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Ensino para muitos
Unidades da Universidade
produzem material didático multimídia para o ensino médio
Projeto aprovado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), Secretaria de Ensino a Distância (SED), Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT) e Ministério da Educação (MEC)
destinou R$18 milhões para a Unicamp produzir material didático
para o ensino médio nas disciplinas de Matemática, Língua
Portuguesa e Biologia em diferentes mídias (vídeo, áudio,
softwares e experimentos). Esse material, de acordo com os
coordenadores de cada área, servirá para auxiliar os professores
do ensino médio em sala de aula e também como forma de complemento
de aprendizado aos alunos. A coordenação administrativa do
projeto na Unicamp está sob a responsabilidade da Pró-Reitoria
de Pós-Graduação (PRPG). Trata-se, segundo o professor Samuel
Rocha, coordenador geral da área de matemática, de uma iniciativa
inédita do MEC. “Nós, com certa preocupação e muita investigação,
percebemos uma maneira de estabelecer recursos educacionais
usando formato digital”, afirmou.
A produção, prosseguiu Rocha,
envolveu um número muito grande de pessoas, que em alguns
momentos ultrapassou cem. Além do Instituto de Matemática,
Estatística e Computação Científica (Imecc), o Instituto de
Física ‘’Gleb Wataghin’’ (IFGW), a Faculdade de Educação (FE),
o Instituto de Computação (IC) e o Instituto de Artes (IA)
participaram dessa atividade multidisciplinar. ‘’Sabíamos
que era um projeto muito grande e por isso montamos uma equipe
de consultores, redatores, revisores e pessoas para dar ideias’’,
disse. Escolhidas as possibilidades, firmaram um contrato
com uma produtora para a realização dos vídeos e áudios. Os
softwares e os experimentos foram produzidos na Unicamp. Foram
desenvolvidos para essa área 60 softwares, 180 vídeos, 105
áudios, além das atividades práticas.
A primeira preocupação, observou
o docente, foi com relação à linguagem. Para ele, existe na
Unicamp uma longa experiência de interação presencial, de
escrever artigos científicos e técnicos bem avançados, porém
apenas algumas pessoas tinham experiência para escrever textos
no formato digital com linguagem apropriada. A segunda preocupação
é a de não ter um mecanismo imediato de avaliação do quanto
esse recurso foi captado e aprendido. ‘’Colocamos nos softwares
um esquema no qual o aluno, a cada passo realizado, pode verificar
se acertou ou não. Se ele cumpriu, o software é uma boa medida
de captação sobre o assunto que foi abordado’’, comentou.
Rocha disse ainda que os recursos educacionais não foram desenhados
para o ensino a distância, mas que podem integrá-lo. O problema
do ensino a distância, pondera o docente, não é o material
e sim a avaliação de aprendizagem dos alunos.
Apesar
de esses recursos ainda não estarem disponíveis em sua totalidade,
os testes preliminares revelaram que eles deverão ser muito
utilizados. Alguns recursos são bastante elaborados e já existe
a percepção de que eles podem ser utilizados para a graduação
inicial como uma espécie de reforço do ensino médio. ‘’Algumas
faculdades particulares já nos procuraram para saber se poderiam
usar esse material para os seus cursos de graduação. Todo
material tem distribuição gratuita e ficará disponível no
portal do MEC e também na Unicamp’’, ressaltou. Rocha disse
ainda que já existe projeto para avaliar o impacto e a utilização
desse material para o próximo ano.
Na opinião do docente, levar
esse conteúdo a locais distantes talvez seja o resultado mais
animador. Com a chegada de recursos apropriados via internet,
esses professores estabelecidos em localidades longínquas
terão muito mais material didático. Essa quantidade enorme
de conteúdo é justamente para que ele tenham um leque de opções,
usando-o conforme o contexto. ‘’Percebemos que uma pequena
cidade do interior do Estado de São Paulo que já soube dos
programas de áudio pretende transmiti-los em uma rádio local.
Acho isso fantástico’’, concluiu.
PCN
O coordenador da área de Biologia,
professor Eduardo Galembeck, contou que a abordagem foi feita
baseando-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). O
conteúdo está dividido em seis temas principais e cada um
deles tem quatro divisões. Não necessariamente todas as mídias
cobrem cada tema, pois cada uma tem uma forma mais adequada
de abordagem. ‘’ Na hora de montar o conteúdo procuramos ter
uma base que é comum a todos. São sempre materiais que ajudam
o professor a desenvolver o tema. Não são vídeo-aulas’’, disse
Galembeck.
O material foi feito para
ser usado junto com o livro-texto. Para o docente, o livro
é uma fonte de referência muito importante que não deve ser
deixada de lado. Os experimentos, explicou o docente, concentram-se
em uma única mídia totalmente direcionada ao professor. A
partir desse material organizado, o professor monta uma aula
prática com os alunos. As outras três mídias têm como alvo
o aluno.
Galembeck ressaltou que o
cuidado com os conteúdos digitais não é diferente daqueles
com qualquer outro tipo de abordagem em sala de aula. O que
é problemático nessa situação é que um material deve ser desenvolvido
com uma finalidade específica para atingir um determinado
fim e, portanto, não pode ser utilizado como ferramenta única
de aprendizado. Segundo ele, tudo depende da quantidade de
acervo disponível. Inclusive, prosseguiu, existe uma tendência
do aumento do oferecimento de cursos a distância e esse tipo
de material pode ser útil a essas situações. ‘’O ambiente
de sala de aula é diferente do que conhecemos atualmente.
Ele existe, mas tem uma relação física entre professor e aluno
mediada por tecnologia’’, comparou.
Entretanto, tudo isso deve
ser realizado de forma complementar. O recurso principal do
software não é o texto. A biologia tem muitos modelos, desde
figuras, fotografias e animações, portanto, o software permite
esse tipo de interação. Particularmente nesse caso, Galembeck
considera fundamental o conteúdo estar sendo desenvolvido
por especialistas. E acrescentou, dizendo que tudo isso representou
um grande desafio, uma vez que tiveram que se associar a um
grande número de professores do ensino médio, que são os principais
interessados na utilização dos recursos em produção. ‘’Estamos
desenvolvendo conteúdo numa área que dominamos, porém, não
ensinamos em sala de aula, da forma como é abordado no ensino
médio’’, afirmou.
Galembeck
citou como característica particularmente importante do projeto,
na área de biologia, o envolvimento de diferentes profissionais
da Unicamp. Por exemplo, a participação de alunos de biologia
auxiliando na redação de conteúdos, além de um grande número
de docentes. Outro ponto ressaltado pelo docente é a grande
quantidade de alunos do IA – artes visuais, música, artes
cênicas e multimeios – trabalhando nos diferentes aspectos
do projeto. Houve também uma proximidade com o pessoal do
Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), porque todo esse
material precisou passar por uma etapa de revisão. ‘’Essa
relação, cujo motivo principal não é a afinidade do conteúdo
e, sim, o interesse na questão de poder trabalhar na melhoria
do ensino médio, foi muito importante’’, concluiu.
Módulos
O grupo de língua portuguesa
tem um funcionamento diferente do restante. A coordenadora,
professora Carmen Zink Bolognini, explicou que são vários
módulos e que cada um tem seu coordenador. Os professores
envolvidos no projeto são: Eduardo Guimarães, Isabella Tardim
Cardoso, Márcia Abreu, Maria Irma Hadler Coudry, Mônica
Zoppi Fontana, Sírio Possenti, Suzy Lagazzi, Tânia Alkmim
e Vandersi Castro. Cada um desses professores tem um grupo
de quatro alunos (dois de graduação e dois de pós) que
auxiliam na produção de conteúdos. Toda a coordenação
não está centralizada em apenas uma pessoa, mas em diversos
coordenadores pedagógicos que têm toda responsabilidade
sobre os conteúdos que estão sendo produzidos sob sua orientação.
Essa área está constituída de um conjunto de propostas
idealizadas para serem utilizadas em sala de aula. São programas
de áudio e de vídeo que vêm acompanhados de atividades
pós-exibição. Além disso, estão sendo produzidos jogos
de software, sob coordenação dos professores Heloisa Rocha
e Marco Antônio Garcia.
Segundo a coordenadora, como
o edital previa que o vídeo e o áudio não deveriam conter
aulas gravadas, os roteiros foram escritos de tal forma que
propusessem temas capazes de serem abordados e aprofundados
nas atividades que o professor deve fazer com os alunos. ‘’E
aí está o forte da apresentação do conteúdo’’, ressaltou
Carmen. Os jogos de softwares, por sua vez, não têm uma
proposta de ensinar o conteúdo mas sim de verificar, avaliar
e fixar o que foi tratado de forma aprofundada anteriormente
nas atividades. ‘’Foi um desafio imenso porque nunca tínhamos
produzido programas de áudio e vídeo, nem jogos de software.
Já tínhamos trabalhado com cursos a distância, mas com
material escrito. Então o desafio e o processo de aprendizagem
foram imensos’’, disse.
A coordenadora observou que uma das características do material
não é o de procurar de maneira alguma duplicar o que já
existe no mercado, mas de encontrar lugares poucos explorados,
mantendo a proposta curricular.
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