TATIANA
FÁVARO Especial para o JU
Fazer
as relações internacionais da Universidade saírem de um
contexto pontual e localizado para um cenário institucional
e macro é o desafio da equipe de trabalho designada para
promover a internacionalização da Unicamp.
É fato que alunos de pós-graduação, docentes
e pesquisadores têm trânsito no exterior há tempos, por
meio de iniciativas próprias, de suas unidades, departamentos
e apoio de agências de fomento. São centenas de parcerias,
acordos e convênios firmados com instituições estrangeiras.
Pelo fato de essas ações partirem de um
universo pontual, a Universidade tem dificuldade em mensurar
o número de pessoas que fazem intercâmbio com organismos
de ensino em outros países, colaboram com pesquisas fora
do Brasil ou convivem com professores vindos de todo o mundo.
Além dos acordos firmados fora do contexto
institucional, a Universidade possui formalmente quase 250
convênios. O objetivo do grupo de trabalho pró-internacionalização
é fazer também com que essa cooperação vá muito além do
protocolo e da boa relação e dê frutos como maior troca
de alunos e docentes, experiências em ensino, resultados
em pesquisa, publicações de trabalhos relevantes para a
ciência e projetos de extensão.
“Temos um quadro grande de relações com
boa parte da comunidade internacional. O esforço agora é
para darmos continuidade a esse processo e fazer com que
isso se transforme em projetos conjuntos, intercâmbios,
produção de conhecimento e publicação, coroando esse processo”,
afirmou o pró-reitor de Pós-Graduação, Euclides de Mesquita
Neto.
“O desafio é estruturar cada vez mais essas
relações, aperfeiçoando nosso suporte linguístico, nosso
sistema de apoio a estrangeiros, entre outros ajustes em
curso, para tornar esses acordos parcerias estratégicas
no âmbito do nosso objetivo que é o de fazer da Unicamp
uma universidade de classe mundial”, disse Mesquita Neto.
Estruturação
O
diretor de Relações Internacionais da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes), professor Sandoval
Carneiro Júnior, afirma que é um bom momento para investir
em internacionalização. “É um momento muito oportuno. A
imagem do Brasil mudou muito no exterior. Diversas agências
internacionais têm procurado o país, quando antigamente
éramos nós que as procurávamos”, afirma.
A maior barreira a ser transposta pelas
universidades brasileiras que querem estar entre as melhores
do mundo, segundo o diretor da Capes, é exatamente a estruturação
da qual o pró-reitor de Pós-Graduação da Unicamp fala e
que o grupo de trabalho montado na Universidade persegue.
“A dificuldade maior talvez esteja na nossa falta de tradição
para receber esse pessoal. Se você vai ao exterior, quase
todas as universidades, nos seus escritórios ou assessorias
de cooperação internacional, têm pessoas para receber os
alunos, têm alojamentos suficientes, têm facilidades diversas
que não temos no Brasil. A maior barreira para quem vem
de fora é a questão do alojamento, da residência. Eles têm
de encontrar colegas para dividir apartamento porque não
há onde ficar. Algumas das nossas universidades estão fazendo
o dever de casa, ou seja, estão começando a criar um sistema
de receber o bolsista quando ele chega ao aeroporto, de
mapear os aluguéis”, afirma.
O objetivo desse esforço é ampliar não apenas
a visibilidade internacional da instituição de ensino como
também garantir a mobilidade de seus alunos, docentes e
pesquisadores, sejam eles de graduação ou pós-graduação.
“A Universidade tem a aspiração de se tornar uma instituição
de classe mundial e uma das formas de fazer isso certamente
é estar integrado a esse ambiente de troca de realização
de pesquisa e troca de geração de conhecimento”, afirma
Euclides de Mesquita Neto.
Uma das frentes de trabalho para atingir
esse objetivo tem sido facilitar a conexão entre pesquisadores
e professores daqui e de outros lugares, para que os cursos
e programas da Unicamp sejam um catalisador para colaborações
mais permanentes. A Universidade, criada com esse espírito
de cooperação internacional quando seu fundador, Zeferino
Vaz, convidou pesquisadores maduros para iniciar um trabalho
em Campinas, tem 98% de seus professores com doutorado.
“A ideia inicial de Zeferino Vaz de, em
vez de formar devagarinho o mestre, o doutor, internamente,
partir para o convite de pesquisadores maduros, catapultou
a visibilidade e a proficiência da Universidade em termos
de pesquisa. Trazer gente qualificada é importante e esse
esforço de criar um banco de contatos é constante”, afirmou
Mesquita Neto. “Existem associações de universidades, como
o Grupo Tordesilhas, o Grupo de Coimbra, a Associação Universitária
Ibero-americana de Pós-Graduação, a Associação de Universidades
Grupo Montevidéu, além das redes Erasmus Mundus da União
Europeia, que entendem a necessidade da mobilidade entre
as universidades. Participar desses grupos é um caminho.”
O grupo também tem feito e recebido visitas
e estreitando relações com outras universidades de todo
o mundo. “O que temos feito é a determinação de alguns parceiros
estratégicos e prioritários. Ainda não devo avançar e citar
nomes, mas vamos construir um conjunto de parcerias com
universidades americanas e europeias, e pretendemos trabalhar
nossa penetração na Ásia, ainda incipiente”, afirmou Mesquita
Neto.
Para esse conjunto de parceiros estratégicos,
a Unicamp desenvolverá editais específicos que devem ser
lançados no primeiro semestre de 2011, com objetivo de colocar
professores e alunos em contato com essas escolas e fecharem
parcerias que serão financiadas com recursos da Unicamp.
“Esse
conjunto de editais faz parte dessa estruturação. Esses
acordos podem prever potencialmente trocas na graduação,
na pós-graduação, nos pós-doutoramentos e também de docentes.
Mas o primordial vão ser os acordos para trocas na pós-graduação,
seguindo a modalidade do que chamamos de doutorado-sanduíche,
visando à mobilidade internacional. O estudante faz uma
ligação entre um grupo de pesquisa da Unicamp e o grupo
de pesquisa da outra universidade. Esse aluno passa de seis
meses a um ano fora e aproxima esses grupos de pesquisa”,
afirma o pró-reitor. “A Universidade não está preocupada
com a simetria, de mandar o mesmo número de pessoas que
chegam ou vice-versa. A questão não é simetria, mas sim
reciprocidade.”
O Brasil, segundo Mesquita Neto, tem esse
potencial atrativo e a Unicamp aproveitará isso. “Há muito
interesse na biodiversidade amazônica e em energia renovável.
Além disso, as engenharias no Brasil são subdimensionadas.
Então entendemos que as ciências exatas e as engenharias
precisam de um aporte de indução mais forte, embora não
determinemos atuação em áreas específicas”, afirmou o pró-reitor.
Parcerias
Universidades interessadas em se inserir
na chamada classe mundial têm, entre outras ações, criado
grupos de trabalho, centros de estudos avançados e participado
de ações conjuntas com outras universidades.
No dia 29 de novembro, foi lançado o Instituto
de Estudos Europeus no Brasil (IEE-BR), na Universidade
de São Paulo (USP). O consórcio, formado pela USP, Unicamp,
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal
de Goiás (UFG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade
Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal do Piauí (UFPI),
foi escolhido entre três consórcios de instituições de ensino
para desenvolver o trabalho cujo objetivo é ampliar a cooperação
bilateral entre o Brasil e a União Europeia.
O IEE-BR contribuirá para desenvolver o
ensino superior e a pesquisa no Brasil em temas de interesse
mútuo, por meio da transferência do conhecimento e incluindo
as melhores práticas para efetivar ações cooperativas de
estruturação e operação, de diálogo, acadêmicas, de pesquisa,
ensino e extensão. “Vamos trabalhar para difundir o conhecimento
produzido na Europa, bem como sua cultura, em contexto nacional”,
afirmou o coordenador-geral da Unicamp, Edgar De Decca.
Nos
dias 6 e 7 de dezembro ocorreu a primeira reunião dos membros
do consórcio vencedor, em Santa Catarina. Até abril, a meta
é ter concluído o site e a newsletter do instituto, formatado
workshops e apresentado projetos que devam ser financiados.
“Temos mais de 30 projetos que envolvem intercâmbio e cooperação
encaminhados”, afirmou De Decca, responsável, juntamente
com os professores Ronaldo Pilli e Francisco Foot Hardman,
pela participação da Unicamp no IEE-BR. O instituto tem
como associadas a Brunel University (Londres), a Ecole Nationale
d’Administration (França), a Freie Universität Berlin (Alemanha),
a Karlstads Universitet (Suécia), a Universidade do Porto
(Portugal), a Università degli di Roma La Sapienza (Itália),
e a Universitè Libre de Bruxelles (Bélgica).
No contexto de estruturação para tornar-se
um organismo internacional, a Unicamp também criou, em março
deste ano, seu Centro de Estudos Avançados (CEAv). “Para
as universidades estarem inseridas no contexto de classe
internacional é preciso que tenham características de interdisciplinaridade,
que permitam desenvolver temas que não são de direta aplicação
no ensino”, afirmou o professor Pedro Paulo Funari, coordenador
do CEAv da Unicamp.
Segundo ele, os estudos avançados caracterizam-se
pela pesquisa desinteressada, ou seja, aquela que não tem
a pontualidade e especificidade das pesquisas realizadas
nas unidades de ensino, mas podem ser importantes e servir
a humanidade. No CEAv da Unicamp, por exemplo, os temas
de pesquisa são Ensino Superior, Esporte, China e os Desafios
das Humanidades. “São temas relevantes para o mundo e que
podem ser tratados em pesquisas inovadoras”, afirmou Funari.
Os rankings e a visão de conjunto
Colocar a Unicamp entre as cem melhores
universidades do mundo é um desejo do reitor Fernando Costa.
Medidores acompanhados por especialistas de todo o planeta,
os rankings apontam o potencial mundial da Universidade
para tanto. Ainda assim, em uma análise sobre os posicionamentos
da instituição divulgados neste ano, Costa ponderou a necessidade
de levar em consideração características distintas e peculiares
de cada levantamento, de observar o contexto em que a Universidade
está inserida, e de serem reforçadas metas desde que a qualidade
no seu cumprimento seja assegurada. “As bases existem”,
afirma ele, ao explicar que a Unicamp já está no rumo traçado,
ao manter uma política de contratação de docentes qualificados,
a rigorosa seleção de estudantes, infraestrutura fortalecida
e o financiamento em pesquisa.
A revista britânica Times Higher Education
(THE) divulgou em setembro seu Ranking Mundial de Universidades
2010-2011, no qual a Unicamp aparece na 248ª posição. A
Universidade subiu 47 colocações em relação ao levantamento
divulgado em 2009, quando ocupava o 295º lugar. Até 2009,
a THE e a empresa de consultoria QS elaboravam um único
ranking. Neste ano, a THE rompeu a parceria e trocou a QS
pela Thomson Reuters. Em um ranking da QS, divulgado no
mesmo mês, a Universidade ficou em 292º lugar, três posições
à frente do ranking da ex-parceira. A melhor colocação havia
sido em 2007, quando a Unicamp ficou entre as Top 200, ocupando
a 177ª posição, no ranking THE-QS.
Em
agosto, a Shangai Jiao Tong University, da China,
listou 500 instituições das quais as cem primeiras foram
colocadas em ordem de classificação. As demais, em grupos
de cem em cem, aparecem em ordem alfabética. A Unicamp está
entre as 201 e 300 mais bem colocadas.
Embora a Universidade tenha ficado fora
das 200 mais bem colocadas nos rankings, a THE chama a colocação
daquelas entre o 201º e o 400º lugar de “posição indicativa”,
ou seja, com potencial para tornar-se uma universidade mundial.
Vale lembrar que o ranking da THE deu mais
peso a aspectos pontuais do ensino superior como o ambiente
favorável ao aprendizado, às citações das pesquisas feitas
na Universidade por autores diversos, o volume de pesquisas
e a internacionalização do que à reputação da universidade
propriamente dita.
“É preciso dizer que os diferentes rankings
existentes – Times Higher Education [Reino Unido],
QS [Reino Unido], Shangai Jiao Tong University
[China] e etc – têm características muito distintas. Shangai
se preocupa muito com produção científica especificamente.
As outras se preocupam um pouco mais com os aspectos educacionais.
Todas têm dados positivos e são importantes fontes, pois
dão uma noção de como as universidades se colocam, mas há
restrições”, ressaltou o reitor. “É difícil dizer em quanto
tempo isso [a recolocação da Unicamp entre as Top 200 e
a colocação dela entre as cem primeiras do mundo] é possível,
pois depende de algumas características que fogem um pouco
ao nosso controle, como orçamento, capacidade de contratação
de pessoal e problemas específicos”, disse Costa.
A melhor posição nos rankings depende da
capacidade de a universidade ter um padrão mundial e os
caminhos para isso, lembra Costa, passam pela internacionalização
da instituição – uma das bandeiras mais importantes da gestão
do reitor tratada nesta edição especial do Jornal
da Unicamp. “A internacionalização é um aspecto
importante da universidade moderna. Nós sabemos que para
ter uma universidade de padrão mundial, ela tem de ter um
número grande ou razoavelmente grande de alunos dela que
tenham uma experiência em outras universidades do exterior
e também um número razoavelmente grande de alunos do exterior
estudando aqui. E também tem que ter um número razoável
de professores do exterior ou com formação lá fora”, disse.
“Se quisermos assegurar educação de qualidade, atuar na
graduação, ter pós-graduação de qualidade, formar os melhores
mestres e doutores, é preciso ter esse ambiente de internacionalização.
Para produzir pesquisa comparável às que se fazem nas melhores
universidades, é preciso ter intercâmbio de estudantes e
pesquisadores. Então há uma prioridade nesse sentido.”
Para Costa, o investimento
em ensino superior público ainda precisa crescer no Brasil.
“Só que isso tem de ser feito de maneira planejada. Não precisamos
ter todos os nossos alunos em universidades de pesquisa como
a Unicamp, a USP ou a UFRJ. É claro que ainda é necessário
aumentar escolas superiores desse tipo, pois ainda temos poucas,
mas tem de aumentar o ensino em cursos profissionalizantes,
o ensino superior técnico, algo como os community colleges,
nos Estados Unidos. Porque se nós quisermos incrementar o
nosso número de alunos no ensino superior para números equivalentes
aos dos países desenvolvidos, precisamos ter essa heterogeneidade.”
(Tatiana Fávaro)
Alguns dos acordos de cooperação da Unicamp
África
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique
Alemanha
Berlim, Hamburgo, Darmstad, Munique, Stuttgart
Argentina
Buenos Aires, La Plata, Luján, Rosário, San Juan, Tucumán
Austrália
Melbourne, Queensland
Bélgica
Bruxelas, Leuven, Gent
Bolívia
La Paz
Canadá
Ontário, Montreal, Laval
Chile
Valparaíso, Tarapacá
China
Jilin
Colômbia
Medellín
Cuba
Havana
Dinamarca
Copenhagen
Equador
Guayaquil
Espanha
Castilla, Córdoba, Rioja, Catalunha, Madri, Alicante, Granada,
Valencia, Coruna, Barcelona, Zaragoza, Alcala, Jaen, Salamanca,
Vigo
Estados Unidos
Michigan, Washington, Flórida, Texas, Geórgia, Utah, Pittsburgh,
Novo México, Vermont
França
Paris, Marselha, Toulose, Montpellier, Nancy, Besançon,
Lille, Lyon, Nantes, Normandie, Nice, Cachan, Bordeaux,
Metz
Itália
Roma, Pisa, Milão, Ferrara, Torino, Bologna, Veneza, Parma,
Siena, Firenze, Vernona, Oviedo, Modena, Genova, Pergia
Japão
Tóquio, Gifu
México
Monterrey, Tlalpan, Chapingo, Distrito Federal
Nigéria
Bayelsa
Noruega
Trondheim
Panamá
Peru
Lima
Polônia
Lodz
Portugal
Trás-os-Montes, Alto Douro, Madeira, Lisboa, Porto, Coimbra,
Algarve, Évora, Minho/Braga, Setúbal
Rússia
Ivanovo
São Tomé e Príncipe
Suécia
Estocolmo
Suíça
Gothenburg, Lugano,
Lausanne, Genebra
Tunísia
Turquia
Istambul
Reino Unido
Uruguai
Montevidéu