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Biota-Fapesp é destaque na Science
Revista norte-americana
ressalta impactos
do programa e sua abrangência multidisciplinar
O
balanço da primeira década do programa Biota-Fapesp é um dos
destaques na edição do último dia 11 da revista Science. O
artigo Biodiversity Conservation Research, Training, and Policy
in São Paulo, assinado pelos coordenadores do Programa de
Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso
Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (Biota),
destaca como a pesquisa em biodiversidade pode combinar o
avanço do conhecimento e a formação de especialistas com o
aperfeiçoamento de políticas públicas, de modo a ampliar o
seu impacto.
“Trata-se de um reconhecimento
internacional da qualidade da pesquisa brasileira”, disse
Carlos Alfredo Joly, coordenador geral do programa e professor
do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas,
à Agência Fapesp.
O texto faz um breve histórico
do programa e descreve a sua abrangência multidisciplinar,
que percorre diversas áreas do conhecimento, como a taxonomia,
a filogenia, a biogeografia, a ecologia e a bioprospecção,
além de efetuar estudos sobre a restauração, a preservação
e o uso sustentável da biodiversidade no Estado de São Paulo.
Desde março de 1999, quando foi lançado oficialmente, os
cientistas ligados ao Biota já conduziram 94 projetos de
pesquisa, descreveram mais de 1,8 mil novas espécies e levantaram
informações sobre outras 12 mil.
“A publicação do artigo
na prestigiosa revista Science reitera o sucesso da Fapesp
em seu trabalho de apoio à pesquisa, sua visão estratégica
e sua autonomia administrativa, que permite investimentos
em projetos de longo prazo e ampla abrangência”, disse
Joly.
Outro motivo para o sucesso do programa apontado no artigo
é o fato de o Biota ser um programa totalmente embasado na
pesquisa científica, sendo 100% planejado, executado e coordenado
por cientistas, o que é algo positivo e raro, segundo Joly.
“Certamente, a avaliação externa do programa por um comitê
internacional também contribuiu positivamente para o nosso
desempenho”, ressaltou o pesquisador.
Além dele, assinam o texto
quatro membros da atual coordenação do programa – os professores
Célio Fernando Haddad e Vanderlan Bolzani, da Universidade
Estadual Paulista (Unesp), e Luciano Martins Verdade e Mariana
Cabral de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP). Assinam
também os professores Ricardo Ribeiro Rodrigues, que coordenou
o Biota de 2004 a 2008, e Jean Paul Metzger, ambos da USP,
que juntos coordenaram o trabalho de identificação e mapeamento
das áreas prioritárias para conservação e restauração da biodiversidade
do estado.
O artigo destaca a influência
do Biota no aperfeiçoamento e na elaboração de políticas públicas
para o Estado de São Paulo. Até o momento, quatro decretos
e 11 resoluções estaduais citam textualmente o programa como
fonte de seu embasamento. Links para esses documentos também
foram anexados ao artigo da Science como material suplementar.
Entre as contribuições do
Biota nesse sentido está a delimitação da área de expansão
da cana-de-açúcar em São Paulo, base para o zoneamento agroambiental
para o setor sucroalcooleiro do Estado, por meio de uma Resolução
Conjunta das Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura.
Joly ressalta que a preservação
de vegetação nativa auxilia a atividade agrícola. “Para exportar
etanol para a Europa, por exemplo, os produtores precisam
obter uma certificação ambiental que exige a preservação e,
se for o caso, a restauração das Áreas de Preservação Permanente
(APP), no entorno de corpos d’água e da Reserva Legal”, explicou.
A
formação de recursos humanos altamente qualificados é outro
fruto importante do Biota. “Muitos pesquisadores formados
na esfera do programa passaram a ocupar postos-chave em órgãos
do governo e em organizações não-governamentais”, disse, ressaltando
que isso tem ampliado a colaboração do programa com essas
instituições.
Modelo internacional
O sucesso do Biota-Fapesp
tem inspirado o lançamento de programas semelhantes no Brasil
e em outros países. Em dezembro, por exemplo, a National Science
Foundation (NSF) dos Estados Unidos lançou o “Dimensions of
Biodiversity”.
De acordo com Joly, a internacionalização
do Biota é facilitada pelo fato de o programa ter base na
Convenção da Diversidade Biológica, documento lançado na Conferência
Rio 92 e reconhecido internacionalmente como diretriz para
legislações ambientais.
O artigo na Science também
cita a revista científica eletrônica Biota Neotropica, lançada
em 2001 com o objetivo de disseminar trabalhos científicos
sobre a biodiversidade da região neotropical.
Outro destaque é a Rede Biota
de Bioprospecção e Ensaios (BIOprospecTA), criada em 2002
com o objetivo de encontrar e organizar componentes bioativos
que possam apresentar interesse científico ou econômico. “A
rede já gerou três depósitos de patentes, uma das quais já
está na fase de testes pré-clínicos como uma nova droga para
o tratamento de Alzheimer”, disse Vanderlan.
Os membros do Biota-Fapesp
também salientam no artigo os desafios e projetos futuros
do programa, entre os quais estão: a) a ampliação das regiões
estudadas para os limites naturais da Mata Atlântica e do
Cerrado; b) o foco nas bacias pouco estudadas do Estado de
São Paulo; c) a biodiversidade marinha; d) o risco potencial
das espécies invasoras; e e) estudos focados nas dimensões
humanas da conservação da biodiversidade. Outra área de alta
prioridade para o programa é a produção de material didático
para escolas de ensino médio e fundamental.
“Temos realizado eventos específicos
de modo a contemplar esses desafios”, indicou Joly, que citou
os workshops internacionais Ecologia Aplicada e Dimensões
Humanas em Conservação Biológica, realizado em novembro de
2009, Metabolômica no Contexto da Biologia de Sistemas, em
fevereiro de 2010, e o Simpósio Internacional sobre DNA Barcoding,
organizado em dezembro de 2009, todos na sede da Fapesp.
O programa também lançou,
em novembro de 2009, uma chamada de projetos voltada especificamente
para biodiversidade marinha, que recebeu 25 projetos, e está
preparando outras chamadas para o segundo semestre de 2010.
Para o coordenador geral do
Biota, a publicação do artigo na Science representa uma divulgação
importante do programa e auxiliará no estabelecimento de novas
parcerias internacionais. “Pesquisadores da área certamente
lerão também o material suplementar e entrarão em contato
conosco em áreas de mútuo interesse”, disse.
“Em um mundo em que se disputa
cada milímetro de página em periódicos científicos de alto
impacto, a publicação na íntegra do Science Plan & Strategies
for the next decade, plano estratégico e metas do Biota para
2020, como material suplementar do artigo na revista Science,
é uma honra imensa para toda a comunidade de pesquisadores
e instituições que participam do programa”, afirmou.
O artigo Biodiversity Conservation
Research, Training, and Policy in São Paulo, de Carlos A.
Joly e outros, pode ser lido por assinantes da Science em
www.sciencemag.org.
Nature elogia
papel da agência de fomento
Enquanto o programa Biota-Fapesp
tem o balanço de seus primeiros anos publicado na Science,
a Nature salienta o potencial do setor no país na próxima
década.
Em reportagem, a revista
inglesa descreve como, à medida que o “presidente Lula
se prepara para deixar o cargo, pesquisadores esperam
que a inovação revigore a economia [do país]”. A reportagem
da Nature acompanhou a 4ª Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação, realizada no fim de maio em Brasília.
“A conferência representou
a primeira vez que aqueles que estão no centro da ciência
e aqueles que estão indiretamente envolvidos foram reunidos
e isso em um momento em que as coisas estão realmente
decolando”, disse à revista o diretor científico da Fapesp,
Carlos Henrique de Brito Cruz.
A reportagem conta que
o resultado da conferência será um documento, a ser
enviado aos candidatos à Presidência da República,
que descreverá as áreas consideradas mais importantes
para a pesquisa científica no país na próxima década.
O texto comenta a “sólida fundação” no país que
permitirá a realização de tais políticas e destaca
o papel do Estado de São Paulo e da Fapesp nesse cenário.
Cita também, como exemplo
da força da ciência brasileira, o sequenciamento da bactéria
Xylella fastidiosa, agente patogênico que causava prejuízos
milionários à cultura de cítricos, concluído em 2000.
Utilizando softwares de sequenciamento genético com base
na internet, o projeto, financiado pelo Programa Genoma-Fapesp,
correspondeu também à introdução da bioinformática no
Brasil.
“A ciência está indo bem
no nível estadual, que fornece uma fonte importante de
financiamento público, embora os esforços para estimular
a ciência não sejam uniformes. Muitos estados procuram
se basear em São Paulo, que tem a tradição científica
mais forte”, afirmou a Nature.
“Há um artigo da Constituição
de São Paulo de 1947 segundo o qual 1% de toda a receita
tributária do Estado seja destinada à pesquisa científica.
Possivelmente nenhuma outra agência de fomento à pesquisa
no mundo tem esse tipo de segurança e autonomia financeira
[do governo federal]”, disse Brito Cruz à revista.
A reportagem pode ser lida no endereço
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