|   | 
                  
                      
                    Jovens talentos ganham o mundo 
                   
                  
                    A 
                    neurocirurgiã Clarissa Yasuda aguarda embarque para a Inglaterra. 
                    Lá, ficará um semestre na University College London (UCL) 
                    aprofundando estudos que vem conduzindo em seu pós-doutorado 
                    sobre o uso de imagens de ressonância magnética na investigação 
                    da funcionalidade cerebral em pacientes epiléticos. Na vida 
                    acadêmica desta neurologista da Unicamp, já virou rotina passar 
                    temporadas em instituições científicas no exterior e receber 
                    prêmios internacionais pelo pioneirismo e pelas contribuições 
                    de suas investigações. Um olhar sobre a sua curta porém profícua 
                    carreira revela que ela vem colhendo, desde o seu ingresso 
                    na instituição, os frutos da inserção internacional que, no 
                    seu caso, começou de forma precoce, ainda na graduação. Ao 
                    se ampliar o foco da observação para outras áreas da Universidade, 
                    constata-se que o reconhecimento em nível internacional não 
                    privilegia apenas docentes com longa tradição na pesquisa, 
                    mas hoje é uma conquista desfrutada com frequência cada vez 
                    maior por estudantes da pós-graduação e até mesmo por alunos 
                    de iniciação científica. Além de Clarissa, são exemplos desse 
                    fenômeno o doutorando Patrick Dal’Bó, do Instituto de Geociências 
                    (IG), contemplado com o “IAS Postgraduate Grant Scheme” da 
                    Associação Internacional de Sedimentologistas (IAS) e os alunos 
                    de graduação Anna Trondoli e Gabriel Prado, premiados na 18ª 
                    Jornada de Jovens Investigadores na Argentina. 
                  Clarissa fez sua carreira 
                    na Unicamp, desenvolvendo desde cedo na instituição as pesquisas 
                    que lhe deram prêmios e notoriedade internacional. Ingressou 
                    na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) em 1993 e, nem bem 
                    concluíra o mestrado quando, em meados de 2005, foi convidada 
                    a apresentar em Paris o estudo que conduzia na área de tratamento 
                    cirúrgico para epilépticos, considerado um dos melhores trabalhos 
                    inscritos no Congresso Mundial de Epilepsia naquele ano. Em 
                    2006, no doutorado, orientada pelo neurologista da Unicamp 
                    Fernando Cendes, criou um software, desenvolvido com o apoio 
                    do Laboratório de Neuroimagem da FCM, que permitiu constatar 
                    evidências de neuroplasticidade (regeneração e alterações 
                    de volume nas substâncias cerebrais) nas ressonâncias pós-operatórias 
                    de pacientes com epilepsia. 
                  A publicação dos resultados 
                    de sua descoberta no exterior lhe deu visibilidade, proporcionou 
                    convites para os principais eventos científicos na área e 
                    lhe trouxe o reconhecimento sob a forma de prêmios internacionais, 
                    como o de Jovem Investigadora do Congresso Mundial de Epilepsia, 
                    em Cingapura, em 2007; o de melhor trabalho científico clínico 
                    do 5º Congresso Latino-Americano de Epilepsia, em Montevidéu, 
                    e o de Jovem Investigador do 62º Encontro Anual da Academia 
                    Americana de Epilepsia (considerada a entidade mais importante 
                    na área no mundo), realizado na 2ª Bienal Norte-Americana 
                    de Epilepsia, ambos em 2008. Clarissa foi contemplada ainda 
                    com bolsas de estudos: uma para o 7º Curso Internacional em 
                    Epilepsia, financiado pela Epilearn Project – Marie Curie 
                    Auctions, em julho de 2008, em Veneza (Itália); e a outra 
                    para o curso on-line de Neuroimagem em Epilepsia, financiado 
                    pela Liga Internacional contra Epilepsia (Ilae), concedida 
                    pela Academia Virtual de Epilepsia (Virepa). 
                   Com 
                    seu nome cada vez mais em evidência na comunidade acadêmica 
                    internacional, Clarissa acabou sendo aceita no grupo londrino, 
                    reputado como um dos mais avançados em pesquisas de neuroimagem 
                    aplicadas à epilepsia, onde passará seis meses atuando ao 
                    lado de cientistas de diferentes partes do planeta. 
                  “Eu sempre busquei por oportunidades 
                    no exterior desde a graduação, por entender que isso seria 
                    fundamental para minha carreira acadêmica”, afirma Clarissa. 
                    Natural de Fernandópolis (SP), contou para isso, inicialmente, 
                    com o encorajamento do pai, médico oftalmologista formado 
                    pela USP, com quem até aprendeu inglês, e, depois, com o incentivo 
                    de sua orientadora de iniciação científica, a professora Leonilda 
                    Santos, do Departamento de Microbiologia e Imunologia do Instituto 
                    de Biologia (IB). “Foi ela quem me despertou para os encantos 
                    da pesquisa”, revela a premiada neurocirurgiã. 
                  Graças ao prestígio e ao relacionamento 
                    internacional de Leonilda, sua discípula pôde permanecer um 
                    mês no Laboratório de Biologia da Universidade de Harvard 
                    para realizar, com o auxílio de uma colega da cientista brasileira, 
                    a parte experimental de seu projeto de iniciação científica 
                    a respeito da ação de uma nova droga em casos de esclerose 
                    múltipla. 
                  “Quase 20 anos atrás era incomum 
                    que algum aluno sequer graduado tivesse uma oportunidade 
                    como essa no exterior. Eu não poderia ter tido um começo melhor 
                    e mais estimulante do que esse”, admite Clarissa. 
                  Mudanças climáticas 
                     
                   Assim como ela, o doutorando 
                    Patrick Francisco Führ Dal’Bó, orientando do professor Giorgio 
                    Basilici, no IG, mantém uma agenda com frequentes atividades 
                    internacionais devido ao destaque alcançado por sua atuação 
                    no campo da sedimentologia (ciência geológica que se ocupa 
                    do estudo das rochas sedimentares). 
                  Nos últimos três anos, apresentou 
                    suas pesquisas nos mais expressivos congressos no exterior 
                    e publicou em revistas internacionais. Em resposta à notoriedade 
                    alcançada por seus trabalhos e ao reconhecimento da importância 
                    de seus achados, passou a receber propostas para realizar 
                    investigações em conjunto com pesquisadores de instituições 
                    estrangeiras, para escrever capítulos de livros de editoras 
                    norte-americanas e foi merecedor, em 2009, de um prêmio concedido 
                    pela principal associação da área de sedimentologia do mundo, 
                    a IAS, sediada na Bélgica. A distinção contemplou um estudo 
                    de Patrick que permite entender melhor como as alternâncias 
                    climáticas se sucedem na superfície da Terra.  
                  “A pesquisa tem gerado novos 
                    modelos de interpretação de como se constroem e evoluem os 
                    sistemas desérticos”, explica o geólogo. 
                  Segundo ele, o interesse de 
                    pesquisadores estrangeiros se originou, sobretudo, após a 
                    publicação de trabalhos em influentes revistas da área, como 
                    Sedimentology, 
                    Sedimentary Geology, Palaeogeography, Palaeoclimatology, 
                    Palaeoecology e Cretaceous Research. 
                  “Essas quatro publicações 
                    alçaram nossa pesquisa a um patamar bastante considerável 
                    no âmbito internacional”, avalia. “Possuímos um conhecimento 
                    importante em sistemas eólicos e paleossolos, e isso tem gerado 
                    convites para projetos no exterior.” 
                  Já foram estabelecidos convênios 
                    com o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas 
                    (Conicet) da Argentina para investigação de uma formação geológica 
                    que aflora na Patagônia, e com a Soprintendenza per i Beni 
                    Archeologici dell’Umbria, da Itália, para estudo de uma floresta 
                    fóssil na Úmbria (região a 200 quilômetros de Roma). 
                  Patrick participou em setembro 
                    último do Congresso Internacional de Sedimentologia, em Mendoza 
                    (Argentina) e em janeiro estará em Utrecht, na Holanda, para 
                    o simpósio “Climate and Ocean Dynamics of the Cretaceous Greenhouse 
                    World”, onde apresentará o projeto premiado pela IAS ao lado 
                    de seu orientador. 
                    
                  Projeção já nos primeiros 
                    passos 
                   Por 
                    meio da iniciação científica, alunos da Unicamp inserem-se 
                    no contexto da produção do conhecimento ainda na graduação. 
                    Concebido para estimular o espírito investigativo e proporcionar 
                    uma sólida base científica na formação acadêmica dos participantes, 
                    o programa, graças à originalidade dos projetos nele desenvolvidos, 
                    também oferece oportunidades de projeção internacional aos 
                    participantes e contribui para consolidar a vocação da Universidade 
                    à inovação. 
                  Anna Carolina Trondoli, do 
                    curso de Química, e Gabriel Lorencetti Prado, do curso de 
                    Engenharia de Computação, foram premiados por suas pesquisas 
                    na 18ª Jornada de Jovens Investigadores, promovida em outubro 
                    na Universidade Nacional do Litoral, na Argentina, pela Associação 
                    das Universidades Grupo de Montevidéu (AUGM), que congrega 
                    instituições de ensino superior públicas dos países do Mercosul 
                    (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai). Seus 
                    estudos, assim como os dos demais 27 estudantes da Unicamp 
                    participantes do evento, foram selecionados entre os melhores 
                    trabalhos no Congresso Interno de Iniciação Científica da 
                    Universidade em 2009. 
                  Anna atuou com o professor 
                    Ivo Milton Raimundo Jr, do Departamento de Química Analítica 
                    do Instituto de Química (IQ), em um projeto de avaliação de 
                    membranas de nafion-rodamina para a determinação fluorimétrica 
                    de metais. Trata-se de um sensor químico de fibra óptica empregado 
                    para a determinação de metais em água. Por meio da intensidade 
                    da variação da supressão de fluorescência na membrana, é possível 
                    se aferir a concentração do metal no líquido. 
                  Oriunda de um curso técnico 
                    de Química, ela estagiou na USP com uma aluna de pós-doc e, 
                    estimulada pelo ambiente da pesquisa que vivenciara, entrou 
                    na Unicamp determinada a obter uma bolsa de iniciação científica. 
                    Trabalhar na indústria era o plano inicial após a graduação, 
                    porém já considera em seu horizonte profissional a possibilidade 
                    de seguir a carreira acadêmica. Incentivos para isso não faltam: 
                    além do prêmio, traz na bagagem as ricas experiências de um 
                    projeto de iniciação no campo da bionanotecnologia conduzido 
                    durante três meses, em 2009, na Universidade da Flórida, com 
                    bolsa do programa de estágio apoiado pela National Science 
                    Foundation e Fapesp. 
                  “No laboratório em que trabalhei 
                    havia pessoas de nove nacionalidades. Não tinha ideia desse 
                    impacto cultural, nem de como poderia ser transformador vivenciar 
                    a rotina de um centro de pesquisa no exterior”, testemunha 
                    a estudante. “Desenvolvi habilidades que me foram muito úteis 
                    na minha volta. Tudo foi muito gratificante.” 
                   Já 
                    o projeto representado por Gabriel, coordenado pelo professor 
                    Rodolfo Jardim de Azevedo, constituiu-se no desenvolvimento 
                    de uma aplicação colaborativa voltada ao ensino e destinada 
                    a tornar as atividades em sala de aula mais dinâmicas e flexíveis, 
                    por meio da implementação de novas funcionalidades em um tradicional 
                    software educacional. 
                  O trabalho compreendeu a utilização 
                    de um conjunto de vinte Tablet PCs em uma sala com infraestrutura 
                    de rede montada no Ciclo Básico da Unicamp para a realização 
                    de aulas interativas com recursos computacionais. Uma das 
                    implementações a cargo de Gabriel foi a montagem de um portal 
                    para a visualização de slides e de aulas gravadas e para a 
                    interação dos estudantes através de um chat. 
                   
                  “Testamos o modelo criado 
                    em disciplinas não só do nosso curso, mas das demais Engenharias, 
                    da Física, da Matemática e também da pós-graduação e em seminários”, 
                    explica Gabriel. “A abrangência da aplicação foi um dos diferenciais 
                    do nosso projeto e colaborou para a premiação, já que seus 
                    concorrentes tinham finalidades mais pontuais”, festeja o 
                    jovem investigador, saboreando, pela primeira vez, um prazer 
                    que os cientistas da Unicamp experimentam cada vez mais cedo: 
                    o de ter seu talento e seus esforços recompensados lá fora. 
                     | 
                 
                   |