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Do pau-rosa à petroquímica
Técnica aumenta
o poder de análise de
amostras voláteis em até dez vezes
O
desenvolvimento e o aperfeiçoamento de uma interface
chamada "modulador criogênico" junto a um
cromatógrafo a gás convencional permitiu ao
químico Marcio Pozzobon Pedroso aumentar o poder de
análise de amostras voláteis em até dez
vezes. Chamada de cromatografia gasosa bidimensional abrangente
- também conhecida como GC x GC -, a técnica
é capaz de revelar compostos que sempre estiveram presentes
nas amostras, porém, nunca haviam sido observados.
A sua principal aplicação está na caracterização
de amostras diversas, em especial óleos essenciais
e voláteis de plantas aromáticas e medicinais,
além da petroquímica. "Em um equipamento
convencional, por exemplo, uma amostra de gasolina apresenta
entre 150 e 200 compostos diferentes. Já na cromatografia
bidimensional é possível observar entre 500
e mil compostos", afirmou Pedroso.
O modulador construído no IQ foi baseado
em um modelo de quatro jatos (dois quentes e dois frios) e
instalado em um cromatógrafo a gás com detector
por ionização em chama. Um software escrito
em ambiente LabVIEW foi responsável pelo controle das
válvulas solenóides e pela digitalização
do sinal analógico do detector. Pedroso explicou que
os resultados obtidos com a utilização do protótipo
foram comparados com os da cromatografia convencional. Como
esperado, a análise por cromatografia bidimensional
apresentou maior detectabilidade e poder de separação
quando comparada com a tradicional. "Entre construção,
aperfeiçoamento e transformação do cromatógrafo
convencional em bidimensional gastamos cerca de R$ 15 mil",
ressaltou. Apenas como comparação, um equipamento
convencional custa no mercado atualmente R$ 150 mil e um bidimensional,
R$ 300 mil.
Pedroso lembrou que o projeto de desenvolvimento
de um equipamento para cromatografia bidimensional foi oferecido
a ele justamente no momento que no exterior já havia
esse tipo de produção e nenhum de natureza comercial.
E no Brasil, prosseguiu, não havia grupo de pesquisa
algum que trabalhasse com essa técnica. Antes dele,
outro aluno de doutorado de Augusto, Carlos Henrique de Vasconcelos
Fidelis, já havia trabalhado no desenvolvimento da
interface para a transformação do cromatógrafo.
"Resolvi então continuar a pesquisa e aperfeiçoar
o sistema, gerando esse produto que aumenta muito a capacidade
de análise da técnica convencional", disse.
Durante seu trabalho de pesquisa, Pedroso
utilizou o modulador na análise de diversas amostras,
especialmente a fração volátil da polpa
de abacaxi fresco e também desidratado. Os voláteis
foram extraídos por microextração em
fase sólida e a identificação dos compostos
foi feita por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria
de massas e avaliação dos índices de
retenção. A identificação dos
picos obtidos na cromatografia bidimensional foi realizada
comparando-as com os índices de retenção
e dos perfis cromatográficos previamente obtidos pela
cromatografia convencional. "Em uma amostra de voláteis
de frutas, às vezes os compostos responsáveis
pelo aroma da fruta estão em quantidade muito pequena,
não sendo alcançados pela cromatografia tradicional",
comentou.
Para o pesquisador, os setores que serão
mais beneficiados com essa nova técnica são
a perfumaria e a petroquímica. No caso da perfumaria,
Pedroso contou que em muitos casos misturas de plantas e óleos
são feitas para se chegar a um determinado aroma, sem
conhecer todos os compostos presentes. A partir da bidimensional,
argumenta Pedroso, será possível enxergar mais
compostos e dosar melhor as proporções. "Normalmente,
os compostos que estão em quantidade muito pequena
é que dão o cheiro mais importante do perfume",
disse.
Para a petroquímica isso será
muito importante, uma vez que problemas sem soluções
podem ter um desfecho favorável. Por exemplo, no caso
do querosene e outros derivados petroquímicos, a técnica
convencional não é capaz de separar todos os
compostos presentes na amostra. "A GC x GC permite aprofundar
o nível de compreensão e ver qual o componente
que está causando problemas", avaliou.
Segundo o orientador da pesquisa, professor
Fábio Augusto, coordenador do Laboratório de
Cromatografia Gasosa (LCG) do Instituto de Química
(IQ) da Unicamp, seguramente é o primeiro laboratório
no Brasil que desenvolveu esse equipamento e cuja aplicação
é intensiva. "Essa é uma contribuição
para o próprio progresso da técnica, além
do desenvolvimento de recursos humanos qualificados e de suas
aplicações", garantiu Augusto.
Outras aplicações
Farmacêutico
e aluno de pós-doutorado de Augusto, Stanislau Bogusz
Júnior está trabalhando com amostras biológicas.
Essa proposta surgiu através de uma parceria com pesquisadores
do curso de Psicologia da Universidade de São Paulo
(USP), onde eles avaliavam a acuidade visual de recém-nascidos.
Lá, eles constaram a necessidade de avaliar o estado
nutricional dessas crianças e compará-lo com
o estado nutricional de crianças portadoras de problemas
de acuidade visual. Atualmente, Bogusz desenvolve metodologias
que procuram simplificar o consumo de tempo e reagentes, principalmente
no preparo de amostras para análise por GC x GC de
perfil lipídico de pessoas.
Segundo o pesquisador, existe hoje um termo
na literatura bastante utilizado que é lipidômica.
Já ouvimos falar bastante de metabolômica, cujo
processo envolve todo o metabolismo, e a lipidômica
seria uma parte dela e que se encontra na fronteira de conhecimento.
O objeto inicial é verificar ácidos graxos poliinsaturados.
Os ácidos graxos ômega ajudam a prevenir uma
série de doenças e são importantes para
a integridade das membranas celulares. Uma criança
recém-nascida que durante a gestação
enfrentou restrição dietética como consequência
dos hábitos alimentares da mãe, poderá
vir a nascer desnutrida. Como o principal alimento é
o leite materno nos primeiros momentos de vida, se ele não
contiver esses nutrientes em quantidades adequadas a criança
pode estar em um estágio nutricional debilitado. E,
dessa maneira, acarretar problemas de visão.
"Procuramos uma aplicação
para essas metodologias de cromatografia utilizadas no laboratório,
especificamente para lipidômica. É importante
verificar quais são os ácidos graxos e em que
quantidade podem estar correlacionados com algum tipo de deficiência
visual", disse. Outro detalhe interessante é que
Bogusz trabalha com um método não invasivo.
A maioria das técnicas que existem, baseiam-se em coleta
de sangue e isso gera um impacto na mãe. "Procuramos
desenvolver um método muito mais simples que é
a coleta de amostras das células da parte interna da
bochecha dos recém nascidos com um cotonete",
explicou.
Pau-rosa
Depois de concluir o doutorado, o químico
Carlos Henrique de Vasconcelos Fidelis realiza o pós-doutoramento
no LCG analisando amostras de extratos de óleo essencial
da planta amazônica Aniba Rosaeodora ,ou "pau-rosa",
em colaboração com o professor Lauro Barata,
também do IQ da Unicamp. Bastante explorada para extração
de óleo essencial para aproveitamento na indústria
de perfumaria e cosméticos, é uma espécie
que se encontra na lista de extinção tanto do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) quanto da Convenção
sobre o Comércio Internacional das Espécies
da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção
(Cites).
Apesar de se encontrar no estágio inicial,
os resultados são bastante promissores. Fidelis observou
que, quanto à caracterização química
até o momento não há uma grande novidade,
no entanto o emprego da técnica sugeriu que árvores
mais jovens, com cerca de quatro anos, podem ser exploradas
comercialmente evitando, assim, a derrubada de árvores
com até 10 ou 20 anos de idade.
Mel
O contato com pesquisadores da Embrapa, do
Piauí, para fazer a certificação de vários
tipos de mel, seja da origem floral até do tipo de
abelha que produz o mel, proporcionou ao aluno de mestrado
Leandro Wang Hantao criar um protocolo não existente
no Brasil. Isso servirá para aumentar o valor do produto
e o controle de qualidade, principalmente nas exportações.
"Quando se consegue garantir que o mel é de uma
florada só, aumenta muito o valor de mercado",
garantiu Hantao.
Ele acrescentou que no equipamento por cromatografia
normal é possível encontrar cerca de 150 compostos
para fazer a certificação. Com a técnica
bidimensional, esse número aumenta para 2 mil compostos.
Muitos deles são minoritários, o que se atribui
facilmente à florada e ao tipo de abelha que está
sendo utilizada na produção. Um parâmetro
importante é que uma coisa é fazer análise
e interpretar resultados e outra é garantir que os
resultados sejam fidedignos, que não houve alteração
dos compostos durante a análise. "Este foi o enfoque
do meu trabalho. Vimos que estavam tendo formações
de compostos que não eram originais do mel durante
a análise", observou o aluno.
Uma técnica muito utilizada para caracterização
de aromas através da análise de voláteis
e semivoláteis é chamada de micro-extração
em fase sólida (SPME). Ela envolve manipulação
de temperatura em meio aquoso e quando se foge das condições
naturais do mel acontecem reações durante o
processo de extração, antes da análise.
O que pode acontecer é que muitos compostos irão
sofrer alguns processos químicos conhecidos como oxidação,
hidrólise e termólise. São compostos
que não estão presentes no mel, mas que foram
originados durante a análise. "Se a pessoa não
fizer um estudo antes, essas informações podem
ser usadas na certificação do mel e dessa maneira
podem passar um resultado não confiável para
os consumidores", contou Hantao.
Identificação
é fácil e confiável
A cromatografia gasosa bidimensional
abrangente (GC x GC) é uma técnica capaz
de separar os componentes de uma amostra complexa
em um plano de retenção, segundo suas
volatilidades e polaridades. É garantida pelo
emprego de duas colunas com mecanismos de retenção
diferentes, de maneira que as propriedades físicas
e físico-químicas das substâncias
analisadas, como ponto de ebulição e
polaridade, atuam de maneira independente durante
a separação nas duas colunas. Esta característica
representa uma grande vantagem para a análise
de misturas complexas contendo famílias de
compostos semelhantes. Esses compostos são
alinhados no plano de retenção, de acordo
com perfis bastante organizados e reconhecíveis,
tornando sua identificação muito mais
fácil e confiável.
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Artigos
Braga, Alice M. P. ; Silva, Maria A. ; Pedroso,
Marcio P. ; Augusto, Fabio ; Barata, Lauro E. S.. Volatile
Composition Changes of Pineapple during Drying in Modified
and Controlled Atmosphere. International Journal of Food Engineering,
v. 6, p. 12-12, 2010
PEDROSO, M. P.; Godoy, Luiz Antonio Fonseca
de; Fidélis, Carlos Henrique de Vasconcellos ; Ferreira,
Ernesto Correa ; Poppi, Ronei Jesus ; Augusto, Fabio . Cromatografia
gasosa bidimensional abrangente (GC x GC). Química
Nova, v. 32, p. 421-430, 2009.
Braga, A. M. P.; PEDROSO, M. P. ; AUGUSTO,
F. ; Silva, M. A. . Volatiles Identification in Pineapple
Submitted to Drying in an Ethanolic Atmosphere. Drying Technology,
v. 27, p. 248-257, 2009.
Tese: "Projeto e avaliação de um modulador
criogênico para cromatografia gasosa bidimensional abrangente"
Autor: Marcio Pozzobon Pedroso
Orientador: Fabio Augusto
Unidade: Instituto de Química (IQ)
Fonte de financiamento: Fapesp e CNPq
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