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Menos química no consultório
Dentista desenvolve recipiente
para processamento de imagens radiográficas
A
percepção de que os recipientes usados atualmente para processamento
das imagens radiográficas em consultório odontológico utilizam
uma quantidade muito grande de solução química foi o principal
elemento motivador para que a cirurgiã-dentista Nayene Leocádia
Manzutti Eid criasse um novo modelo de recipiente para processamento
radiográfico manual em câmara-escura portátil. Com formato
geométrico em “Y” e confeccionado em material acrílico, o
equipamento viabiliza a redução da quantidade de soluções
químicas empregadas no processamento de películas radiográficas
intrabucais. Ao contrário do recipiente tradicional – que
acondiciona em média de 200ml a 250ml de solução – o novo
modelo permite o processamento utilizando-se 12ml, 19,2ml
ou 24ml – dependendo da medida do recipiente – e é igualmente
eficaz mantendo os padrões de qualidade da imagem radiográfica,
tanto em termos de densidade como de contraste. Somado a isso,
há uma significativa redução de custos com a economia das
soluções (cerca de 86%), além da importante redução de impacto
ambiental devido à minimização da quantidade de produtos químicos
usados nestes recipientes e descartados incorretamente. Orientada
pelo professor Li Li Min, da Faculdade de Ciências Médicas
(FCM), a pesquisa resultou na tese de doutorado de Nayene
e a inovação já tem patente requisitada por meio da Agência
Inova Unicamp.
De acordo com a dentista,
embora o avanço tecnológico tenha viabilizado o uso dos sistemas
digitais para a aquisição de imagens radiográficas, ainda
hoje, no Brasil, os filmes radiográficos convencionais continuam
sendo os mais utilizados nos consultórios odontológicos. Deste
modo, após a exposição aos raios X, os filmes radiográficos
são processados em soluções químicas a fim de que a imagem
que, até então, estava latente, se transforme em imagem visível
e passível de diagnóstico. Tanto o revelador como o fixador
radiográfico contêm em sua composição substâncias químicas
altamente tóxicas que podem apresentar risco à saúde de profissionais
como o desenvolvimento de lesões cutâneas e dermatites em
decorrência do manuseio e manipulação destas soluções de processamento.
Ademais, apresentam risco à saúde pública, caso ocorra a ingestão
de produtos oriundos do meio ambiente previamente contaminados
e, ainda, sérios prejuízos ao meio ambiente como a contaminação
da fauna e flora, em razão do descarte indevido destas soluções
após seu uso.
A partir desse ponto de vista,
segundo a autora, o primeiro objetivo deste trabalho foi avaliar
a eficácia de um novo modelo de recipiente para processamento
radiográfico manual em câmara-escura portátil, para uso em
consultórios odontológicos. O segundo objetivo foi avaliar
qualitativa e quantitativamente as imagens radiográficas obtidas
por meio do processamento radiográfico nos diferentes recipientes
e, o terceiro, comparar os resultados obtidos em ambas as
análises, sob a hipótese de que, devido às suas configurações
geométricas, este novo modelo de recipiente pudesse propiciar
a economia de soluções químicas para a execução do processamento
radiográfico manual, reduzindo custos aos profissionais da
área odontológica e, além disto, promover a redução do impacto
ambiental devido à minimização da quantidade de químicos usados
nestes recipientes.
Para atender aos objetivos
e conhecer sobre a aplicabilidade deste trabalho, realizou-se
um outro estudo no qual se fez uma investigação sobre o descarte
dos Resíduos de Serviço de Saúde produzidos em consultórios
odontológicos localizados no Estado do Tocantins. O estudo
abordou aspectos relacionados ao conhecimento e atitudes dos
cirurgiões-dentistas frente aos resíduos gerados em seu ambiente
de trabalho, sua percepção sobre os resíduos gerados nos demais
consultórios odontológicos. Um questionário foi aplicado a
239 cirurgiões-dentistas. Destes, 78,2% trabalhavam em clínica
particular e 68,6% já haviam cursado alguma pós-graduação.
Do total dos entrevistados, 87,9% afirmaram realizar exames
radiográficos em seu consultório e foram unânimes em afirmar
que o processamento das imagens era realizado manualmente
em câmara-escura portátil e a maioria dos entrevistados (88,1%)
afirmou que, em média, a cada 5 dias, descartava no esgoto
as soluções químicas de processamento utilizadas. Concluiu-se,
que, em geral, os cirurgiões-dentistas entrevistados desconheciam
regras sobre o correto descarte dos resíduos de serviço de
saúde, uma vez que foi observada negligência desta prática
por muitos deles.
A partir destas informações,
um novo modelo de recipiente para processamento radiográfico
manual foi testado. Foram obtidas imagens radiográficas dos
dentes posteriores de um phantom de mandíbula humana macerada
e, em seguida, estas imagens foram processadas em quatro câmaras-escuras
portáteis. Em uma delas foram colocados dois recipientes convencionais
(R1) abastecidos com 200ml das soluções de processamento e,
em cada uma das demais câmaras-escuras, para este mesmo propósito,
foi disposto um par de cada um dos três tipos de recipientes
desenvolvidos pelos autores, chamados de R2, R3 e R4, abastecidos
com 12ml, 19,2ml e 24ml das soluções reveladora e fixadora,
respectivamente. Foram processadas 184 películas em R1, 40
em R2, 48 em R3 e 56 em R4. A conclusão é de que o novo modelo
de recipiente viabilizou o processamento de películas radiográficas
em câmara-escura portátil, utilizando menor quantidade de
soluções químicas para o processamento radiográfico manual,
sendo que estas se apresentaram com qualidade satisfatória
para diagnóstico.
Vantagens
O
processamento radiográfico manual utiliza, atualmente, câmaras-escuras
portáteis, confeccionadas em acrílico branco leitoso ou transparente,
oferecendo, de acordo com seus fabricantes, blindagem contra
entrada de luz. Elas têm o formato de um cubo ou caixa retangular
e são providas de tampa, articulada ou como peça separada,
podendo ainda ter ou não um visor em sua área central. Independentemente
do formato e do material com que são feitos, os recipientes
disponíveis no mercado, até o momento, são confeccionados
com dimensões cuja capacidade permite acondicionar em média
de 200ml a 250ml de soluções de processamento. Nayene assegurou
que as diversas opções de recipientes, comercializadas nos
dias de hoje, exercem suas funções de maneira satisfatória
e permitem que se realize corretamente este processo. Porém,
algumas desvantagens em relação ao novo modelo criado por
ela devem ser consideradas.
A primeira delas está no fato
de que estes recipientes necessitam ser abastecidos com volume
excessivo de soluções químicas (revelador e fixador) para
permitir que um filme radiográfico intra-oral seja processado
adequadamente. Desta maneira, devem ser preenchidos até 1cm
aquém de sua borda superior, para que a película radiográfica
fique completamente imersa em solução durante a execução das
etapas do processamento radiográfico. Outro inconveniente,
lembrado pela dentista, advém do formato desses tipos de recipientes.
Pelas configurações de sua abertura superior e pelo volume
excessivo de soluções químicas, necessárias para que se realize
satisfatoriamente o processamento radiográfico, se o operador
soltar a colgadura – um tipo de grampo – que segura o filme,
durante alguma etapa do processamento, esta não fica em posição
totalmente vertical. Consequentemente, tanto o filme quanto
os dedos do operador entram, de maneira frequente, em contato
com as soluções.
Comparativamente, nos recipientes
desenvolvidos pela dentista e seu orientador, embora a película
radiográfica também deva estar presa por uma colgadura no
momento do processamento, não é necessário que o operador
segure a mesma, pois a conformação geométrica do recipiente
garante que o filme permaneça imerso em posição vertical.
Nesse caso, a solução de processamento fica com o nível abaixo
da borda superior do recipiente, evitando o contato com a
colgadura e a possível contaminação dos dedos do operador
durante o processo.
Nayene assegurou ainda que
o principal objetivo da pesquisa não é avaliar ou questionar
se os recipientes convencionais atualmente em operação exercem
bem ou não suas funções. “Apresentamos um novo modelo de recipiente
que, devido às suas configurações geométricas, propicia a
economia de soluções químicas para que se realize o processamento
radiográfico manual, adequando-se à realidade do profissional
no que diz respeito à quantidade de películas processadas
por semana em seu consultório”, disse. Na mesma entrevista
realizada pela autora do trabalho, 12,1% afirmaram que não
realizavam exames radiográficos intrabucais em seu consultório;
48,6% realizavam até cinco exames por semana; 22,6% realizavam
de seis a dez exames por semana; 11,7% realizavam de 11 a
15 exames por semana e apenas 5% realizavam mais de 15 exames
por semana.
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