões produtoras do país e a caracterização e identificação
dessas no presente estudo foram passos iniciais e essenciais
para o melhor conhecimento da doença no Brasil”, esclarece.
Das 178 linhagens analisadas pela autora, 57 (32%) foram identificadas
como pertencentes à S. scabiei, 28 linhagens (15,7%)
à S. ipomoeae, 13 (7,3%) à S. caviscabies/S.
setonii, 12 (6,72%) semelhantes a S. europaeiscabiei
e duas linhagens (1,1%) semelhantes a S. sampsonii
e 66 (37%) apresentaram características morfológicas, patogênicas
e genéticas diferentes, podendo representar novas espécies
ou subespécies de Streptomyces no País.
Segundo a pesquisadora, a espécie predominante e mais amplamente
distribuída no país é a S. scabiei, isolada de todas
as regiões produtoras de batata amostradas. Considerada saprófita,
a espécie S. sampsonii apresentou genes de patogenicidade
associados com a doença, evidenciando seu potencial patogênico.
Já a S. ipomoeae, considerada de patogenicidade restrita
à batata-doce, foi detectada em diferentes regiões produtoras
do país e se revelou também patogênica a batata.
Daniele explica que as batatas podem estar contaminadas já
nos tubérculos-semente, geralmente importados. Uma amostra
com patógeno pode prejudicar grande parte de uma região de
produção. O controle rigoroso da entrada de tubérculos-semente
contaminados com sarna seria uma das medidas eficientes para
combater a sarna, na opinião de Daniele, mas para isso são
necessárias mudanças na legislação que controla a entrada
de material vegetal no país.
A ocorrência das espécies, descrita na dissertação, indica
a necessidade de mudança, pois até o momento acreditava-se
que apenas uma espécie era responsável pela propagação da
doença. “A lei em vigência estabeleceu limites de tolerância
(até 5% de infecção na superfície dos tubérculos) para Streptomyces
em batata-semente a ser produzida, importada e comercializada
no país, porém não exige a identificação do agente causal.
Mas com essas novas informações de que existem outras espécies
de Streptomyces, a forma de controle de entrada dos
tubérculos precisa ser revista. O trabalho oferece um tratado
para as espécies causadoras da sarna da batata e pode orientar
a interdição de produtos doentes”, acrescenta Daniele. Ela
enfatiza que embora seja realizado o diagnóstico desses patógenos
na entrada do material, a identificação de novos agentes causais
leva a acreditar que outras espécies estejam entrando no país
e aumentando o índice de contaminação.
Ela explica que no estudo, as linhagens de Streptomyces
sp. foram caracterizadas com base em análises morfológicas,
patogênicas e moleculares. Ao estabelecer uma coleção de linhagens
oriundas das principais regiões produtoras de batata do país,
Daniele pretende contribuir de forma importante para estudos
futuros relacionados à sarna da batata no Brasil.
Lesões
A
doença causa uma lesão na batata, como se fosse uma necrose,
segundo Daniele. No início, tem uma forma redonda e textura
áspera, ficando aprofundada e, às vezes, erumpente. Se estiver
muito avançada, a doença atinge o tubérculo inteiro. Segundo
Daniele, o formato da cadeia de esporos e a coloração são
características taxonômicas importantes que podem ser utilizadas
na diferenciação de espécies. Além disso, algumas linhagens
que não puderam ser identificadas ainda apresentaram morfologia
de hifas espirais organizadas em tufos, característica diferenciada
em relação às principais espécies de Streptomyces
associadas à sarna da batata.
Quanto à coloração, a caracterização morfológica das linhagens
revelou a presença de esporos de coloração cinza, creme, branca,
amarela, marrom, verde e laranja com variações nas tonalidades,
bem como morfologia de hifas do tipo espiralada (63,5%), flexuosa
(26,4%), espiral aberto (7,3%) e espiral em tufo (2,8%).
Durante o estudo, Daniele verificou a partir de dados de literatura
que as espécies de Streptomyces têm a capacidade
de transmitir genes de patogenicidade para outras espécies
que estão no solo. Segundo a pesquisadora, as bactérias fazem
conjugação, transferindo material genético. O problema da
Streptomyces é que ela está presente normalmente
no solo, sem causar doença. Então, se uma bactéria patogênica
estiver presente, pode passar genes que conferem essa patogenicidade
para outras espécies que não eram patogênicas. “Isso é comprovado
por eu ter encontrado várias espécies diferentes daquelas
já descritas. Provavelmente são bactérias comuns em solo brasileiro,
que adquiriram a característica de patogenicidade”, explica
Daniele.
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Publicação
Dissertação: “Caracterização morfológica,
patogênica e molecular de linhagens de Streptomyces
associadas à sarna da batata de diferentes regiões produtoras
do Brasil”
Autora: Daniele Bussioli Alves Correa
Orientação: Suzete Aparecida Lanza Destéfano
Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Financiamento: Fapesp e Abba
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País é o maiorprodutor
da AL
A batata ocupa o quarto
lugar em volume de produção mundial de alimentos depois
do arroz, do trigo e do milho. Trata-se de uma cultura de
grande importância alimentícia e um dos alimentos mais completos
em termos nutricionais. De acordo com dados da Food
and Agriculture Organization of the United Nations
(FAO) de 2008, encontrados por Daniele, a cultura está presente
na dieta de muitos países e sua produção e consumo estão
em crescente aumento, principalmente nos países em desenvolvimento
da Ásia, da África e da América Latina (FAO, 2008).
Segundo dados da Food and Agriculture Organization of
the United Nations (FAO) levantados por Daniele, o
Brasil é o maior produtor dentre os países da América Latina,
porém ainda apresenta baixa produtividade devida às doenças
que afetam a cultura.
Em 2010, a produção nacional, destinada principalmente para
o consumo interno, foi de 3,64 milhões de toneladas em uma
área de cerca de 143 mil hectares, com uma produtividade
de 25,48, segundo o IBGE. Apesar do aumento crescente na
produção, a batata é alvo de doenças que podem ser causadas
por fungos, bactérias e vírus e de pragas, como nematoides
e insetos.
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