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Internacionalização das universidades
Um
Processo Mundial
De acordo com Knight (2003), internacionalizar é o processo
de integrar uma dimensão internacional e intercultural ao
Ensino, à Pesquisa e aos Serviços de uma instituição. De acordo
ainda com o documento The Challenge of Establishing World-Class
Universities, elaborado pelo Banco Mundial em 2009, uma Universidade
Classe Mundial é aquela compromissada e aberta ao processo
de internacionalização, em que a excelência na qualidade de
suas atividades de ensino e pesquisa advém, em grande parte,
de suas experiências internacionais acumuladas e culturalmente
incorporadas aos seus docentes e discentes. As Universidades
de Harvard, Oxford e Cambridge, por exemplo, possuem 30%,
36% e 33% de seus respectivos quadros de pesquisadores de
origem estrangeira, experts trazidos para estas instituições
pela excelência de seus conhecimentos. Em relação aos discentes,
Harvard e Cambridge têm, respectivamente, cerca de 19% e 18%
de alunos estrangeiros conferindo uma dimensão internacional
aos seus quadros estudantis. Na Universidade do Minho, uma
das maiores universidades portuguesas, com 17 mil estudantes,
de 11% a 12% dos alunos são de outros países.
Reformas
na educação superior ocuparão posição central no processo
de internacionalização, concluiu
um levantamento recente realizado pela Associação Internacional
de Universidades, que revela haver um interesse crescente
em programas conjuntos e/ou de cotutela e duplos diplomas
entre universidades de diferentes países, tanto na graduação
quanto na pós-graduação (*). O Processo de Bolonha, iniciado
na Europa ao final da década de 1990, ocupa posição de destaque.
Com o objetivo de tornar comparáveis as formações conferidas
nos diferentes países que dele participam (atualmente cerca
de 50), visa obter um sistema de graus acadêmicos compatível,
com dois ciclos de estudo de pré-doutoramento, um sistema
único de acúmulo e transferência de créditos e um suplemento
ao diploma que registra as experiências relativas às habilidades
adquiridas pelos alunos. Trata-se da reorganização dos processos
de ensino e aprendizagem, com valorização das competências,
da aprendizagem e do envolvimento de todos os agentes implicados.
As universidades
brasileiras, embora à frente da grande maioria de universidades
latino-americanas, enfrentam enormes desafios para se tornarem
internacionalizadas. Há ainda uma grande distância entre elas
e a sociedade e mercados que as cercam, e o modelo de ensino
predominante é passivo e arcaico. Como enfatizado pelo professor
João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo,
em entrevista concedida recentemente à revista Veja, “Na busca
de relevância acadêmica, as instituições brasileiras precisam
evoluir em um quesito que hoje é central – sua internacionalização.
Isso implica tornar permanente e institucionalizado o contato
com outras universidades do mundo.”
A Unicamp: uma contextualização
A Unicamp, com seus apenas
44 anos de existência, tornou-se uma das mais importantes
universidades do Brasil e da América Latina, figurando, em
2009, como a 2ª universidade brasileira e a 295ª entre as
mais destacadas do mundo, segundo o ranking da ‘Times Higher
Education-THE’, e como a 3ª no ranking ‘Top Latin America’,
do Webometrics. Ainda no ano de 2009, de seus 32.663 alunos,
16.777 eram de graduação e 15.886 de pós-graduação, entre
mestrandos (5.283), doutorandos (5.495) e alunos especiais
ou em especialização. Contava com 1.733 docentes (97,6% doutores),
7.808 funcionários e um numeroso quadro de pesquisadores desenvolveu
suas atividades em 22 diferentes unidades de ensino e pesquisa,
dois colégios técnicos, 23 centros e núcleos e 11 unidades
de serviço, incluindo o Hospital de Clínicas, importante centro
de referência em saúde em toda a região. Sessenta e seis programas
de graduação e 61 de pós-graduação (128 cursos stricto sensu
e 13 lato sensu) foram oferecidos. Na última avaliação realizada
pela Capes (triênio 2007-2009), 46% dos programas stricto
sensu foram considerados de excelência internacional, melhor
resultado obtido por uma universidade brasileira até o momento.
Além disso, 23 programas corresponderam ao padrão “Muito Bom”
de qualidade.
Graduaram-se
aqui 2.276 profissionais, e 2.092 titularam-se na pós-graduação
(1.221 mestrados e 871 doutorados, cerca de 7% dos doutorados
do país). Destes, 25,7% eram oriundos de outros Estados brasileiros
e 3,2% do exterior, principalmente da América Latina, mas
também da Europa e dos Estados Unidos.
Em relação às experiências internacionais, 10% dos graduados
anualmente e 3% dos que se titulam na pós-graduação tiveram
ao menos uma experiência de mobilidade internacional durante
o programa. Os principais países alvos têm sido Estados
Unidos, França, Portugal, Itália, Reino Unido e Espanha.
Quanto aos docentes, verificou-se que cerca de 70% possuem
minimamente uma das etapas de formação (graduação, especialização,
mestrado, doutorado ou pós-doutorado) desenvolvida no exterior,
em estágios com duração superior a seis meses. A produção
intelectual foi de 2.812 artigos publicados em periódicos
indexados no Science Citation Index, correspondendo a aproximadamente
10% da produção científica do país nessa base de dados.
Metas e ações
Em 30 de julho 2009, o reitor
da Universidade, professor Fernando Ferreira Costa, instituiu
um grupo de trabalho para internacionalização da Unicamp (GTI),
composto por representantes das Pró-Reitorias de Graduação,
Pós-Graduação e Pesquisa e da Coordenadoria de Relações Internacionais
(Cori). Após um mapeamento das principais dificuldades, o
GTI apresentou um plano de metas e ações para o período de
2010 a 2012. Elas incluíram a ampliação da visibilidade internacional
da Universidade, a criação de um International Office, a partir
da expansão e adequação da Cori, dimensionado e preparado
para o devido suporte às atividades de internacionalização,
a melhoria das condições e busca e criação de novas oportunidades
para mobilidade e intercâmbio internacional de alunos e professores/pesquisadores,
a maior participação destes em redes, consórcios e convênios
internacionais, e uma maior internacionalização dos programas
de pós-graduação.
Contando
com tradutores nativos e apoio da Ascom, CCUEC e equipe
de Informática da PRPG, os conteúdos referentes
às
Pró-Reitorias de Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa
e à Cori, vêm sendo adicionados ao Portal da Unicamp sob
a
forma de
um míni-site, em inglês e espanhol, que permitem ao
estrangeiro acessar nossos programas de graduação, pós-graduação
e de pesquisa.
A
Cori expandiu seu quadro de funcionários e assessores em
2010 e, a partir de 2011, buscará a adequação
de
espaço físico
e a expansão das atividades que visam um maior suporte
ao processo de internacionalização.
A
Diretoria Acadêmica (DAC), engajada nesse processo, criou
recentemente uma gama
de disciplinas que permitem
a matrícula
de alunos estrangeiros em qualquer época do ano,
com registro da duração dos estágios, equivalência
em número
de créditos
e descrição das atividades desenvolvidas. A criação
de disciplinas de intercâmbio para os nossos alunos
no exterior
será a próxima
etapa e conferirá a necessária flexibilidade à
mobilidade estudantil.
A
busca e divulgação de oportunidades de mobilidade e intercâmbio
têm levado a Unicamp a aumentar
sua
participação nesses
programas. Um exemplo disso é o programa PDEE
(Programa de Doutorado
com Estágio no Exterior) da Capes. Até o ano
de 2008, a média de alunos participando anualmente
era de
47, sendo
que em
2009 esse número praticamente dobrou (87).
Acordos
com associações como a Associação de Universidades Grupo
Montevidéu (AUGM) têm sido
cada vez mais
estimulados, e novos convênios que ampliam
essas possibilidades
vêm sendo firmados, como a recente afiliação
à Associacão Universitária Ibero-americana
de Pós-graduação
(AUIP),
sediada na Universidade
de Salamanca, Espanha, que encampa 152 universidades
portuguesas, espanholas e latino-americanas
e que intermediará uma primeira
proposta para ampliação da proporção de alunos
estrangeiros em nossos campi.
A
formação, a visão e a adesão do quadro docente são fundamentais
para o processo de internacionalização. Mesmo quando a proporção
de docentes com formação no exterior é elevada, como é o caso
da Unicamp, é preciso promover contínua e regularmente a mobilidade
docente e sua participação em convênios e consórcios de cooperação
internacional. A divulgação das oportunidades existentes e
a busca por novos acordos com renomadas universidades do exterior
têm trazido um número expressivo de representantes estrangeiros
e provocado um elevado número de visitas de nossos representantes
a importantes instituições do exterior. Podem ser aqui incluídas,
como exemplos, a Universidade de Cambridge e as americanas
Harvard, Brown e Northeastern, além de um bom número de outras
instituições em todo o mundo.
Ampliar
a oferta de programas regulares de financiamento para a vinda
de pesquisadores
estrangeiros, vinculados
aos programas de pós-graduação, foi o objetivo
do edital lançado
conjuntamente pelas Pró-Reitorias de Pesquisa
e de Pós-Graduação em novembro de 2009
– o primeiro edital
Faepex para professores/pesquisadores
visitantes. Tão bem-sucedido que uma segunda
edição
está sendo preparada, com algumas modificações
que o tornarão
ainda mais atrativo.
Os itens listados no plano
de internacionalização traçado pelo GTI e que estão sendo
gradativamente implementados visam assegurar um aprofundamento
da mobilidade internacional de discentes e docentes da Unicamp,
contribuindo para aprimorar a excelência acadêmica da Universidade.
(*) http://www.universityworldnews.com/article.php?story=20101106210301398
Fontes de consulta: plano
para internacionalização da Unicamp (GTI, novembro/2009);
documento do Banco Mundial (2009); Anuários de Pesquisa e
de Pós (ano base 2009); Capes (avaliação do triênio 2007-2009);
entrevista Reitor USP na Revista Veja (27/10/2010); entrevistas
dos profs. Adriana Lago de Carvalho (Universidade do Minho
– Portugal), e Luís Beviláqua (UFRJ, UFABC) na TV Cultura/Univesp;
e site ‘University World News (Global: Internationalisation:
Past, Present, Future).
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