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Sinais dos novos tempos
Antenas inteligentes
melhoram recepção
de aparelhos de TV digital e de celulares
O
engenheiro eletricista Marcelo Augusto Costa Fernandes, do
Laboratório de Comunicações Digitais
(ComLab), da Faculdade de Engenharia Elétrica e de
Computação (Feec) da Unicamp, propôs em
sua pesquisa de doutorado melhorias para a recepção
dos sinais dos sistemas de comunicação CDMA
(Acesso Múltiplo por Divisão de Código)
- utilizado na terceira geração de celulares
de banda larga - e OFDM (Orthogonal Frequency-Division Multiplexing)
- usado na TV digital e em outros sistemas de comunicações.
Seus estudos compreenderam duas técnicas conhecidas
como equalização adaptativa e antenas inteligentes.
De acordo com Fernandes, elas podem ser aplicadas em ambos
os sistemas, melhorando a recepção do sinal
de TV e possibilitando uma maior taxa de transferência
de dados no caso do celular.
"Essa tese de doutorado apresenta uma
contribuição relevante nessa área, pois
os atuais sistemas de comunicação sem fio já
estão operando em sua capacidade máxima, e sua
expansão vai passar necessariamente pelo uso intensivo
de arranjos de antenas inteligentes. A situação
atual é apenas a ponta do iceberg, pois até
as previsões menos otimistas apontam para um crescimento
significativo das comunicações sem fio nos próximos
anos. São poucas as pessoas hoje que estão usando
transmissão de dados via celular e, seguramente, esse
mercado vai explodir", revelou o engenheiro.
O mesmo raciocínio vale para a expansão
da TV digital, alerta Fernandes. A situação
ganhou tanta importância que o governo federal voltou
a bancar projetos nessa área, visando melhorar a recepção
dos sinais em ambientes internos e em receptores móveis
de alta velocidade. O trabalho de pesquisa foi orientado pelo
professor Dalton Soares Arantes, coordenador do ComLab, que
está envolvido nos projetos de TV digital desde 1999,
antes mesmo do início do desenvolvimento do sistema
brasileiro de TV digital.
"É difícil avaliar percentualmente
o quanto os trabalhos desenvolvidos na tese podem melhorar
a cobertura de recepção nos aparelhos de TV
digital, mas seguramente os locais onde o sinal de vídeo
digital é fraco demais, mas que agora poderá
ser recebido com antenas inteligentes, deve aumentar significativamente",
afirma Fernandes.
Com
relação aos conversores existentes no mercado
atualmente, Fernandes explica que é não é
muito fácil saber quais são os de boa qualidade,
pois a má cobertura do sinal digital pode mascarar
a qualidade do receptor. Para ele, muitas pessoas ainda comprarão
modelos desatualizados, que, por saírem na frente,
não puderam ser totalmente otimizados. "O próprio
consumidor deixará de adquirir esses modelos e, naturalmente,
outros com qualidade superior surgirão", avaliou.
A velocidade com que as novidades entram e
saem do mercado é tão grande que os consumidores
não conseguem acompanhar essa evolução.
Por exemplo, a quantidade de informação necessária
para se realizar uma boa compra de um aparelho de televisão
hoje é "absurda", na opinião do engenheiro
eletricista. "Os novos televisores de LCD e LED possuem
várias etiquetas afixadas em sua estrutura, com diversas
siglas que muita gente nem sabe o que significa", disse
Fernandes. E isso não acontece apenas no Brasil. Trata-se
de um fenômeno mundial, em que nem os lojistas possuem
todas as informações necessárias para
orientar os compradores. É preciso oferecer treinamento
especializado até aos vendedores, na avaliação
do engenheiro.
Muitos modelos de televisão digital
que incorporam um conversor interno já são anunciados
o tempo todo. As propostas de novas estruturas de recepção
que foram apresentadas na tese, segundo o pesquisador, não
implicam em alterações nos transmissores e isso
é bom. Se as emissoras tivessem que trocar ou adaptar
os transmissores, o problema seria enorme, porque é
onde se encontra o maior investimento já realizado.
"O que vai ocorrer é a entrada de novas versões
de aparelhos de TV no mercado, com a incorporação
de antenas inteligentes. Os fabricantes com certeza deverão
produzir novos aparelhos com essas antenas adaptativas",
sinalizou.
É preciso ficar claro que o receptor
é a parte mais barata do processo e que o preço
cairá bastante com o passar do tempo. "Há
cerca de um ano, não havia televisores com conversor
integrado e as pessoas eram obrigadas a adquirir o set-top-box.
Hoje já se compra a TV com o receptor integrado. Nos
próximos anos, novos aparelhos com essas características
já estarão no mercado. Essa evolução
não cessará", afirmou Fernandes.
No que diz respeito à telefonia dos
celulares de terceira geração, quando se menciona
a banda larga de transmissão, fala-se em cerca de 1
megabits/segundo de velocidade. Certamente, nos próximos
anos, as pessoas estarão exigindo bandas bem superiores,
talvez de até 100 megabits/segundo. O vídeo
que se assiste hoje no celular é de baixa definição,
no entanto, em breve as pessoas assistirão TV de alta
definição no celular e vão querer baixar
vídeos com alta velocidade. "É possível
que essas melhorias obtidas apenas com antenas inteligentes
nem sejam suficientes para essas novas tendências",
comparou.
Perspectivas
Fernandes observa que o momento atual é
bastante interessante, se pensarmos que a janela de tempo
entre desenvolvimento de pesquisa e produto final diminuiu
sensivelmente. Em um prazo de um ano já é possível
se obter um protótipo de laboratório e, depois
de seis meses, ele pode ser colocado em escala de produção.
"Entre um e dois anos é possível se obter
um equipamento em escala industrial", assegurou.
Fernandes esclarece que esses ganhos de produtividade
resultaram do avanço da tecnologia de software embarcado
e de hardware desenvolvido com prototipação
rápida, diminuindo significativamente o tempo entre
o projeto de pesquisa e o produto final. Esse cenário
está permitindo aos laboratórios de universidades,
como o ComLab, a se especializarem nessa área para
desenvolver protótipos eletrônicos avançados
para as empresas, coisa inimaginável há alguns
anos. "É uma mudança de paradigma que está
valorizando o trabalho realizado no meio acadêmico,
pois alia resultados teóricos e aplicados em sistemas
eletrônicos inteligentes", ressaltou o pesquisador.
Publicação
Tese: "Técnicas de Equalização
e Antenas Adaptativas para Sistemas CDMA e OFDM"
Autor: Marcelo Augusto Costa Fernandes
Orientador: Dalton Soares Arantes
Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
(Feec)
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