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Professores são recrutados no exterior
Programa
da Reitoria
já recebeu
mais de 200
currículos
de docentes
do exterior
A ampliação do contato de docentes estrangeiros com a Unicamp
tem sido uma das frentes de ação do processo de internacionalização.
A Universidade investiu tempo, dinheiro e esforços nesse
sentido e, entre outubro de 2009 e outubro deste ano, o
Programa Professor Visitante recebeu mais de 200 currículos
de professores do exterior interessados em trabalhar na
instituição.
Um
grupo de trabalho coordenado pelo pró-reitor de Pesquisa,
Ronaldo Aloise Pilli, publicou, em 2009 e
2010, sete anúncios
de oportunidades de emprego na Unicamp em revistas de grande
importância e circulação no meio científico. Os primeiros
três anúncios foram feitos nas revistas Nature e Science.
Posteriormente, foi solicitado aos diretores de unidades
que indicassem nomes de veículos de divulgação apropriados
para suas áreas do conhecimento. A Unicamp investiu na
publicação dos anúncios em revistas indicadas, entre as
quais a Chemical & Engineering
News (Química), Communications of the ACM (Ciência e Engenharia
da Computação), Physics Today (Física) e na Nature Materials
(Engenharia de Materiais), na internet.
Pilli
disse acreditar ser possível cobrir todos os universos
de interesse com
maior participação das unidades de ensino,
no próximo ano, quando serão feitas novas divulgações.
Para o pró-reitor, fatores como a economia brasileira,
a produção
científica do país, o posicionamento da Unicamp entre
as duas melhores universidades brasileiras e entre as três
universidades iberoamericanas com maior número de publicações,
e a capacidade
de financiamento da pesquisa no Estado de São Paulo foram
um conjunto interessante aos olhos de pesquisadores de
todo o mundo que fizeram contato.
“Todos
esses fatores, somados a um componente que oferecemos que
não dá para
descartar – os salários – fazem com que
os visitantes fiquem muito bem impressionados”, afirmou
Pilli.
Por meio do Programa Professor Visitante, um docente
de início de carreira ganha US$ 60 mil por ano e um
professor titular,
por volta de US$ 82 mil anuais. “Mas o que os impressiona
muito são as instalações, a infraestrutura da Universidade,
nosso corpo docente e nossos alunos. Eles aferem essa
qualidade
pela alta competitividade para entrar aqui”, lembra
Pilli.
“Fiquei
muito impressionado ao saber que a Unicamp tem praticamente
igual número de estudantes de graduação
e na pós-graduação.
Isso seria impossível sem um enorme apoio da própria
universidade e de instituições como a Fapesp”, afirmou
o professor cubano
Mario Antonio Bernal Rodriguez, um dos três professores
estrangeiros já aprovados para trabalhar na Universidade
em 2011. Doutor
em Física pela Universidade Simón Bolívar, da Venezuela,
Rodriguez desenvolve estudos na área de radiobiologia.
“Espero melhorar qualitativa e quantitativamente a
linha de pesquisa
que desenvolvo e contribuir com o programa de graduação
do Instituto de Física Gleb Wataghin [IFGW].”
Perfis almejados
No
garimpo de currículos estrangeiros, três perfis interessam
à Universidade: pesquisadores com
título de doutor adquirido recentemente e que possam atuar
como pós-docs; jovens pesquisadores com pós-doutorado que
já possuem uma linha própria de pesquisa e já publicaram,
orientaram alunos e atuaram à frente de grupos de pós-graduandos;
e o segmento sênior, formado por acadêmicos com reputação
de destaque em suas áreas de atuação, por suas publicações
e dedicação à academia.
“No
primeiro grupo, recebemos os currículos, selecionamos por
área, enviamos para as unidades e elas têm
de fazer o
dever de casa: olhar, avaliar e avisar seus docentes que
trabalham nas mesmas áreas dos candidatos. Assim, criamos
uma logística interna para semear essa informação”, explica
Pilli. Os professores terão de tratar localmente com as
unidades e as agências de fomento para conseguir patrocínio.
Nos
outros dois grupos a ação é institucional. Os currículos
são pré-selecionados e mandados para as unidades. Elas
apontam os nomes que despertem interesse, a comissão
seleciona os
convidados e os estrangeiros vêm conhecer a Universidade
em visita com +duração de três a quatro dias.
“A
Unicamp oferece um ambiente excelente para desenvolver programas
novos e inovadores”, afirmou o biólogo francês
François Artiguenave, um dos escolhidos para atuar na
Universidade
em 2011, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). “Na
França, ainda é fraca a ligação entre o ensino e a pesquisa.
Grande
parte da pesquisa é feita por laboratórios fora da universidade.
É um problema para um laboratório a interação com estudantes
ou jovens pesquisadores, conta Artiguenave. Ele trabalhou
dois anos no Brasil, na Fundação Oswaldo Cruz, em Belo
Horizonte, na sua área, a bioinformática. O que me surpreendeu
é que
os alunos de mestrado e doutorado, mesmo com uma experiência
muito forte em um domínio específico, têm também uma
cultura geral boa e a mente aberta, afirmou o diretor do
Laboratório
de Bioinformática do Genoscope Centre National de Séquençage.
Todos
os professores selecionados no programa têm de enviar um
plano de trabalho com ações previstas em pesquisa,
ensino
e extensão. Esse planejamento vai conduzir a avaliação
da unidade sobre o desempenho do docente.
Com
mestrado em Neuroquímica no Reino Unido e doutorado em Ciências
Neurológicas
no Canadá, o tobaguiano Alan
Hazell disse estar ansioso para começar suas atividades
na Unicamp
em 2011. Minha expectativa é que o trabalho ajude
a levar ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas
inovadoras para distúrbios cerebrais, disse. As instalações
de investigação
clínica e biomédica da Universidade estão em consonância
com o que existe atualmente em instituições similares
da América do Norte, comentou Hazell. Nos últimos
anos
tenho
ficado impressionado com o nível do ensino superior
no
Brasil
e os benefícios que resultam disso, afirmou o professor
assistente do Departamento de Medicina da Universidade
de Montreal (Canadá),
que irá trabalhar na FCM.
Os
estrangeiros podem ficar um ou dois anos na Unicamp. Se a
unidade mantiver o interesse pelo professor
após esse período,
deverá abrir concurso na área de pesquisa do docente,
para dar a ele – e outros que se interessem – a
oportunidade de se fixar na Universidade. “Não se trata de
reserva
de
mercado,
mas sim de dar a esse professor a chance de ficar”,
diz Pilli. O grupo de trabalho coordenado pelo
pró-reitor estuda mudanças
nos concursos para a admissão de docentes. Entre
elas, está a possibilidade de aplicação de provas
em inglês,
a critério
das unidades, caso os candidatos se manifestem
incapazes de fazer o exame em língua portuguesa. A meta é
captar
de cinco a dez docentes por ano. Ampliando a rede
O Programa Professor Visitante tem
uma versão de curta duração, para receber professores estrangeiros
na Universidade de 15 a 60 dias. Esses docentes dão aulas
em uma disciplina regular do programa de pós-graduação e
discutem com seu anfitrião projetos de pesquisa. A partir
do primeiro edital desse programa, publicado pela Pró-Reitoria
de Pesquisa e pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação em novembro
do ano passado, a Unicamp recebeu 40 manifestações de interesse.
Segundo
Pilli, entre junho de 2009 e maio do ano que vem, 26 professores
estrangeiros passarão pela Universidade. Até
o momento, vieram 18. O investimento nesses professores
será de R$ 350 mil, para pagamento de passagem, estadia e
ajuda
de custo em sua permanência no País. Pilli informou que
um novo edital será aberto no primeiro semestre de 2011.
“Pretendemos
não apenas trazer o professor, mas também enviar nosso
docente para lá em igual período, mediante a aprovação de
uma solicitação.”
Incentivar
o pós-doutoramento no exterior bem como a vinda de pesquisadores
com pós-doutorado ao Brasil
é uma forma
de ampliar a cadeia de relacionamentos de seus quadros
e, com isso, criar oportunidades perenes. Para isso,
outra frente
de trabalho a ser iniciada em 2011 é um programa de incentivo
ao pós-doutoramento de docentes da Unicamp no estrangeiro.
“Hoje, segundo levantamento, cerca de 70% do nosso corpo
docente, da carreira MS, tem no mínimo seis meses de
experiência de pesquisa no exterior, de dedicação integral
à pesquisa”,
afirma Pilli. “Nós não queremos que esse percentual de
experiência no exterior fique ameaçado.”
Dados
levantados pela administração apontam que docentes contratados
nos últimos
dez anos têm experiências no
exterior menores que a de professores contratados em
períodos anteriores.
Por isso, é neles que o programa deverá se concentrar.
Os
pesquisadores buscarão recursos nas agências de fomento
para passagem e bolsa. “Vamos
apoiar o grupo de pesquisa
quando o docente retornar de seu pós-doutorado para
que ele possa implementar a experiência adquirida
no exterior
de
forma mais rápida possível”, explicou o pró-reitor.
“Esse incentivo é importante porque ciência envolve
seres humanos,
que estabelecem uma cadeia de relacionamentos ao
longo da vida. Conhecer e ser conhecido em sua área cria
oportunidades que se estendem ao longo de muitos
anos de sua carreira”,
afirmou Pilli. Segundo o pró-reitor, estudos apontam
que pesquisadores inseridos em redes de pesquisa
multinacional têm maior chance de produzir trabalhos mais
relevantes,
com
abordagem mais complexa e diferentes expertises.
“Queremos ajudar nisso.”
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